Publicidade
SÃO PAULO – Se a frase “o erro é o melhor professor de nossas vidas” for levada ao pé da letra, 2016 trouxe conteúdo suficiente para transformar investidores em verdadeiros PhDs.
O Brexit, a eleição de Donald Trump, a derrota avassaladora do então primeiro-ministro Matteo Renzi na Itália e até as eleições no Brasil mostraram que 2016 foi o ano das surpresas no mundo político – e que impactaram fortemente o noticiário econômico. Contudo, mais do que as surpresas políticas, o ano que acabou mostra que nem sempre podemos jogar todas as nossas fichas em um determinado evento e que nunca é tarde demais para aprender com os erros – como nosso grande “guru” Luiz Barsi confessou.
O InfoMoney listou abaixo as 6 lições de ouro que aprendemos através da vivência com grandes personagens do mercado em 2016. Algumas delas você certamente não aprenderia em nenhuma faculdade de finanças. Confira:
Continua depois da publicidade
1. Não aposte em eventos binários
Se uma coisa ficou gritantemente clara em 2016 foi a falta de capacidade do mercado em prever os resultados e as consequências de eventos binários: investidores não apenas “quebraram a cara” sobre o que ia acontecer como também erraram sobre qual seria a consequência do cenário menos provável.
Esse ambiente de aparente tranquilidade após o dito “caos” pode se refletir em apenas uma lição para os investidores, principalmente o que estão dando os seus passos iniciais: não aposte em eventos binários. O gestor Marcio Appel, da Adam Capital – um dos melhores fundos multimercados de 2016 -, resumiu em entrevista ao InfoMoney em novembro como enfrenta esses momentos importantíssimos no mercado: “Da mesma maneira que eu não sei qual será o efeito final do Brexit na Inglaterra, não é claro para mim qual será o efeito final da vitória do Trump. O fato é que meu portfólio era equilibrado o suficiente para que na noite anterior eu ter ido dormir às 21h30 e só ver o resultado das eleições no dia seguinte. E é assim que eu gosto de enfrentar os eventos de curto prazo: se eles me tiram o sono, é sinal que minha carteira não está equilibrada”, resumiu Appel.
O guia “Onde Investir InfoMoney 2017” vem aí! Confira uma prévia clicando aqui
2. Confiança e expectativa não são a mesma coisa
A hoje ex-presidente Dilma Rousseff foi afastada em 12 de maio de 2016 e saiu da presidência em 31 de agosto, para a entrada definitiva de Michel Temer no mais alto cargo da República.
Continua depois da publicidade
Com a troca do governo, os índices de confiança da indústria, do empresário e de consumidor começaram a mostrar franca recuperação. Isso trouxe muito ânimo para os investidores, tendo em vista a forte correlação desses índices com as reviravoltas do Ibovespa. Conforme destacou a XP Gestão em relatório de julho, há uma relação positiva entre os indicadores de confiança e o desempenho das bolsas de valores nos mais diversos países do globo.
Contudo, a economia demorou a engrenar – aliás, ela decepcionou até mesmo aqueles que estavam céticos com a retomada do crescimento. Os dados de atividade e de consumo mostraram ainda uma tendência de declínio e os indicadores de confiança voltaram a cair. Em dezembro, o ICI (Índice de Confiança da Indústria) da FGV caiu 2,2 pontos, a 84,8 pontos, para o menor patamar desde junho.
O reflexo disso foi: a bolsa brasileira começou a precificar as dificuldades e a perder atratividade, e passou a cair mesmo com os EUA renovando máximas históricas.
Continua depois da publicidade
Em entrevista ao Comprar ou Vender especial para 2017 o head de mercados de capitais da Eleven Financial, Adeodato Volpi Neto apontou que a queda substancial dos índices de confiança que se está vendo agora é a transformação da expectativa em frustração. Ou seja, o mercado confundiu confiança com expectativa: o investidor passou a olhar muito esses indicadores que vinham se alterando substancialmente e que historicamente a economia acompanhava, uma vez que apontava que se voltava a investir e o ritmo tendia a seguir a mesma linha.
Contudo, o que ocorreu é que os agentes econômicos se mostraram tão “machucados” após os anos Dilma Rousseff, que passaram a confundir confiança com expectativa, afirma ele. “Ou seja, vai mudar, agora vamos. Mas o indicador de confiança estava refletindo a expectativa. Mas ainda com o lado da iniciativa privada, da economia real, colocando muito na conta do governo a solução de um problema que não era tão simples. A queda do indicador que estamos vendo agora é a transformação da expectativa em frustração”. Segundo Volpi Neto, agora, com o ciclo de queda do indicador, o patamar está mais razoável para antever o que terá em 2017.
3. Você nunca ficará rico fazendo o que todos estão fazendo
Nós temos uma má notícia para você que costuma olhar demais para os “tubarões do mercado”. Simplesmente, não siga a manada. Você pode perder grandes oportunidades e, inclusive, cometer aquele clássico erro que muitos proclamam não fazer mas que, na prática, acabam cometendo: “comprar na alta e vender na baixa”.
