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Apesar das perdas recentes, o Ibovespa conseguiu emplacar seu terceiro mês seguido de alta, acumulando ganhos moderados de 0,46% em setembro. O mês foi marcado pela interrupção do ciclo de aperto monetário no país, com o Banco Central mantendo a taxa Selic em 13,75% ao ano na última reunião, realizada há pouco mais de uma semana. Também foi mês de corrida eleitoral, com pesquisas e declarações de candidatos influenciando no desempenho de algumas empresas da Bolsa.
As construtoras encabeçaram a lista de maiores altas do índice. Com dois meses seguidos de deflação, as margens de lucratividade das empresas do setor ficam menos pressionadas. Os papéis também responderam às projeções mais otimistas para a economia brasileira, de inflação em queda e PIB mais forte que o previsto inicialmente. Para completar, a manutenção da Selic depois de 12 altas seguidas trouxe o sentimento de que a taxa vai começar a cair em algum momento do ano que vem, deixando a situação mais favorável para financiamentos.
Foi um outro mês difícil para empresas de commodities e exportadoras. Se por um lado a Vale (VALE3) acumulou alta de 11,68% no período, Petrobras amargou perdas, com PETR3 caindo 11% e PETR4 recuando 10,32%. Se aqui os juros pararam de subir, no exterior o ciclo de aperto monetário começou a ficar mais agressivo e os temores de recessão derrubaram as matérias-primas e ações do segmento. Além disso, a perspectiva de uma interferência na política de preços da companhia, caso o candidato favorito nas pesquisas presidenciais seja de fato eleito, foi uma pressão negativa extra para os papéis.
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Ainda assim, a Petrobras passou longe de entrar na lista das cinco maiores baixas do Ibovespa em setembro, lista em que aparecem frigoríficos, uma empresa de turismo e uma reincidente – que já havia fechado agosto entre as maiores quedas do índice.
Maiores altas
Cyrela (CYRE3): alta de 29,59%
Diversas casas elevaram recomendação para a ação da construtora em setembro. No Credit Suisse, a avaliação passou para outperform (desempenho acima do mercado). O preço-alvo para R$ 21. Os analistas afirmam que a companhia esta melhor posicionada em relação a outras do setor em termos de vendas e retorno. Outro positivo, segundo o Credit, é a liquidez das ações.
O Santander elevou o preço-alvo de Cyrela de R$ 21 para R$ 22, reiterando recomendação de compra. A empresa continua sendo o top pick do banco no setor imobiliário. Os analistas do Santander afirmam preferir construtoras de baixa renda, pois há potencial para revisões positivas de lucro, e esperar um desequilíbrio entre oferta e demanda nos próximos 12 meses.
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O Itaú BBA também indica compra pra CYRE3 com preço-alvo de R$ 22. Na avaliação da casa, com os juros parando de subir, a empresa passa por um período de estabilização e a probabilidade de cancelamento de vendas ou descontrole de custos diminuiu.
MRV (MRVE3): alta de 22,83%
A ação já começou o mês de setembro em disparada, depois que a Caixa Econômica Federal (CEF) estendeu o prazo máximo para financiamento de imóveis do Programa Casa Verde Amarela (CVA), de 30 para 35 anos. Para os analistas, entre as construtoras focadas no segmento de baixa renda, a MRV deve ser o grande destaque do segundo semestre. A empresa prevê um maior número de lançamentos no período, com maior concentração agora no quarto trimestre.
As ações ordinárias da MRV continuam sendo as mais vendidas a descoberto da Bolsa brasileira segundo o XP Short Scout publicado na última terça-feira (27). Mas os analistas do Credit Suisse acreditam que é hora das construtoras voltarem ao radar dos investidores.
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“É muito cedo para confirmar se o cenário macro ficou positivo, mas se a tendência de queda nas taxas de longo prazo se acentuar, esperamos que as ações tenham uma reavaliação significativa e os investidores não vão querer perder”, comenta o banco, em relatório.
Cogna (COGN3): alta de 18,54%
As ações do setor de educação registram fortes altas no mês, refletindo notícias de mudanças regulatórias para alguns cursos, além de declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente líder das pesquisas de opinião, sobre programas de financiamento educacional.
O último mês de setembro também foi marcado por duas movimentações da acionista BlackRock. No dia 14, a gestora aumentou sua participação no capital social da companhia para 10,02%. No dia 23, reduziu a participação para 9,926%.
