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Os quatro maiores bancos do Brasil listados na Bolsa – Bradesco (BBDC4), Itaú Unibanco (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3) e Santander Brasil (SANB11) – divulgaram seus resultados do primeiro trimestre de 2022 observando uma tendência de alta da inadimplência, com elevações nas provisões para devedores duvidosos, ainda que com impactos diferentes em seus balanços.
Em entrevista ao InfoMoney, o analista Carlos Macedo, da Ohmresearch, afirma que “na pandemia, a expectativa inicial era de que o desempenho dos bancos seria um desastre com desemprego e inadimplência”. Mas medidas do Estado, como o auxílio emergencial e mudanças nas regras do Banco Central, facilitando renegociações de dívidas, geraram uma “bolha de adimplência”, diz o analista.
Após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre, os gestores dos bancos afirmaram que a alta da inadimplência deve levar o indicador de volta aos níveis históricos anteriores à pandemia. Agora, a questão é se o atual ciclo de crescimento econômico desacelerado, inflação e alta dos juros permitirá que essa expectativa se concretize, ou se a inadimplência atingirá níveis mais elevados, prejudicando os resultados e a valoração dos bancos.
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“Sabemos que economia não é uma ciência exata, é social, tudo pode mudar num futuro não tão distante. Muita coisa pode acontecer, levando a piora nas expectativas, no nível de emprego e maior dificuldade de pessoas e empresas honrarem os compromissos que têm”, afirmou o analista.
Em momentos de piora dos indicadores e elevação dos juros, os bancos tendem a reprecificar suas carteiras, um processo que demora de 12 a 24 meses. Neste cenário, bancos mais expostos a empréstimos de longo prazo, como o imobiliário, tendem a levar mais tempo para se adaptar, afirma.
Em um cenário geral, o Santander mostrou o maior impacto em meio à carteira de crédito mais arriscada, com o índice de inadimplência de 90 dias para pessoas físicas tendo uma alta de 0,4 ponto percentual na comparação trimestral, para 4%. Já o Banco do Brasil, com uma carteira vista como mais conservadora, apareceu na outra ponta, com impacto menor da inadimplência, o que inclusive tem levado a uma revisão de preferências dos analistas para o setor.
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Inadimplência e provisões dos bancos
Em destaque entre os resultados dos bancos, a inadimplência total superior a 90 dias do Santander Brasil foi a 2,9% no primeiro trimestre de 2022 (alta de 0,24 ponto percentual na base trimestral e de 0,77 na anual). Chamou a atenção a inadimplência entre 15 e 90 dias, que subiu significativamente de um trimestre para o outro: de dezembro de 2021 para março de 2022 foi de 3,5% para 4,2%. Na pessoa física, foi de 5% para 5,9%.
Com isso, as provisões para devedores duvidosos (PDD) ficaram em R$ 4,612 bilhões, com alta de 24,9% ante o trimestre anterior e 45,9% em relação ao primeiro trimestre de 2021. De acordo com o banco, o avanço da inadimplência está alinhado com a expansão da carteira de crédito, do mix de produtos e do cenário macro.
Para o Bradesco, a inadimplência acima de 90 dias atingiu 3,2% no 1T22, avanço de 0,4 ponto percentual na comparação trimestral e de 0,7 ponto na base anual. A PDD expandida foi de R$ 4,836 bilhões no trimestre, alta de 23,8% na comparação com igual trimestre de 2020, e de 12,9% frente ao 4T21.
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No caso do Itaú, o índice de inadimplência acima de 90 dias foi de 2,6% no primeiro trimestre de 2022, elevação de 0,3 p.p. na comparação com igual etapa de 2021 e de 0,1 p.p frente ao quarto trimestre de 2021.
As provisões para perda esperada do Itaú tiveram aumento de 1,7% em relação ao quarto trimestre de 2021 (4T21), atingindo R$ 5,293 bilhões. Frente ao primeiro trimestre de 2021, a alta foi de 19,34%.
No caso do BB, o índice de inadimplência acima dos 90 dias foi de 1,89%, queda frente ao patamar de 1,95% de um ano antes, e leve alta frente ao patamar do 4T21, de 1,75%.
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O BB elevou a despesa com provisões para crédito de liquidação duvidosa com menos intensidade do que a concorrência privada. A alta foi de 9,3% no comparativo anual, para R$ 2,758 bilhões. Frente ao quarto trimestre de 2021, houve queda de 27,2%.
Bradesco minimiza inadimplência e eleva guidance
Em teleconferência com analistas para apresentação de resultados no dia 6 de maio, o CEO do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, afirmou que o risco à inadimplência se concentra em operações com juros mais elevados, como cartão de crédito.
“Mais do que uma subida, há uma normalização da inadimplência em níveis mais elevados”, como antes da pandemia, disse.
