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O peso argentino interbancário foi desvalorizado nesta segunda-feira (14) em 18%, a 350 por dólar, após a vitória do candidato ultraliberal Javier Milei nas eleições primárias para eleger candidatos às eleições gerais de outubro.
“Enfatizamos que Milei, durante a campanha, falou em dolarização, apesar de alguns de seus assessores terem assegurado posteriormente que uma medida semelhante não poderia ser implementada logo após a posse”, disse o Grupo SBS.
O influente mercado de câmbio informal da Argentina, conhecido como “blue”, caiu acentuadamente para uma nova mínima recorde. A moeda, num dia de operações reduzidas e controles oficiais para desvalorizar sua cotação, caiu para 685 por dólar, uma queda de 11,7% em relação a sexta-feira.
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“Milei conseguiu vantagem e por isso o mercado vê que não vai ter uma desvalorização, e sim uma dolarização, então vai ter uma demanda maior por cobertura”, disse a economista Natalia Motyl. “Dias de reação exagerada do mercado de câmbio estão chegando”, apontou.
A mínima do peso informal era de em 610 unidades, atingida na quinta-feira.
Além de desvalorizar o peso em quase 18% e fixar a taxa de câmbio em 350 por dólar até a eleição geral de outubro depois da vitória de Milei, a autoridade monetária decidiu também elevar a taxa básica de juros em 21 pontos básicos, para 118% ao ano. Há uma “desvalorização a 350 (pesos) e taxa de câmbio fixada até as eleições (gerais) e (foi decidido) aumento da taxa de juros de 21 pontos (básicos).
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A pressão sobre a moeda e o mercado de ações da Argentina aumentou nas primeiras horas desta segunda, depois que o candidato libertário de extrema-direita que deseja também desmantelar o banco central e venceu inesperadamente as eleições primárias.
Milei abalou a corrida rumo às eleições presidenciais de outubro ao superar em muito as previsões obtendo cerca de 30% dos votos, com mais de 90% das urnas apuradas.
Os mercados apostavam num bom desempenho dos candidatos mais moderados, que tiveram uma noite ruim numa votação que serve de ensaio geral para as eleições nacionais a serem realizadas dentro de dois meses.
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O resultado enfraqueceu a cotação do peso argentino nos populares mercados paralelos nesta segunda-feira e afetou também os títulos, que subiram nas últimas semanas.
Enquanto isso, os principais índices das ações argentinas tiveram movimentos distintos.
O Global X MSCI Argentina ETF, negociado nos EUA, fechou em baixa de 2,90%, a US$ 45,15, baixa que se seguiu nas negociações pós-mercado.
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Já o principal índice de ações S&P Merval abriu com perdas, de 3,5%, para 463.471 pontos, mas fechou com ganhos, de 3,44%, a 496.792 pontos, em uma sessão de forte volatilidade.
O banco de investimentos JPMorgan projetou “uma pressão crescente sobre a taxa de câmbio, o que resultaria em um fosso cada vez maior entre o câmbio paralelo e o câmbio oficial”, segundo nota do analista Diego Pereira.
O banco norte-americano recomendou manter o “peso do mercado” nos títulos do governo argentino, já que as perspectivas financeiras existentes “se deteriorarão ainda mais”.
Em um contexto de anos de crise econômica, os mercados argentinos estão instáveis há muito tempo.
Após um resultado semelhante nas eleições primárias de 2019, os títulos e a moeda entraram em colapso e continuam com problemas, com o peso afetado por controles de capital que o governo não conseguiu desfazer.
A terceira maior economia da América Latina tem lidado com uma grave crise econômica com inflação elevada e queda das reservas do banco central. As reservas brutas da entidade chegam a US$ 23,8 bilhões, mas as reservas líquidas, descontadas as obrigações, ultrapassam um saldo negativo de US$ 8 bilhões, segundo analistas privados.
A vitória no domingo de Milei, um economista cantor de rock, adiciona um fator desconhecido adicional que pode afetar o sentimento do mercado, embora isso possa ser atenuado pelo fato de que ele ainda enfrenta uma dura luta em outubro e um provável segundo turno em novembro, o que testará sua capacidade de conquistar mais eleitores.
O Goldman Sachs disse em uma nota antes da eleição que Milei apoia mais “propostas políticas radicais”, incluindo dolarização e cortes drásticos de gastos, levantando alguma incerteza devido à falta de uma máquina política estabelecida.
O Bradesco BBI também apontou esperar uma reação negativa do mercado, já que os resultados do PASO aumentam o nível de incerteza sobre o novo presidente da Argentina, diferentemente do cenário esperado pelo mercado onde a coalizão Juntos por El Cambio (JxC), conservadora, mas mais moderada, conquistaria a grande maioria dos votos (acima 35%). Pelos resultados preliminares, a direita ganharia espaço no Congresso, e a capacidade de organização entre JxC e La Libertad Avanza (LLA), de Milei, seria fundamental e necessária para manter o otimismo do mercado, que é altamente incerto, embora provável na visão da casa (Javier Milei sabe que precisaria do apoio da coalizão JxC em um eventual governo).
“Apesar da derrota de Patricia Bullrich e JxC, achamos que [a coalizão] ainda é bastante competitiva, porém, altamente dependente de seu desempenho nos próximos dias, principalmente nos debates presidenciais (1º e 8 de outubro). Por outro lado, o atual ministro da Economia, Sergio Massa, foi o perdedor da noite junto com a coligação União pela Pátria UxP”, aponta.
“Acreditamos que a economia argentina continuará se deteriorando nas próximas semanas, assim como o peso argentino, impulsionado por possíveis medidas expansionistas de um ministro da economia que precisa recuperar seu apoio eleitoral, além da surpreendente vitória de Javier Milei, que defende as propostas mais radicais (mas mais claras e objetivas) como ajuste fiscal de 15% do PIB, liberalização do mercado de câmbio, dolarização e extinção do Banco Central”, avalia o BBI.
Por último, mas não menos importante, o banco acredita que o mercado pode começar a flertar com Javier Milei se ele conseguir construir um discurso indicando sua capacidade de organizar o Congresso com o JxC, embora seja difícil determinar isso antes dos resultados de 22 de outubro.
Para vencer no dia 22 de outubro, um candidato precisa atingir 45% dos votos ou 40% e uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo. Se não houver um vencedor absoluto, como parece provável, uma votação entre os dois principais candidatos ocorrerá em novembro.
(com Reuters)