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SÃO PAULO – O principal índice de ações da bolsa, o Ibovespa, fechou o primeiro trimestre com o pior desempenho desde 1995. Nestes três meses de negociações, o índice caiu 7,55%, mas isso não quer dizer que ninguém lucrou com a bolsa neste começo de ano. Muitas ações, aliás, chegaram a subir mais de 50% no mesmo período.
Mas para interpretar esses dados é preciso fazer uma ressalva. Algumas dessas ações possuem uma liquidez baixíssima, isso é, o número de negócios é muito reduzido e o investidor pode ter grandes dificuldades de se desfazer do papel.
Por esse motivo, algumas ações que se valorizaram mais de 50% foram excluídas da lista, como é o caso da Celulose Irani (RANI4, +51,99%, R$ 1,55), que foi negociada em apenas dois pregões no primeiro trimestre. Da mesma forma, a Petropar (PTPA4, +60,85%, R$ 73,99) e as ações ordinárias da Biomm (BIOM3, +75,82%, R$ 8,00) não foram negociadas na maioria dos pregões, sendo que o dia mais movimentado para elas teve apenas 7 negócios.
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Apesar do fraco número de negócios, as ações da Excelsior (BAUH4) foram mantidas na lista por conta do aumento no volume nos últimos dias do trimestre, quando chegaram a ser registrados 30 negócios com os papéis em um pregão. As demais ações já apresentam um volume mais forte, apesar de se distanciar daquelas que fazem parte do Ibovespa.
O grande destaque do primeiro trimestre do ano fica por conta da Agrenco (AGEN11). A ação se valorizou em 141,6%, disparada a maior alta da bolsa, em meio às tentativas de retomar suas atividades normais.
Agrenco: enfim, um retorno à normalidade?
O volume de negócios também chamou atenção. Conhecida por ser uma ação com poucos negócios na bolsa, o número de operações com seus papéis aumentou consideravelmente, principalmente após fevereiro, superando na maioria das vezes os 1.000 negócios. No pico, em 27 de fevereiro, as ações AGEN11 tiveram 7.562 negócios, superior inclusive ao de algumas ações do Ibovespa, o principal índice de ações da bolsa.
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No final de janeiro a empresa entrou com um processo contra a União por danos materiais, morais, lucros cessantes e perdas de oportunidades ocasionados pela Operação Influenza, conduzida pela Polícia Federal em 2008.
A operação investigava crimes como lavagem de dinheiro, fraude em licitações e práticas cambiais ilegais. Nestas operações, a Polícia Federal apreendeu documentos da empresa, que por conta disso não apresentou as informações trimestrais à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A Agrenco também teve suas ações suspensas e entrou em uma espiral de notícias negativas desde então. Mas em dezembro de 2010 o Tribunal Regional Federal interrompeu a operação por ilegalidades nas investigações.
A empresa atualmente está em recuperação judicial. No final de março a Agrenco informou aos acionistas que os complexos industriais Alto Araguaia e Caarapó não podem ser vendidos como unidades produtivas isoladas, protegendo os interesses do grupo no processo de recuperação.
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Mas o principal fato da empresa está no retorno às atividades operacionais. Eles dizem que têm até o final de abril para apresentar o plano de recuperação judicial. Esse plano, diz a empresa, “refletirá os requisitos necessários à viabilização de receita por parte das sociedades em recuperação judicial, possibilitando, assim, a recuperação de suas atividades e o atendimento às obrigações assumidas”.
O aumento no volume de negócios da Agrenco começou no final de janeiro, quando a empresa anunciou que o governo de Minas Gerais concordou em inserir a companhia no Prodeic (Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso). Com isso, a empresa conseguiu rever multas retroativas a 2008 e deu mais um passo para retomar as atividades produtivas.
Mas o salto no número de negócios, quando passou acima de 1.000 negócios por dia sistematicamente, aconteceu a partir de 13 de fevereiro. Nesta data a empresa revelou ter assinado um contrato com a Delta, para que esta preste assessoria e represente a empresa na CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).
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Eles também anunciaram que a unidade de Alto Araguaia já possuía mais de 70% de todas as adequações exigidas para gerar e comercializar energia elétrica. Segundo a empresa, “as adequações faltantes são poucas e de fácil solução”.
CCX: na espera da despedida
Logo em seguida, a segunda maior alta da bolsa no primeiro trimestre foi da CCX (CCXC3), com uma história mais fácil de se entender. Isso porque depois do fechamento de 21 de janeiro, quando a ação valia R$ 3,13, o controlador Eike Batista anunciou que iria fechar o capital da empresa ao preço de R$ 4,31 por ação, isso é, um valor 37,7% acima do que ela valia no mercado naquele momento. Vale lembrar que a ação havia disparado nos pregões anteriores, sendo que há menos de uma semana do anúncio o papel chegou a ser negociado abaixo dos R$ 2,00.
Em processos como esse, o natural é o preço da ação convergir para o valor que o controlador vai pagar para tirar a empresa da bolsa. O laudo de avaliação sugeriu que o preço considerado justo seria entre R$ 3,83 e R$ 4,24, mas Eike manteve a proposta para fechar o capital acima deste valor. O leilão de fechamento de capital deverá acontecer em 3 de junho.
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Biomm: do esquecimento aos holofotes
Mas, entre as empresas de baixo valor de mercado, o caso da Biomm (BIOM4) é o mais curioso. Até a metade de fevereiro a ação praticamente não era negociada na bolsa, mostrando o mesmo preço do fechamento de 2012.