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O executivo afirmou que todas as projeções indicavam essa retomada da inadimplência. Agora, há desaceleração de novos negócios e tomada de crédito, o que leva a crer que haverá crescimento do indicador ao longo do segundo trimestre e estabilidade em níveis anteriores à pandemia, destacou.
Lazari disse que o banco já viveu anteriormente cenários de elevação da taxa de juros, mas a volatilidade atual e a alta acentuada preocupam. O gestor afirmou, no entanto, que há uma melhoria em modelos de crédito e em análise, e disse esperar que o índice de inadimplência da carteira de crédito suba até 0,2 ponto percentual no segundo trimestre, estabilizando-se na segunda metade do ano.
O Bradesco revisou alguns números do seu guidance (conjunto de projeções e planos) para cima, prevendo mais receitas com crédito e tarifas e maior controle de despesas operacionais em 2022. E também elevando a expectativa para despesa com provisões.
Em avaliação sobre os resultados do Bradesco, o Morgan Stanley disse que o banco apresentou resultados fortes, impulsionados por crédito, margens mais altas e controle de custos. “Isso, acreditamos, ressalta a visão positiva da administração sobre a tomada de risco e a inadimplência”, avaliaram os analistas.
O guidance revisado para 2022 foi visto como “muito positivo” pelos analistas do Morgan, que agora esperam um crescimento da NII [margem financeira líquida] ajustada ao risco a 18% ano a ano, contra 9% antes. Segundo a análise do Morgan, pela nova guidance o lucro líquido deve ser de R$ 32,6 bilhões, alta de 24% na base anual, frente à estimativa anterior de 12%.
O Itaú BBA reagiu, no entanto, com menor otimismo, afirmando que a revisão para cima da NII do cliente no valor de R$ 5 bilhões poderia ser compensada pela menor NII do mercado.
Itaú vê instabilidade, mas mantém guidance
Em teleconferência de apresentação de resultados no último dia 9, Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú, afirmou que, apesar da alta recente, o custo do crédito e a taxa de inadimplência estão em níveis historicamente baixos. Assim como os gestores de outros grandes bancos, ele disse que a instituição financeira espera crescimento nos próximos três trimestres para patamares similares ou levemente abaixo daqueles da pandemia.
No balanço, o banco afirmou que o aumento do lucro se deve ao crescimento da margem financeira com clientes, impulsionado pelo maior volume de crédito e pela mudança de mix de produtos, com maior crescimento relativo de produtos com melhores spreads e crescimento das receitas com cartões, devido a maior faturamento.
Na teleconferência, Maluhy Filho destacou que o momento é volátil internacionalmente, com guerra da Rússia contra a Ucrânia, alta de juros nos Estados Unidos, lockdowns na China e inflação. Por conta desses fatores, os próximos trimestres devem compensar o resultado no primeiro de 2022, de modo que o desempenho no ano fique dentro do “guidance” divulgada em fevereiro, afirmou.
Pelas projeções para o ano de 2022, a carteira de crédito total deve crescer entre 9% e 12%. Já para margem financeira com clientes, o Itaú projeta crescimento de até 23,5% neste ano.
Segundo o executivo, houve contenção dos gastos com crédito durante a pandemia, que vêm sendo retomados, elevando a inflação. Neste cenário, há alta do crescimento com faturamento em crédito pelo Itaú, em linha com o mercado.
O banco destacou que está desacelerando concessões de crédito, após forte alta liderada por linhas de maior risco no primeiro trimestre incrementarem suas margens, mas também as provisões para perdas. “Perspectivas não são boas olhando para frente; a gente tem sido muito proativo na redução e nos ajustes de concessão”, disse Maluhy Filho.
Linhas como cartão de crédito (+41,5%), crédito pessoal (+26,8%) e para pequenas e médias empresas (+29%) lideraram a expansão de 13,9% em 12 meses até março da carteira de empréstimos, para R$ 1,03 trilhão.
Santander toma medidas para reduzir inadimplência
O aumento da inadimplência foi um ponto de preocupação de analistas de mercado após o balanço do banco, sendo tema recorrente durante a teleconferência de resultado.
No momento, o Santander afirma que as provisões refletem a realidade anterior, e já adotou ações que envolvem limitar o crescimento da carteira de crédito, que já cresce em um ritmo mais lento. Nos próximos trimestres, a diretoria diz que espera uma recuperação dos custos do risco e de crédito, como um reflexo das decisões já tomadas. As medidas devem ser refletidas no segundo semestre do ano.
Mario Leão, presidente do Santander, destacou não ver o índice de inadimplência do banco se deteriorando continuamente nos próximos trimestres. O indicador está mais alto, aponta, mas não quer dizer que seguirá piorando ininterruptamente.
