Ibovespa cai 2,10% e fecha abaixo dos 120 mil pontos após maior rali do pós-pandemia: só correção explica queda?

Analistas veem um movimento de correção natural do mercado após o índice atingir a máxima em quase dois anos na véspera, mas há fatores a monitorar

Lara Rizério Vitor Azevedo

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As últimas sessões foram positivas para o Ibovespa, que atingiu na véspera a sua maior cotação nominal de fechamento desde 9 de agosto de 2021, aos 122.560 pontos.

Conforme destaca o TradeMap, o rali do Ibovespa no acumulado do ano até a sessão da véspera foi o maior no pós-pandemia, com o índice ficando apenas 6,28% abaixo da maior pontuação histórica nominal, atingida em 7 de junho de 2021, com o índice fechando a sessão a 130.776 pontos.

Entre o início em 23 de março de 2023 e até 26 de julho de 2023, o benchmark da Bolsa registrou valorização de 25,16% em 86 pregões.

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Porém, já nesta quinta-feira (27), o benchmark da Bolsa  teve uma forte baixa, com pressão principalmente para as ações de commodities, como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3;PETR4). O índice fechou próximo da sua mínima, com queda de 2,10% perdendo os 120 mil pontos, nos 119.989 pontos. As perdas se intensificaram com a baixa das bolsas americanas na reta final do pregão.

O dia negativo, para analistas, contudo, ocorre principalmente por um movimento de correção do índice.

“A Bolsa tem queda, mas não é relevante para a maioria dos papéis. A queda é mais forte para Petrobras, mas é uma baixa para o próprio setor de petróleo como um todo, enquanto a estatal também repercute o relatório de produção do segundo trimestre após a alta recente dos ativos (…) Também há uma cautela com o resultado financeiro da Vale, então é natural que tenha esse movimento, além da baixa do minério”, avaliou Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, em comentário durante a sessão.

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No radar das blue chips, a Vale divulgará seu balanço após o fechamento, enquanto o minério de ferro teve um recuo de 1,91% em Dalian.

Ainda no radar, os investidores da Petrobras esperam pela nova política de dividendos, que deve ser definida na próxima sexta, e também de olho se haverá reajustes de preços de combustíveis pela empresa com o avanço recente dos preços do petróleo. Nesta quinta, o brent avança cerca de 1%, por volta de US$ 84 o barril, e se aproxima das máximas desde abril em meio ao cenário de aperto da oferta ofuscando possíveis altas de juros pelo Fed.

“As ações ordinárias da Petrobras enfrentaram uma queda significativa no Ibovespa, após a divulgação dos dados operacionais do segundo trimestre pela estatal de petróleo”, fala Carlos Honorato, professor da FIA Business School.  “O mercado se preocupa que os dados operacionais podem impactar os dividendos da Petrobras e também representar riscos políticos, devido à nova estratégia de precificação de combustíveis da empresa”.

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Honorato ainda chama atenção para o fato de que os preços da gasolina e do diesel estão se distanciando “perigosamente dos valores praticados internacionalmente”,  o que pode representar um risco real para a comunicação do Banco Central do Brasil (BCB), que planeja iniciar uma redução das taxas de juros na próxima semana.

As ações do setor financeiro também tiveram queda, pesando no índice, diante da continuada preocupação com a possibilidade de o governo acabar com os juros sobre capital próprio (JCP) pelo governo.

Marco Monteiro, analista da CM Capital, avaliou à Reuters que o movimento do Ibovespa é natural após altas recentes. “É mais a correção de mercado, realização de lucros”, disse ele, observando que os últimos meses do Ibovespa vêm sendo positivos. Só em junho, o índice teve avanço de 9% e, neste mês, acumula ganhos de cerca de 2,5%.

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De acordo com Monteiro, essa correção é “saudável”, abrindo espaço para investidores tomarem posição em alguns papéis que subiram forte recentemente.

