As ações que despontam como oportunidades no cenário de queda dos juros, seja o corte em agosto ou em setembro

Em estudo, XP aponta ações que tendem a se beneficiar com queda das taxas, enquanto Morgan vê Iguatemi, Multiplan, BB e Vibra tendo espaço para subir

Lara Rizério Katherine Rivas

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Na quarta-feira (21) da semana passada, o Banco Central, em mais uma reunião de seu Comitê de Política Monetária (Copom), manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela sétima reunião consecutiva. Apesar da decisão ser amplamente esperada, a reação do mercado foi negativa, uma vez que o tom do comunicado que seguiu a decisão do Copom foi considerado “hawkish” (duro), mostrando cautela em relação à inflação, o que afetou as ações de construtoras e varejistas na sessão pós-Copom.

Após a decisão, o mercado passou a projetar como cenário mais provável uma redução da Selic só a partir de setembro, apesar de diversos analistas de mercado destacarem seguir com a visão de uma baixa já em agosto para a taxa básica de juros. 

“Acreditamos que a estratégia do Copom é manter as taxas por mais algum tempo ou iniciar um afrouxamento monetário gradual em breve”, avalia a XP, reiterando o cenário-base de previsão de corte de 0,25 ponto percentual em agosto. Já o Itaú seguiu com a visão de cortes só em setembro.

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Seja em agosto ou em setembro, analistas têm destacado o início do ciclo de baixa nas taxas como um importante catalisador para a Bolsa brasileira quando ele efetivamente acontecer.

Em estudo, a XP destacou que, ao analisar os ciclos de corte da taxa Selic nos últimos 20 anos, vê que uma estratégia simples de comprar a Bolsa no mês que o Banco Central inicia o ciclo de corte e segurar até o final do corte de juros trouxe retornos para a Bolsa e para o setor de consumo cíclico até 3 vezes superiores ao CDI.

Além disso, os maiores retornos da Bolsa ocorreram justamente nos ciclos mais agressivos de cortes de juros. Na média, para cada 1% de corte na Selic, o Ibovespa apresentou retornos de 7,2% historicamente.

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Ou seja, apesar do rali recente do Ibovespa, que levou o índice a superar os 120 mil pontos na última semana (que depois se seguiu de uma maior fraqueza do mercado), ainda há oportunidades na Bolsa.  “Esses dados indicam que, historicamente, a Bolsa brasileira não precifica o ciclo de cortes dos juros até que ele comece de fato”, apontam os analistas.

Setores e ações da Bolsa beneficiados

A XP também destacou em relatório, olhando para os últimos ciclos de queda de juros, quais  setores e ações podem ser mais impactados positivamente pelos cortes, observando o comportamento dos setores na bolsa brasileira durante várias fases de ciclos monetários ao longo das últimas duas décadas.

“Os resultados que obtivemos sugerem que, durante os ciclos de corte de juros no passado, os setores cíclicos, como Papel & Celulose, Mineração & Siderurgia, Varejo, Transportes e Bens de Capital, tendem a ter um desempenho melhor do que o resto do mercado”, avaliam.

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As ações de Small Caps também tendem a ser bastante sensíveis a juros, com o impacto já sendo sentido antes mesmo da queda dos juros efetivamente. Desde as mínimas atingidas pelo índice Small Caps em março deste ano, ele já sobe cerca de 32%. Enquanto isso, as ações Large Caps sobem cerca de 21% no período.

Já a XP apontou as ações com maior correlação negativa com taxas de juros de 1 ano, que tendem a se beneficiar em um possível ciclo de cortes de juros. Elas estão listadas abaixo:

Até onde vai o rali?

O Morgan Stanley aponta que as ações brasileiras sensíveis às taxas têm registrado fortes retornos desde o final de março, quando houve a apresentação da nova proposta do arcabouço fiscal pelo Executivo e que já impactou o mercado de juros futuros.

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Neste cenário, investidores questionaram o banco quais os nomes sensíveis a taxas de juros que ficaram para trás no rali recente e que ainda podem representar oportunidades no cenário de queda de juros que ainda vai se materializar.