Ao mesmo tempo, destacou: “ainda não vemos melhora, e a pergunta que a gente se faz é justamente quando será esse ponto de inflexão, inclusive nas projeções. Acreditamos que será ao longo deste ano”.
Angel Santodomingo, diretor vice-presidente financeiro, apontou que o banco está nos patamares de inadimplência pré-pandemia. “Não é uma explosão, uma situação de crise. É onde estávamos há dois anos”.
Contudo, há maior pessimismo com as ações do banco após os números divulgados no primeiro trimestre de 2022. Apontando que o Santander está em um período de alta da inadimplência, levando a uma retração dos resultados mais cedo do que o esperado, o Itaú BBA reduziu a recomendação para as units do banco após o resultado, de “neutra” para “venda”.
“Nossa previsão para o índice de inadimplência e despesas com provisão piorou em 6%, para R$ 20,6 bilhões,
com custo do risco de 4%. O índice de inadimplência de varejo do Santander já retornou aos níveis pré-pandêmicos e os indicadores de curto prazo sugerem uma pressão crescente sobre a inadimplência no início do segundo trimestre de 2022. Esperamos que o Santander termine o ano com um Índice de Inadimplência de 3,6%, acima do índice pré-pandemia de aproximadamente 3%”, apontam os analistas do BBA, levando em conta o mix de produtos de maior risco.
Os analistas reforçam ainda que o índice de cobertura total (que mede o colchão de provisões no balaço do banco) de 215% está se aproximando da média histórica de cerca de 200%, e não deve conciliar com a aceleração do índice de inadimplência. “Portanto, esperamos que os resultados piorem durante os próximos trimestres”, avaliam.
BB diz que opera com maior apetite por risco
Apesar do agravo das estimativas para o Santander, o BBA ressaltou que os motivos não se aplicam na mesma medida a outros grandes bancos. Entre eles, o Banco do Brasil, que tem a preferência da casa, sendo o menos sensível ao crédito de varejo, o que significa uma menor pressão no índice de inadimplência.
Os resultados do BB foram destaque entre os quatro bancos, em grande medida por conta da elevação da taxa de inadimplência em uma velocidade menor do que a da concorrência.
Em uma análise sobre o balanço, o Bradesco BBI também destacou que os números refletem a carteira defensiva do BB.
Os analistas do Credit Suisse ressaltaram possíveis revisões para cima nas estimativas para a companhia após o resultado.
Em teleconferência de apresentação de resultados no dia 12, Fausto Ribeiro, CEO do BB, afirmou que a carteira do banco é composta majoritariamente por clientes correntistas, o que permite entender melhor seu comportamento e ajuda a controlar a inadimplência.
Agora, o banco diz que está entrando no “mar aberto”, ou seja, ofertando produtos a clientes não correntistas. Em diversos momentos da conferência, Ribeiro e outros executivos do BB afirmaram que a alta da inadimplência frente o 4T21 ocorre em parte por conta desse apetite maior por risco em busca de rentabilidade.
Com o aumento da carteira e acréscimo do risco, nos próximos trimestres as provisões devem crescer, afirmou Ribeiro. Ele disse que, embora o banco tenha uma visão positiva quanto a reservas líquidas, as provisões devem voltar a níveis mais próximos daqueles anteriores da pandemia.
Questionada sobre a elevação da taxa de inadimplência no curto prazo, Paula Teixeira, vice-presidente de riscos e controles do BB, afirmou que esta é “muito volátil”, e que a taxa de recuperação, por outro lado, é alta. Segundo a executiva, o banco já tem medidas de cobrança para que as taxas de curto prazo não se arrastem para 90 dias. Sobre a elevação da inadimplência no cartão de crédito, ela disse que está dentro do esperado, e que o banco acompanha o indicador, realizando ajustes quando necessário.
Forni afirmou ainda que o BB caminha para uma rentabilidade próxima à dos bancos privados, e que o banco reafirma sua estratégia atual. Olhando para 2023, diz que a ambição é superar a rentabilidade dos bancos privados, mantendo a estratégia atual.
Após o resultado, o Bradesco BBI elevou a sua recomendação para as ações de equivalente à neutra para compra, destacando, entre outros pontos, a inadimplência menor e o índice de cobertura maior na comparação entre os bancos privados.
Além disso, o resultado com intermediação financeira aponta continua melhora, refletindo maiores spreads e ganhos de captação. “Como resultado, o Banco do Brasil deve entregar ROE [retorno sobre o patrimônio líquido] de 17,5% em 2022 e 17,3% em 2023 (acima dos 15,8% em 2021), reduzindo a diferença com pares privados para cerca de 2 pontos percentuais (contra cerca de 4 p.p. em 2021)”, avaliam os analistas.
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