Receita em alta, margens pressionadas: o que esperar dos balanços de Assaí (ASAI3), GPA (PCAR3) e Carrefour (CRFB3) no 3º tri?

Recuo do desemprego deve aumentar faturamento das companhias do setor mas inflação deve continuar cortando margens

Vitor Azevedo

(Divulgação)
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O Assaí (ASAI3) será a primeira rede do segmento de supermercados e atacarejo a divulgar, nesta quinta-feira (20), seu balanço do terceiro trimestre de 2022. De forma geral, especialistas esperam que as companhias do setor irão faturar mais entre julho e setembro, mas que também continuarão com suas margens comprimidas.

“A gente deve enxergar, nos balanços, uma recuperação do consumo. Tivemos, nos últimos meses, uma melhora importante da taxa de desemprego, que está caindo. Temos quase 100 milhões de pessoas ativas, o que é um recorde da série histórica”, diz Ana Paula Tozzi, diretora executiva da AGR Consultores, consultoria especializada em consumo.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada no final de setembro, o desemprego no Brasil caiu para 8,9% no trimestre encerrado em agosto – ante 13,1% no mesmo intervalo de 2021.

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“O primeiro setor beneficiado pelo recuo do desemprego é o de alimentos. É o varejo de supermercados”, comenta Tozzi, explicando que, pela lógica, quando as pessoas voltam a ter renda elas passam a gastar mais com alimentos e produtos sociais. “É claro, porém, que boa parte dessa renda está indo para quitar o endividamento básico das famílias, mas o varejo alimentar é o que recebe o primeiro efeito positivo.

Para o Assaí, a projeção da Refinitiv prevê uma receita de R$ 14,2 bilhões no terceiro trimestre, alta de 7,2% frente aquilo registrado no segundo trimestre. Para o Atacadão (CRFB3), que controla o Carrefour Brasil, o consenso é de um faturamento de R$ 28,4 bilhões entre julho e setembro, alta de 12,7%. Para o GPA (PCAR3), de R$ 10,3 bilhões, com crescimento de 2,76% na mesma base.

Inflação, contudo, ainda deve pesar nas margens

Para as margens, porém, as expectativas ainda não são tão otimistas. A perspectiva, ainda de acordo com o consenso da Refinitiv, é que a porcentagem do faturamento que irá virar lucro bruto do Assaí, por exemplo, irá recuar de 16,14% no segundo trimestre para 15,99% nesta temporada. A margem do GPA, para a Refinitiv, deve cair de 25,78% para 25,56%.

Apenas o Atacadão, que passa há algum tempo por uma reestruturação do seu negócio, após a compra do Grupo BIG, deve ver sua margem avançando – com o consenso esperando um salto de 18,07% para 19,48%.

“Para o terceiro trimestre, ainda não esperamos uma melhora das margens. A deflação, que se deu em julho, só deve trazer impactos no final de setembro. São momentos diferentes”, acrescenta Tozzi. “O impacto da inflação e dos custos de logística continuam. Os recuos destes devem ser sentidos mais no último trimestre de 2022”.

Apesar de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística estar apontando que os preços no Brasil estão caindo ininterruptamente desde julho, isso, para a especialista (e também para o consenso do mercado), deve refletir no balanço dos supermercados apenas no último trimestre.

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O Credit Suisse vai no mesmo caminho.

“A despeito dos primeiros sinais de deflação em algumas categorias, dois anos de inflação acumulada no setor de alimentação em casa (em quase 50% contra setembro de 2020) continuam a pavimentar um ambiente operacional ainda desafiador, marcado por atividades promocionais contínuas, cestas menores e consumo para baixo”, defendem os analistas da instituição suíça, chefiados por Marcella Recchia.

O banco, além disso, acredita também que as companhias não irão, por enquanto, surfar o aumento do Auxílio Brasil, que começou em agosto.

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“Vemos que as companhias varejistas ainda não viram os ventos favoráveis do recente aumento do Auxílio Brasil, que acreditamos ter sido usado principalmente para pagar dívidas, até então”, contextualizam.

José Eduardo Daronco, analista da Suno Research, relembra que, segundo o Instituto para Desenvolvimento do Varejo, o crescimento das vendas deve ser visto, principalmente, a partir de novembro.

Credit Suisse tem Assaí como favorito para o terceiro trimestre

Olhando negócio por negócio, os analistas do banco têm, como preferência, o Assaí no terceiro trimestre.

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Segundo eles, a projeção é que as vendas líquidas irão saltar 29,5% na base anual, refletindo um crescimento de vendas mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês) de 8,2% e também por conta da abertura de lojas – com a companhia tendo realizado 14 conversões e aberto uma loja no terceiro trimestre.

As margens, porém, devem seguir comprimidas.

“A atividade promocional contínua deve resultar em uma compressão da margem bruta de 60 pontos-base no ano, para 16,1% das vendas. Além disso, despesas de operacionais mais pesadas, antes de 26 conversões de Extra Hiper e 3 novas lojas esperadas, devem levar a uma contração subjacente de  80 pontos-base na margem de lucro operacional (Ebitda), para 7%”, diz o Credit Suisse.

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Apesar disso, a equipe de analistas do banco vê que o Assaí deve ser impulsionado por ganhos com juros capitalizados, trazendo um lucro líquido de R$ 224 milhões, contra R$ 257,8 milhões do consenso do mercado.

No GPA, o Credit destaca que, além da inflação, os gastos com o avanço do e-commerce também devem pesar nas margens, apesar de ajudarem a impulsionar as vendas líquidas em 11,1% no ano.

“Com tendências semelhantes de gastos gerais e administrativos na base trimestral, esperamos que a margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) fique em 6,8% das vendas, queda de 20 pontos-base no ano”, dizem os analistas.

O Credit não tem projeção de lucro para o GPA, já o mercado vê um prejuízo de R$ 6,6 milhões.

O Grupo Mateus (GMAT3), por fim, deve ter um forte crescimento de sua receita, de 36% na base anual – impulsionada pelas promoções de aniversário da companhia, que se estenderam por dois meses, e também pelo crescimento orgânico.

“Como resultado de maiores esforços promocionais, a margem bruta deve atingir o menor nível histórico do terceiro trimestre, em 22% das suas vendas, queda de 190 pontos-base no ano”, comenta o banco. “O forte impulso da receita, por outro lado, deve continuar ajudando a diluir os custos fixos, levando a uma margem Ebitda de 7,1% das vendas, alta de 30 pontos na base trimestral”.

A projeção do Credit para a receita do Grupo Mateus, no terceiro trimestre, é de R$ 5,9 bilhões, com margem bruta de 22% e lucro de R$ 225 milhões. Quanto ao lucro, a expectativa é de um saldo positivo de R$ 225 milhões. A Refinitiv não tem consenso para essa companhia no terceiro trimestre.