Os estrategistas do Morgan destacaram Multiplan (MULT3), com a alta de 13% desde então, e Iguatemi (IGTI11), com avanço de 20%. Ambos os nomes possuem recomendação overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) pelo banco e ficaram atrás de seus pares sensíveis a taxas no período de análise.

Além disso, destacam também os nomes de Banco do Brasil, BBAS3) (com potencial com alta de cerca de 60% em relação ao preço-alvo do Morgan), e Vibra Energia ([ativo=VIBBR3], com potencial de alta de 26% em relação ao preço-alvo do banco) como integrantes do grupo sensível à taxa de juros no Brasil com uma classificação overweight e com os maiores upsides.

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Sem citar ações, o Goldman Sachs apontou que, apesar do rali recente, ainda há espaço para alta das ações cíclicas domésticas.

Já em um outro relatório recente específico sobre o setor de construção civil, em que destacou as suas preferências após o rali das construtoras (que também subiram de olho no cenário macroeconômico com a queda de juros), o Goldman Sachs apontou preferência por Cyrela (CYRE3). “Continuamos a ver a Cyrela como nossa escolha preferida no espaço, devido a um balanço forte, fundamentos fortes, maior relação histórica da ação com flexibilização de juros e expectativas de melhora das vendas devido à queda esperada das taxas”, avaliou.

Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, destaca ainda ver oportunidades em Kepler Weber (KEPL3), Randon (RAPT4), Plano&Plano (PLPL3), EzTec (EZTC3), Hidrovias do Brasil (HBSA3), Simpar (SIMH3) e Movida (MOVI3).

Sobre Kepler Weber e Randon, Queiroz vê o fator agronegócio puxando a demanda de ambas. Pelo lado da Kepler, aponta investimentos em armazenagem impulsionando o ritmo de vendas, enquanto as margens devem permanecer sólidas. Já em Randon, a parte de implemento, reboque e semirreboque também vai ser impulsionada pelo agro. “Vejo crescimento para as duas, boas margens, geração de caixa e crescimento muito forte em Kepler, um pouco menor para Randon”, aponta.

Para EzTec, vê a empresa disciplinada e prudente. Assim, em momento de alta de juros e inflação pesada, a companhia para de lançar, preservando seus fundamentos, o que leva o mercado a jogar para baixo o preço da ação. Mas, no ciclo reverso, é uma empresa que sabe muito bem executar o seu planejamento estratégico, tem o seu land bank muito sólido, então vai acelerar seus lançamentos e ritmo de vendas com margens muito fortes. Já Plano&Plano tem o “Minha Casa Minha Vida” reformulado e também o “Pode Entrar” (programa habitacional do município de São Paulo) que podem ajudar empresa. A empresa vinha em uma trajetória positiva nos últimos doze meses de gestão interna e deve acelerar mais.

Em logística, possui exposição em Hidrovias, Simpar e Movida. Hidrovias tem como base mineração e agro puxando demanda, enquanto a empresa está recuperando margens e acelerando o ritmo de crescimento. Simpar e Movida são beneficiadas em um cenário de queda de juros reduzindo o endividamento, levando a uma melhora da geração de caixa com queda de despesa financeira e ritmo de atividade brasileira impactando positivamente, principalmente Movida. Já Simpar é uma holding que também pode capturar Movida, JSL (JSLG3), Vamos (VAMO3), entre outras controladas.

Enquanto alguns analistas reforçam suas visões positivas para ações específicas, o JPMorgan rebaixou recentemente os papéis de duas companhias que tiveram forte desempenho nos últimos três meses, muito por conta do rali com a visão de queda de juros.

Na sexta, o banco cortou a recomendação para Yduqs (YDUQ3) depois de uma alta de 180%; já nesta segunda, foi a vez da Locaweb (LWSA3) ter a recomendação reduzida para neutra após um rali de 63%, avaliando que a alta recente dos ativos já foi suficiente, sem que haja muito espaço para novas altas.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.