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Big techs: o que esperar dos balanços das gigantes de tecnologia dos EUA e como os números podem afetar as ações

Analistas avaliam potencial revés no desempenho dos papéis, que dispararam este ano

Mitchel Diniz

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As grandes empresas de tecnologia começam a apresentar nesta quarta-feira (19) os resultados referentes ao trimestre encerrado no último mês de junho.

A temporada começa com os números da plataforma de streaming Netflix (NFLX34) e da fabricante de carros elétricos Tesla (TSLA34) – ambas vão divulgar balanços após o fechamento das Bolsas em Wall Street.

Mas é na próxima semana que as divulgações ganham fôlego. Na terça-feira (25), saem os números da Microsoft referentes ao quarto trimestre fiscal de 2023. Na próxima quarta (26), é a vez da Meta (M1TA34), dona do Facebook, e da Alphabet  (GOGL34), empresa-mãe da ferramenta de buscas Google, apresentarem seus resultados trimestrais. A divulgação da Amazon (AMZO34) está prevista para o dia 28 de julho e a da Apple (AAPL34), para 3 de agosto.

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Essas empresas encabeçaram as maiores perdas das Bolsas americanas em 2022. Este ano, contudo, estão entre as maiores altas de Wall Street e são as principais responsáveis pela recuperação do mercado acionário dos Estados Unidos, no momento em que o país enfrenta inflação alta, elevação de juros e temores de uma recessão.

“No ano passado, a pauta macroeconômica ficou muito forte na cabeça das pessoas, o que fazia todo sentido pela velocidade do aperto monetário nos Estados Unidos. Mas os fundamentos das big techs seguiram melhorando e continuam fortes agora em 2023. Os investidores voltam a olhar para o micro”, afirma João Rômulo Lima, sócio da Arbor Capital, gestora focada em investimentos no exterior.

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, avalia que os resultados das techs no primeiro trimestre não foram bons. “A expectativa era ruim, os resultados foram ruins, mas vieram ‘menos piores’ que o esperado”, afirma. Ele lembra que a temporada passada foi marcada por queda de lucros e crescimento de receitas abaixo da inflação. Para o segundo trimestre, a expectativa ainda é de desaceleração de lucros e de margens.

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“Mas aí vem aquela história da expectativa versus a realidade. Pode vir um resultado ruim, mas não tanto quanto se esperava e o papel catalisa”, diz Castro Alves.

O economista Guilherme Zanin explica que as grandes empresas de tecnologia costumam ser mais estáveis em termos de geração de caixa. A grande maioria delas têm receitas advindas de cobranças de mensalidades e possuem plataformas com custos fixos baixos. “Apesar dessas vantagens comparativas, ainda assim devemos ter contração de resultados”, afirma. “E como essas empresas estão negociando a múltiplos muito acima da média, resultados negativos são preocupantes”.

Zanin acredita na possibilidade de uma inversão, com o setor de tecnologia passando a sofrer mais do que os outros na Bolsa. “A expectativa é que techs não andem, enquanto as demais companhias na Bolsa americana avancem por estar com um valuation depreciado – ou que elas caiam, enquanto as outras ficam estáveis”.

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Lima, por sua vez, diz que a Arbor Capital segue otimista com o setor. Mas, admite que se os resultados vierem mais fracos, podem estremecer o sentimento positivo do mercado. “Pode ter uma redução do otimismo, mas nada como foi no ano passado”, ressalva.

Já o Itaú BBA segue otimista com o setor e prevê uma temporada de resultados positiva para as big techs. A casa também vê espaço para ações que dispararam de preço este ano continuar subindo. É o caso da Nvidia, empresa que atingiu a marca de US$ 1 trilhão no mês passado em valor de mercado e cujos papéis acumulam ganhos de mais de 200% no ano.

A companhia ganhou o status de desenvolvedora de semicondutores mais valiosa do mundo pela produção de chips usados nos principais modelos de inteligência artificial generativa. “O feedback tem sido forte, com analistas referindo-se à temporada de resultados como a mais forte em 30 anos”, diz o relatório do BBA. Assim, a casa espera que os números superem as expectativas do mercado.

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A Nvidia vai divulgar os resultados de seu segundo trimestre fiscal, encerrado em junho deste ano, no próximo dia 23 de agosto, após o fechamento do mercado. O consenso Refinitiv prevê que o lucro líquido reportado da companhia seja de US$ 4,209 bilhões, quase seis vezes superior ao registrado um ano antes. A expectativa é que a receita da companhia supere os US$ 11 bilhões.

“Se a empresa conseguir entregar o que está propondo, pode ser um bom investimento no longo prazo”, afirma Lima, da Arbor. A gestora não investe em Nvidia por achar que o papel está caro, mas não acredita que seja o caso de uma bolha.