Continua depois da publicidade
O ano de 2016 foi repleto de exemplos neste sentido: quem pensou “fora da caixa” ganhou muito. A gestora de fundos JGP, que tem como principal sócio André Jakurski, contou ao InfoMoney como fez fortuna com os títulos da Petrobras, quando eles valiam muito pouco. E quem não se lembra da história de Wagner Caetano, que vendeu um apartamento para comprar ações da Gerdau em janeiro? A ação foi uma das que mais caiu na Bolsa em 2015 e operava na época no menor patamar desde 2003. Em 2016, contudo, os papéis saltaram impressionantes 144%. Quem também pensou fora da caixa foi o investidor Luiz Alves Paes de Barros, sócio-fundador da Alaska Investimentos, que comprou ações da Magazine Luiza em um momento de dificuldades da empresa e acabou surfando num rali de 1.000%. Porém, a sorte não é uma aliada para “fugir da manada”: é importante estudar muito e entender o que você está fazendo. Só assim, você poderá investir em ações “fora da caixa” – e também saber melhor onde errou, caso seus investimentos não sejam bem sucedidos.
4. Conforme-se: ninguém sabe o que acontecerá no mercado no futuro (e o futuro pode ser 1 semana)
Ninguém sabe o que acontecerá no futuro. Vimos isso um pouco no tópico I, em meio às surpresas nas votações nos EUA e na Europa, mas há muitos outros exemplos. Logo no comecinho de 2016, as projeções indicavam que o dólar ficaria extremamente valorizado, posicionado no mínimo perto de R$ 4,00 e havia até quem projetasse a divisa a R$ 5. Hoje, caminhamos para fechar o ano em R$ 3,30. Um exemplo bem emblemático disso é comparar as pesquisas do Focus no começo do ano com o que está se concretizando no final, com destaque especialmente para o dólar.
Além das perspectivas econômicas, muitos analistas se equivocaram sobre o que aconteceria com a política nacional. Em dezembro de 2015, logo após o então presidente da Câmara Eduardo Cunha acatar o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, a percepção geral dos especialistas era de que a petista sobreviveria ao impeachment. Contudo, março chegou, a delação premiada de Delcídio do Amaral ganhou as páginas de jornais, assim como os áudios revelados pelo juiz Sérgio Moro e a presidente perdeu – e muito – apoio no Congresso. Ou seja, é importante olhar para as previsões, mas o imponderável foi o fator determinante de 2016 – e promete ser ainda mais em 2017. Levando isso em conta, faça previsões – mas saiba que elas podem ser “jogadas no lixo” de um dia para o outro.
Continua depois da publicidade
5. Não leve a sério pesquisas de intenção de voto
Os últimos dias antes da eleição nos EUA foram marcados pela forte volatilidade no mercado, ainda mais após o acirramento da disputa entre Donald Trump e Hillary Clinton com o reinício das investigações do FBI contra a democrata. Contudo, boa parte das pesquisas e grandes previsores como o estatístico Nate Silver, do site FiveThirtyEight, erraram os seus cálculos. O Brexit também foi um caso notório de erro de predição.
As pesquisas também erraram na América Latina, com destaque para a Colômbia, com a população do país rejeitando o acordo de paz com as Farc por uma pequena margem, enquanto os levantamentos anteriores apontavam para a vitória do acordo. Olhando ainda mais para perto, as eleições municipais no Brasil também foram sintomáticas: quem sinalizou que o candidato tucano João Doria seria eleito no primeiro turno para a prefeitura de São Paulo? Além disso, outras surpresas rondaram as eleições de outubro: Curitiba, Belém, São Luís e Porto Alegre foram apenas algumas das capitais em que o primeiro turno não foi como os levantamentos desenharam.
Desta forma, não leve-os tão a sério, principalmente se sua decisão de investimentos tem como base estas previsões.
6. Até os “gurus do mercado” erram – e isso não é ruim
Você já deve ter visto algumas matérias sobre os maiores erros cometidos por um dos maiores investidores do mundo, o “Oráculo de Omaha” Warren Buffett. Porém, mais importante do que os erros em si, são as lições tiradas desses enganos – e como fazer para evitar que eles se repitam mais à frente. Aqui no Brasil, um dos maiores investidores da Bovespa, Luiz Barsi, revelou em novembro um de seus maiores arrependimentos: ter comprado ações da Oi. “Às vezes o dividendo alto pode seduzir o investidor, mas a falta de alinhamento da gestão pode levar a empresa a uma direção perigosa”, afirmou em artigo.
Esses erros nos levam a duas grandes lições: i) não se martirize quando errar; afinal, até mesmo os grandes erram e ii) por mais que a experiência lhe garanta sabedoria, ela não garantirá que você vai acertar 100% das vezes. Como diz o próprio Buffett: “se você não comete erros, não pode tomar decisões.”