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SÃO PAULO – Quem tem acompanhado o noticiário econômico recentemente deve ter percebido que as bolsas de todo o mundo têm acumulado fortes perdas nos últimos pregões – nos 30 dias encerrados nesta quinta-feira (20), o Ibovespa recuou 16,05% -, trajetória que com toda certeza acabou decepcionando os investidores com capital aplicado no mercado acionário.
Contudo, para quem manteve suas apostas no mercado cambial, os últimos dias devem ter sido motivo de comemoração. Nesta mesma quinta-feira, o dólar comercial chegou ao seu sexto dia consecutivo de alta, fechando cotado a R$ 1,861 na venda – maior patamar desde 8 de fevereiro deste ano. Nos mesmos 30 dias de queda do Ibovespa, a moeda norte-americana acumula ganhos de 6,1%.
Aliado a isso, existe o fator Europa. As incertezas sobre o que ocorrerá com os países problemáticos do velho continente e o risco de contágio para outras economias da região dão a entender de que a solução desse problema não deverá surgir tão brevemente, o que favorece a manutenção desse rali do dólar, tendo em vista que o caráter conservador da moeda faz dela uma opção interessante de investimento em momentos de instabilidade.
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Porém, o pequeno investidor que tem intenção de aproveitar esse horizonte favorável para a moeda norte-americana, existe um certo empecilho. O mercado cambial não é tão receptível como o acionário, já que no Brasil a compra física de moeda estrangeira só pode acontecer se for para alguma finalidade específica – uma viagem ao exterior, por exemplo -, sendo proibido adquirir divisas internacionais como forma de poupança.
Minicontrato pode ser o caminho…
Contudo, essa restrição não é o “fim da linha” para o pequeno investidor interessado em apostar no dólar.O mercado futuro, que consiste no compromisso de comprar ou vender determinado ativo numa data específica e por um preço previamente estabelecido, pode ser uma porta de entrada interessante. E uma ferramenta originada do mercado futuro pode acabar sendo bem mais atraente aos olhos – ou ao dinheiro – desse investidor: o minicontrato.
Basicamente, um minicontrato possui as mesmas características dos contratos de mercadorias e futuros negociados no segmento BMF da bolsa. No entanto, ela se diferencia pelo seu tamanho reduzido – um minicontrato futuro equivale a um décimo do tamanho de um contrato padrão de dólar (US$ 5.000).
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Assim, o capital necessário para ingressar nesse mercado diminui, puxando no mesmo sentido os seus custos operacionais e a margem necessária para manter em custódia na CBLC (Comissão Brasileira de Liquidação e Custódia), o que acaba sendo visto com bons olhos pelos investidores de menor porte.
…mas ceticismo prevalece entre os analistas
Tendo em vista um cenário favorável para mais valorização do dólar e existindo ferramentas que possibilitam ao investidor ingressar nesse mercado, então nada mais sensato do que migrar parte do seu capital da bolsa para o minicontrato futuro de dólar, certo? Na visão dos especialistas do mercado, as coisas não são tão simples assim.
O analista da Walpires Corretora, Leandro Martins, destaca primeiramente que a forte alta relatada nos últimos dias pode acabar resultando numa forte desvalorização do dólar em um curto espaço de tempo, sugerindo utilizar os minicontratos de dólar apenas para formar uma posição de hedge (proteção).
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“Ou seja, caso você possua dívidas em dólares ou irá necessitar da moeda no futuro, você poderá comprar dólares, através de minicontrato de dólar, para não incorrer ao risco de uma súbita desvalorização de nossa moeda, assim você estará protegido do risco”, disse Martins. Apesar de uma possível queda do dólar no curto prazo, o analista da Walpires afirma que “é possível aproveitar a alta da moeda”.
Alta volatilidade = alto prêmio
Uma característica preponderante no mercado brasileiro – sobretudo no cambial – é a volatilidade. Da mesma forma que o dólar acumulou fortes ganhos sequenciais, uma trajetória oposta na mesma intensidade pode acabar ocorrendo com uma percepção positiva dos mercados em relação à economia mundial, o que fica evidente no ponto de vista apresentado por Martins.
Por conta da forte possibilidade dos preços no mercado doméstico sofrerem fortes alterações para cima ou para baixo, o prêmio embutido no minicontrato acaba sendo relativamente alto, explica o colunista do Portal InfoMoney, Waldir Kiel. Com a taxa de risco alta, o preço a ser pago para formar seu hedge acaba sendo mais caro, diz Kiel.
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Puxadas de margem e “sangue frio”
O colunista também alerta o pequeno investidor de que o minicontrato tem ajuste de margem – ou seja, se a cotação do dólar estiver muito baixa no presente, o titular do minicontrato terá que colocar uma margem adicional para garantir a posição.
Mas, por conta da sua característica volátil, uma queda mais abrupta da moeda pode ocasionar em fortes puxadas de margem no investidor. “Ele não é como um ativo que você simplesmente compra, paga o preço e carrega. Se ele [o dólar] sofre uma queda, você tem que ajustar a sua margem do contrato e, caso você não tenha como cobrir essa posição, acaba saindo antes do fim da operação”, ressalta Kiel.
Voltando a tocar na questão volatilidade, o colunista finaliza destacando que, para operar no mercado cambial, é preciso ter muito “sangue frio” para não se abalar com as fortes – e constantes – variações do dólar, aconselhando ainda um bom caixa para não ser surpreendido com uma provável puxada de margem.