Argentina combate mineração de criptos com energia até 400% mais cara

Algumas empresas do setor tiveram aumento de 400% em suas contas de eletricidade em março

CoinDesk

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A BitPatagonia, uma das maiores empresas de mineração de criptomoedas registradas na Argentina, foi recentemente atingida por um aumento de 400% em sua conta de eletricidade. A alta foi resultado de uma mudança de política que afeta os mineradores de lá, disse o diretor industrial da startup, Pablo Holmes, ao CoinDesk.

A mina da BitPatagonia fica em Tierra del Fuego, arquipélago no extremo sul do país, onde o clima frio suporta até 22 empresas de mineração de moedas digitais, disseram fontes locais à reportagem. Mas o governo não está satisfeito com o consumo de energia das mineradoras. Assim, em janeiro, impôs um aumento de 170% na tarifa de eletricidade no atacado do local, visando especificamente os mineradores de ativos digitais.

O governo da Argentina, alertado pelo crescimento da atividade na região, iniciou um processo de investigação em dezembro para identificar empresas de mineração e medir seu consumo de energia O objetivo, disse na época, era fazer os mineradores pagarem o “preço da energia equivalente ao custo de abastecimento, pois é injusto que paguem o preço de um utilizador residencial”.

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O governo da Argentina paga grandes subsídios a diferentes entidades que fornecem eletricidade e gás, reduzindo a taxa final para os contribuintes. Em fevereiro, o orçamento para subsídios à energia aumentou 207% em relação ao mesmo mês de 2021, de acordo com um relatório publicado pela Associação Argentina de Orçamento e Administração Financeira Pública (ASAP).

O país, ao mesmo tempo, também está ficando sem dólares para continuar importando energia, já que suas reservas atingiram uma média de US$ 38,5 bilhões em março, segundo o Banco Central da nação. As reservas internacionais são de US$ 1,65 bilhão, e as reservas líquidas estão negativas em US$ 1,9 bilhão, informou recentemente a empresa de investimentos local Allaria.

Os subsídios à eletricidade são uma grande oportunidade para os mineradores que aproveitam as tarifas residenciais, mas não para as mineradoras registradas, que têm que pagar as taxas industriais.

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Além disso, acrescentou Holmes, as medidas de controle tomadas pelo governo não incentivam empresas e residentes que mineram criptomoedas fora do radar da agência de arrecadação de impostos, a AFIP, a se registrarem no governo.

“Ninguém vai dizer que está minerando ilegalmente em parques industriais, escritórios ou residências só porque recebeu uma carta de um órgão público. É como responder a uma carta do banco central perguntando se seu endereço funciona como uma ‘caverna’ [termo usado para identificar casas de câmbio ilegais] para comprar e vender dólares”, acrescentou.

Moisés Sorloza, secretário de Energia de Terra del Fuego, disse recentemente que o governo da província recolheu dados de fazendas registradas, mas também reconheceu que existem “micromineiros” trabalhando em casas que ainda precisam ser regulamentadas em todo o país.

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Ele acrescentou que devido ao sistema elétrico “obsoleto”, a região “de forma alguma pode sustentar o aumento de empreendimentos de alto consumo de energia”.

Por causa do aumento das taxas e ao que Sorloza chama de concorrência desleal entre mineradores registrados e ilegais, a BitPatagonia está considerando deixar a Argentina para estabelecer operações em outros países, disse Holmes, sem especificar um destino.

Santiago Miranda, CEO da CriptoLab, uma empresa de mineração de ativos digitais registrada na província central de Córdoba, disse que o negócio paga a tarifa de eletricidade integral, mas que a atividade ainda é “muito lucrativa”.

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No entanto, ao falar sobre mineração ilegal e tentativas regulatórias, ele alertou que “ninguém vai fornecer informações a menos que haja algum benefício para o contribuinte”. A CriptoLab está trabalhando com diferentes governos provinciais para criar uma “estrutura amigável que não seja apenas para coleta”.

