Bancos cortam estimativas para petroleiras juniores após imposto de exportação, mas seguem otimistas

Mesmo antes de empresas entrarem na Justiça contra o tributo, analistas já viam um impacto reduzido no setor por conta da duração de apenas 4 meses

Rodrigo Tolotti

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Após uma das semanas mais agitadas para o setor de petróleo e gás desde o início da pandemia, em março de 2020, as petrolíferas viram o noticiário acalmar, mas ainda com muitas dúvidas dos investidores sobre o que esperar agora, especialmente diante dos impactos da criação de um imposto de exportação com duração de quatro meses.

Com tanta novidade no setor, alguns bancos aproveitaram para revisar suas estimativas, citando os impactos principalmente na PRIO (PRIO3) e Enauta (ENAT3), as duas companhias brasileiras que exportam toda a sua produção de petróleo. Mesmo assim, os analistas ainda se mantêm otimistas.

A equipe do Itaú BBA manteve sua recomendações de compra para ambas as empresas, mas reduziu o preço-alvo de PRIO de R$ 54 para R$ 53 por ação (um upside de 53,76% sobre o preço de fechamento da ação no dia 8), enquanto o de Enauta foi mantido em R$ 21 (um upside de 65,62%). Já o BTG Pactual cortou o preço de PRIO de R$ 58 para R$ 54 por conta da maior percepção de risco.

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Vale ressaltar que mais um fator entrou no radar nesta quinta-feira (9) com a notícia de que companhias globais de energia e dois partidos políticos entraram na Justiça para barrar o imposto de exportação. Criado como forma de compensar parte da desoneração mantida sobre os combustíveis, o tributo já havia gerado polêmica, apesar do Ministério da Fazenda afirmar que a medida pode gerar R$ 6,6 bilhões aos cofres públicos.

Nos últimos dias, o InfoMoney apontou para o risco elevado de judicialização da matéria e a forte insatisfação do setor e da classe política com o movimento. Para críticos, o governo teria desvirtuado a aplicação de um tributo de caráter regulatório ao utilizá-lo para finalidade essencialmente arrecadatória, de recomposição de receitas do orçamento público.

Na semana passada, logo após a Petrobras reduzir o preço da gasolina e do diesel em 4% e 2%, respectivamente, foi anunciado que a isenção de impostos sobre os combustíveis foi parcialmente encerrada, o que levou à criação desse imposto de exportação, no valor de 9,2%. Ainda no noticiário do setor, o governo criou um grupo de trabalho para garantir a transparência na política de preços da Petrobras, que por sua vez foi solicitada a interromper seus processos de desinvestimento pelos próximos 90 dias.

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Impacto do imposto nas ações de PRIO e Enauta

Segundo os analistas do Itaú BBA, esse imposto de exportação deverá impactar os papéis PRIO3 em R$ 0,40 por ação e os ENAT3 em R$ 0,30, sendo mantido por quatro meses como previsto. A tributação pode ser estendida após esse prazo, o que a corretora não vê acontecendo em seu cenário base, e caso isso ocorra o impacto pode chegar a R$ 9 por ação para a PRIO e R$ 6 para Enauta.

“O imposto de exportação incidente sobre o petróleo bruto tem a possibilidade de prorrogação no final do período de quatro meses, o que poderia implicar em efeitos prejudiciais no longo prazo para o desenvolvimento do setor de exploração e produção no País”, avaliam os especialistas, que reforçam, porém, que a exigência de aprovação do Congresso e a expectativa de mudanças estruturais na política de preços da Petrobras, diminuem a chance dessa prorrogação.

Já a equipe do BTG ressaltou que a PRIO é uma “excelente empresa”, mas que o novo imposto tem um impacto significativo em seu negócio, e que se ele for prorrogado indefinidamente, a projeção é de uma queda anual no Ebitda da companhia de 12% e de R$ 10/ação no VPL.

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“Por enquanto, nosso cenário base é que os impostos durarão apenas 4 meses, tornando mínimos os impactos em seu Ebitda, uma vez que os resultados recentes do novo poço MUP5 irão compensá-los”, avaliam.

Além disso, o BTG aponta que, apesar da PRIO negociar com prêmio de múltiplo (valor da empresa, ou EV/reservas) em comparação com seus pares, a ação ainda oferece yields atraentes de geração de caixa de 10% em 2023 e 26% em 2024, o que combinado com a expectativa da corretora de mais surpresas positivas de produção à frente, faz da PRIO uma história robusta, apesar do risco caso o imposto de exportação seja prorrogado.

Já o BBA completa dizendo que “de um modo geral, avaliamos que as empresas ‘juniors’ ainda oferecem uma menor exposição a riscos legais e regulatórios em comparação com a Petrobras, mas este imposto de exportação inesperado acrescenta um novo elemento de risco para as empresas”.

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Outras petroleiras

Enquanto isso, a novela do imposto de importação não deve ter impacto relevante na PetroReconcavo (RECV3) e 3R Petroleum (RRRP3) porque ambas vendem toda sua produção no Brasil, avalia o time do BBA. Por outro lado, se o tributo for prolongado, isto pode acabar afetando a dinâmica dos preços domésticos do petróleo no Brasil.

Mesmo assim, o resto do noticiário agitado do setor tem impactado essas companhias. Como destaca o BTG, os papéis da 3R tiveram um desempenho abaixo do resto do setor na última semana porque os investidores estavam precificando o cancelamento da compra do Polo Potiguar (que foi vendido pela Petrobras, mas pode ter a operação cancelada).

“Embora reconheçamos que alguns investidores podem preferir esperar por atualizações da Petrobras sobre Potiguar antes de pensar em investir novamente nas ações da RRRP, é importante notar que as ações apresentam atualmente a maior assimetria do setor”, afirmam os analistas, que reduziram o preço-alvo dos papéis de R$ 93 para R$ 85, podendo cair para R$ 73 se a venda for realmente cancelada. No pior cenário, onde além disso tudo o imposto de exportação também é mantido, o preço vai a R$ 54.

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Por fim, para a PetroReconcavo o BTG diz que ela é a melhor opção para os investidores que buscam minimizar a exposição a eventos políticos recentes no setor. “Atualmente, a empresa tem aproximadamente 40% de sua receita vinculada ao mercado de gás e vende 100% de seu petróleo no mercado interno, com muitos contratos de compra em vigor até 2026”, explicam os especialistas.

“Como resultado, qualquer impacto de curto prazo nos resultados da empresa será mínimo”, concluem os analistas, elevando o preço-alvo de R$ 40 para R$ 43 e indicando o papel como a opção mais segura, sendo a sua top pick do setor.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.