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Eztec (EZTC3): alta de 17,60%
Os papéis da construtora também foram impulsionados pelo cenário mais favorável ao setor, com a perspectiva de juros menores e o aumento de 30 para 35 anos no prazo de financiamento de imóveis do programa Casa Verde Amarela.
Yduqs (YDUQ3): alta de 17,38%
O analista do Morgan Stanley, Javier Martinez de Olcoz Cerdan, avalia que as empresas de educação na Bolsa brasileira estão baratas e em melhor posição para ganhar participação de mercado em relação aos grupos regionais. No entanto, acredito que o processo de recuperação deve levar de 2 a 3 anos para se concretizar.
Maiores baixas
IRB (IRBR3): queda de 32,92%
O papel, que já havia fechado o mês de agosto entre as maiores quedas do Ibovespa, começou setembro em baixa de mais de 10% após oferta subsequente de ações no valor de R$ 1,2 bilhão. A companhia vai utilizar os recursos provenientes da oferta para regularização dos indicadores regulatórios estabelecidos pela Susep.
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“A principal dúvida é se realmente o valor captado na oferta deverá resolver a situação ou veremos uma nova chamada de capital em um futuro não muito distante, caso a companhia continue queimando caixa, ficando novamente abaixo dos requisitos regulatórios mínimos exigidos pela SUSEP”, aponta Carlos Daltozo, head de research da Eleven Financial.
Também em setembro, a empresa alvo de ação civil pública por prejuízo aos acionistas. O Instituto Brasileiro de Cidadania (Ibraci) diz que o IRB ‘agiu com dolo ao divulgar informações mentirosas’ e que investidores não podem ser ‘obrigados a suportar o ônus de atos ilícitos’. Um acionista pede indenização de R$ 807,4 mil por perdas com queda dos ativos.
No último dia 21, a empresa reportou prejuízo de R$ 59 milhões referente ao mês de julho. No ano, o rombo é de R$ 351,7 milhões
O Safra tem recomendação neutra para o papel e reduziu, no mês passado, o preço-alvo de R$ 2,40 para R$ 1,70. A casa avalia que os resultados operacionais da empresa seguem negativos no curto prazo e vê incertezas sobre o nível de rentabilidade no horizonte de médio e longo prazos.
Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3): quedas de 24,63% e 18,99%, respectivamente
As ações dos frigoríficos brasileiros também começaram o mês de setembro em forte queda, na esteira da notícia de que a demanda por carne na China pode cair. Relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos aponta que a demanda por carne bovina deve cair 19% em 2023 na comparação ano contra ano, e a por carne suína, 8%.
“Em nossa opinião, a reação do mercado é irracional. Já esperávamos uma demanda menor da China devido à recessão global e, mesmo com desaceleração acima do esperado, o Brasil continuará sendo o principal fornecedor, portanto não prevemos grandes mudanças nas perspectivas”, explicaram os analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, da XP Investimentos. No entanto, os papéis da empresa não se recuperaram ao longo do mês.
São Martinho (SMTO3): queda de 20,62%
Os papéis da empresa do setor sucroenergético foram incluídos no Ibovespa no último dia 5 de setembro. Mas apesar de ganhar liquidez e visibilidade com a entrada no índice, a empresa teve a terceira maior queda da carteira no mês.
O UBS rebaixou a recomendação para o papel de compara para neutra e cortou o preço-alvo de R$ 39 para R$ 33. A piora no cenário de preços dos produtos vendidos pela companhia pesou na avaliação. A São Martinho também foi prejudicada pelo temor de recessão global.
O UBS também cortou as estimativas para o preço do etanol para o ano-safra 2022/2023. A projeção é de R$ 3,17 para o álcool hidratado e de R$ 3,54 para o anidro – valores 7% e 9% menores que os esperados anteriormente. Para o preço do açúcar, a estimativa caiu em 5%, para US$ 0,1839 por libra.
CVC (CVCB3): queda de 17,69%
Mesmo com a retomada de viagens turísticas, as empresas do setor continuam enfrentando sequelas deixadas pela pandemia e não foi diferente com a CVC. Ainda que alguns analistas considerem que a empresa está barata, o papel terminou setembro como a quinta maior baixa do Ibovespa.
Há menos de duas semanas, a empresa informou ao mercado que a avalia compra de startup com plataforma para pequenos agentes de viagens. A Ōner Travel têm operações no Brasil e em Portugal. A CVC quer ampliar canais de venda com aquisição.