Toda a movimentação com o papel começou depois de um relatório da Fama Investimentos. No documento, a gestora disse que, apesar da alta de 226% vista no ano passado e da baixíssima liquidez, esse seria apenas o “início do reconhecimento de um ativo com muito valor”.
Em apenas alguns dias, entre 18 e 21 de fevereiro, a ação da empresa passou de R$ 5,00 para R$ 9,89, isso é, uma valorização de 97,8%, com um volume também atípico para o papel, que chegou a 142 negócios em apenas um dia.
Questionada pela BM&FBovespa por conta das oscilações com seus papéis, a Biomm disse que a única novidade era de fato esse relatório da Fama Investimentos.
Com a queda da liquidez para os padrões históricos dela nos pregões seguintes, a empresa propôs o desdobramento de suas ações, para reduzir o preço e aumentar a liquidez, mas a bolsa lembrou a Biomm que isso poderia gerar um movimento especulativo então a companhia voltou atrás e desistiu do desdobramento.
Confira as demais ações que se valorizaram acima de 50% nos três primeiros meses deste ano:
Veja as maiores altas do 1º trimestre na Bovespa:
Empresa | Ação | Variação | Preço (R$)* | Número de negócios no trimestre | |
---|---|---|---|---|---|
*Preço na cotação de fechamento do último pregão do trimestre | |||||
Agrenco | AGEN11 | 141,66% | 0,58 | 98.534 | |
CCX Carvão | CCXC3 | 72,19% | 3,53 | 34.387 | |
Biomm | BIOM4 | 62,60% | 8,13 | 787 | |
Excelsior | BAUH4 | 58,62% | 6,90 | 184 | |
Trisul | TRIS3 | 57,44% | 4,55 | 3.720 | |
Bematech | BEMA3 | 52,23% | 8,79 | 25.035 | |
Profarma | PFRM3 | 51,72% | 22,00 | 10.336 |
Excelsior: números surpreendem até a empresa
Pouco observadas pelos investidores, outras ações também tiveram um bom ano. A Excelsior, por exemplo, não divulgou nenhum fato relevante ou comunicado ao mercado durante todo o primeiro trimestre, a não ser por relatórios de posição consolidada dos diretores e conselheiros.
O número de negócios e a forte valorização vieram nos últimos dias do trimestre e aconteceram em meio à divulgação do resultado trimestral da companhia do setor alimentício, que desde julho de 2012 é controlada pelo Grupo Marfrig (MRFG3).
Ela anunciou um lucro praticamente duas vezes maior em 2012 que no ano anterior, aos R$ 4,1 milhões. Segundo o próprio balanço da Excelsior, “a companhia superou suas expectativas orçadas, alcançando recordes de produção e vendas, culminando com resultados positivos muito superiores em relação ao exercício anterior”.
Trisul: noticiário pouco movimentado
A incorporadora Trisul também trouxe poucas novidades ao mercado, sendo que a ação não trouxe grandes mudanças no número de negócios durante os primeiros meses do ano. Vindo de um bom desempenho desde o final do ano passado, a Trisul já animou os investidores na prévia operacional, levando a ação à maxima desde setembro de 2011.
No final de março a empresa revelou um lucro líquido de R$ 11,7 milhões no quarto trimestre de 2012, valor 330% superior ao do mesmo período do ano anterior, apesar da receita líquida cair 20%. A diferença esteve, basicamente, no resultado financeiro.
Em comentário da administração, a empresa ressaltou que o ano de 2012 foi marcado por uma “maior consolidação de sua mudança de foco operacional, aprimorando seus controles internos, concentrando sua atuação geográfica, empenhando-se na entrega dos empreendimentos e na promoção das vendas de unidades em estoque, bem como na obtenção de melhores resultados operacionais”.
Bematech: ano marca reformulação do negócio
A Bematech, que se autointitula como líder em soluções de teconologa para o varejo e o setor hoteleiro, também apresenta um bom desempenho desde o início do ano. Um de seus pregões mais movimentados de 2013, de 15 de janeiro, aconteceu um dia depois da empresa anunciar uma remodelação da unidade de software. Essa mudança fez com que a empresa tivesse um novo modelo de atuação, de modo a atender o mercado de modo verticalizado.
A unidade passou a ser dividida em quatro frentes: varejo, loja, restaurante e hotel, sendo que ela também fez diversas mudanças na estrutura organizacional para se ajustar a esse modelo.
Profarma: 2013, um ano de compras
Enquanto isso, as ações da Profarma tiveram um bom desempenho em meio a um noticiário concentrado em aquisições. O melhor pregão do ano, de 18 de janeiro, quando o papel saltou 13,0%, foi impulsionado depois da empresa comprar a CSB Drogarias. Esse movimento simbolizou a entrada da empresa no ramo varejista de produtos farmacêuticos. O valor de aquisição foi de R$ 87 milhões.
Também no fim de janeiro a empresa anunciou a compra da rede carioca de farmácias Tamoios. Por R$ 104 milhões, ela atingiu uma participação de 50% na rede e a ação subiu mais 12,0% somente naquele pregão.
Em entrevista ao InfoMoney, o diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, Max Fischer, a intenção da empresa não é concorrer com as grandes varejistas do setor, mas entrar no segmento de varejo sem perder o foco em outras áreas da empresa. Cerca de duas semanas depois, a Profarma anunciou uma joint venture Nutrilatina, para a formação da atacadista Supernova.