Pedro Canto, também analista da CM Capital, apontou ver um movimento de realização e que segue com visão positiva para o índice, sendo uma realização técnica para a baixa do índice. “Hoje também divulgação da inflação ao produtor, que veio abaixo das projeções, sendo mais uma indicação de que a inflação está convergindo para a meta, o que dá mais fôlego para o Banco Central cortar os juros, que é iminente”, ponderou.

O Ibovespa teve forte alta nas últimas sessões principalmente impulsionado por empresas de commodities metálicas, como Vale, com alta de cerca de 10% no mês, diante de promessa de estímulo econômico na China, e ao fortalecimento da perspectiva de corte de 0,5 ponto percentual na Selic na semana que vem.

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Além disso, cabe ressaltar, a percepção de risco diminuiu com a elevação do rating soberano do Brasil pela Fitch Ratings, na véspera, com o país ficando a dois passos de atingir o grau de investimento pela agência de rating, o que deve impulsionar o investimento no país.

Fatores a monitorar

No exterior, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram 0,67%, 0,64% e 0,55%, com uma baixa que se acentuou no final do pregão.

Investidores por lá seguem repercutindo nos mercados a decisão da véspera do Federal Reserve de elevar os juros em 0,25 ponto percentual, amplamente em linha com o esperado. Embora tenha deixado a porta aberta para mais ajustes na taxa de juros, boa parte do mercado ontem passou a precificar que o ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos tinha acabado, o que puxou os mercados.

Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) também atendeu às expectativas do mercado ao subir suas taxas de juros em 0,25 ponto nesta quinta-feira.

Por outro lado, cabe ressaltar que o dado acima do esperado do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, que cresceu ao ritmo anualizado de 2,4% no segundo trimestre de 2023 (ante projeção de alta de 1,8% da Refinitiv), pode gerar mais incerteza sobre se este realmente é o fim do ciclo de altas pelo Fed. Ainda nessa linha, os pedidos de seguro-desemprego caíram para 221 mil na semana encerrada no dia 22 de julho, enquanto a estimativa era de 235 mil.

Os treasuries yields para dez anos subiram 15,3 pontos-base, a 4,004%, e os para dois anos, 9,9 pontos, a 4,926%.

Além disso, conforme destacou a Reuters, a queda em Wall Street foi impulsionada pela notícia de que o Banco do Japão permitirá que as taxas de juros de longo prazo subam, o que impulsionou os rendimentos dos Treasuries, interrompendo assim a mais longa sequência de altas do índice Dow Jones desde 1987.

O jornal Nikkei noticiou que o banco central japonês manterá seu limite de 0,5% para o rendimento dos títulos do governo de 10 anos, mas discutirá permitir que as taxas de juros de longo prazo subam acima desse nível em certo grau. A Reuters confirmou que o banco central pode fazer pequenos ajustes para estender a vida útil de sua política de controle de rendimentos.

No noticiário doméstico, atenção ainda para as últimas movimentações em importantes cargos econômicos, em meio a rusgas dentro do governo sobre a escolha de Marcio Pochmann para presidir o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com a visão de que o economista possui um perfil intervencionista, o que rendeu críticas à sua nomeação.

Nesta quinta, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que acatará o nome que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicar para o comando do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que se reunirá, quando a agenda permitir, com Pochmann.

Tebet disse que Lula lhe informou que faria uma escolha pessoal para o IBGE, subordinado ao Planejamento, e disse que não faria julgamento prévio sobre Pochmann, que atualmente é o presidente do Instituto Lula. Ela assegurou que a discussão com o economista será técnica e que ele será tratado como um técnico.

Gabriel Costa, analista da Toro investimentos, destaca a indicação como um dos fatores para a alta dos DIs. Os contratos para 2025 ganharam 1,5 ponto-base, a 10,62%, e os para 2027, quatro pontos, a 10,21%. As taxas dos DIs para 2029 e 2031 subiram cinco e sete pontos, a 10,61% e 10,86%.

O dólar ganhou força frente ao real, com alta de 0,65%, a R$ 4,758 na compra e a R$ 4,759 na venda.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.