Preços baixos, custos altos

De acordo com a organização de verificação de dados Chequeado, com sede na Argentina, uma conta residencial mensal de 300 quilowatts-hora (kWh) custa US$ 5 em Buenos Aires – nos Estados Unidos, o valor médio seria de US$ 30.

Essa diferença atrai um grande número de argentinos a recorrer à mineração de criptomoedas e obter renda em moeda estrangeira, em meio a constantes desvalorizações do peso argentino e a uma inflação anual superior a 55%.

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Os amigos e empresários Manuel e Pedro – que pediram que seus nomes completos não fossem revelados – não são registrados como mineradores oficiais. Há cinco meses, eles investiram US$ 16.000 para minerar Ethereum (ETH) no centro de Buenos Aires, capital da Argentina.

“Com um dia de mineração, cobrimos o excedente que recebemos na tarifa mensal de eletricidade da atividade”, disseram eles, detalhando que recebem uma renda de US$ 30 por dia.

Em relação aos possíveis impostos ou restrições de energia, os mineradores falaram que não estão muito preocupados, pois “as regulamentações ficarão atrás da tecnologia, que está sempre um passo à frente”.

Manuel e Pedro esperam recuperar o investimento em 15 meses. Embora até agora eles tenham mantido seus ganhos em criptomoedas, eventualmente eles planejam converter os ativos em moeda fiduciária em uma das casas de câmbio ilegais conhecidas como “cavernas”, que negociam a taxa não oficial do dólar e geralmente estão escondidas atrás de negócios tradicionais, como joalherias.

Lucía, que também pediu que seu sobrenome não fosse divulgado, começou a mineração em janeiro e encontrou um aumento alarmante em sua tarifa de eletricidade. Apesar dos subsídios, o custo triplicou de US$ 8 para US$ 25.

“Quando recebi a conta de luz, fiquei preocupada. Mas estou confiante no investimento de longo prazo”, disse ela ao CoinDesk. Depois de escolher minerar Ether, ela agora planeja recuperar seu investimento inicial de US$ 4.800 em oito meses.

Lucía, Manuel e Pedro levantaram preocupações em relação à mudança no protocolo do Ethereum, mas ainda esperam recuperar seus investimentos iniciais antes que o ETH 2.0 entre em ação.

Um nicho mainstream

A mineração doméstica de criptomoedas se tornou tão comum na Argentina que até influenciadores de mineração apareceram por lá, explicando aos novatos como adquirir máquinas e fazer os investimentos necessários.

Valeria Frías tem mais de 12.000 seguidores no Instagram e recebe consultas diariamente. Nas horas vagas, ela monta, configura e vende equipamentos de processamento para mineração de criptomoedas.

Valeria fez um investimento inicial de US$ 20.000 em quatro equipamentos e recuperou o valor em nove meses minerando ETH. Ciente da mudança de protocolo, ela agora planeja começar a minerar outras moedas, como Ravencoin (RVN), Conflux (CFX) ou Ethereum Classic (ETC).

“Temos uma carga tributária enorme e as pessoas estão sempre procurando uma atividade que lhes dê rentabilidade para poder manter seu padrão de vida, vencer a inflação ou evitar cair abaixo do nível de pobreza”, disse ela.

Entre seus clientes, destacam-se adultos com mais de 80 anos, que buscam gerar uma renda extra para a aposentadoria – o salário mínimo era de US$ 153 em abril.

Para os aposentados argentinos, a mineração pode ser uma atividade ainda mais lucrativa do que para o resto da população, já que o governo nacional pode subsidiar entre 60% e 100% das contas de luz.

As baixas pensões não são o único problema da economia argentina. De acordo com o último relatório do Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC), 37,3% da população está abaixo do índice de pobreza.

“Muitas pessoas se voltaram para a mineração de criptomoedas porque é como uma fuga”, concluiu Valeria.

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