Em relação a Microsoft, o BBA acredita que a empresa poderá surpreender com outro bom resultado, mas o investidor vai estar mais interessado em conhecer o guidance da companhia para o ano fiscal de 2024. O consenso do mercado prevê crescimento de receita da ordem de 11% para o período e expansão de 70 pontos-base na margem Ebit.

Há muita expectativa sobre a contribuição da inteligência artificial no horizonte de receitas da Microsoft, dado os aportes bilionários que a companhia vem fazendo na tecnologia.

Recentemente o BBA revisou para baixo suas previsões de lucro por ação da companhia, mas segue acima do consenso de estimativas. O preço-alvo da casa para ação da Microsoft é de US$ 401 no ano-calendário de 2024, ante US$ 333 em 2023.

“Após um rali decente para as ações este ano, ficaríamos de lado para os resultados, mas reiteramos nossa avaliação outperform para o papel”, escreveram os analistas.

O consenso Refinitiv prevê lucro líquido reportado de US$ 19,031 bilhões no quarto trimestre fiscal de 2023, encerrado no último mês de junho. Se confirmada, a cifra é 13,7% maior que a registrada um ano antes. A receita prevista para o trimestre é de R$ 55,456 bilhões.

Para a Meta, o principal ponto de atenção do resultado vai ser as receitas, aponta o BBA. Momentos de desaceleração econômica costumam impactar companhias que dependem de receita com publicidade, já que a demanda dos anunciantes tende a diminuir. Mas o BBA se mantém altista em relação ao papel da dona do Facebook. Avalia que a monetização do “Reels” passa por um momento construtivo e que a plataforma de anúncios Advantage+ está ganhando mercado que era do Google.

Mesmo com a valorização de 244% em relação ao menor preço histórico da ação da companhia, o BBA afirma que segue apostando na continuidade de alta do papel.

Pelo consenso Refinitiv, a Meta deve reportar lucro de US$ 7,501 bilhões no segundo trimestre de 2023. Para as receitas, a previsão é de US$ 31,1 bilhões.

O sentimento do BBA em relação a Alphabet é de cautela. Para os analistas, a companhia tem tido dificuldades em trazer novidades relevantes ou anúncios nas teleconferências e a sensação é de que a companhia tem muito a perder. Isso reduz as expectativas dos investidores sobre a empresa, que, por outro lado, poderia surpreender em termos de custo e melhores tendências nas operações de seu buscador, o Google.

“Contudo, a pressão por mais investimentos para lidar com a competição pode levar a comentários negativos durante a call de resultados”, escreveram os analistas.

O consenso Refinitiv prevê receitas de US$ 72,78 bilhões para a Alphabet no segundo trimestre de 2023. O lucro líquido reportado previsto é de US$ 16,956 bilhões, de acordo com a média das projeções dos analistas.

Para Amazon, os analistas veem chances de um ponto de inflexão no segmento de computação em nuvem da empresa, a AWS. Depois de uma serie de resultados abaixo do esperado nessa linha de negócios, há expectativas de crescimento no segundo trimestre de 2023.

“Os serviços de cloud, como um todo, deveriam se beneficiar de uma utilização mais intensa da inteligência artificial. Mas essa é uma tendência que ainda vai evoluir”, afirma Lima, da Arbor.

Para os analistas do BBA, há chances de que as margens da Amazon finalmente tenham se estabilizado no período, refletindo os esforços da companhia em gerar ganhos de eficiência.

Há visões distintas sobre o negócio de e-commerce da companhia. Mesmo com sinais de resiliência da economia dos Estados Unidos, alguns analistas acreditam que o consumidor está mais cauteloso em relação a compra de bens não essenciais, o que tende a impactar os resultados da companhia.

O BBA, por sua vez, acredita que o e-commerce americano vai sustentar crescimento de dois dígitos no segundo trimestre. A casa também avalia que, apesar da valorização de 60% das ações da Amazon desde as mínimas registradas em dezembro do ano passado, ainda há uma tendência de alta significativa para o papel.

O consenso Refinitiv prevê receitas de US$ 131,467 bilhões para a companhia no segundo trimestre de 2023 e lucro líquido reportado de US$ 3,760 bilhões.

A dúvida sobre o comportamento do consumidor em relação a itens discricionários também paira sobre as previsões de resultados da Apple, empresa que este ano ultrapassou US$ 3 trilhões em valor de mercado.

O BBA acredita que apesar de uma demanda mais fraca nos Estados Unidos, a empresa não deve apresentar números muito abaixo do que o mercado vem prevendo. As margens brutas da companhia devem continuar se recuperando. A casa, contudo, recomenda uma posição neutra para a ação da fabricante do Iphone.

Na avaliação da Arbor, a Apple negocia a múltiplos elevados para uma empresa que já não cresce tanto. Mas os investidores seguem olhando para a empresa como um porto seguro e em termos de fundamento, continua muito sólida.

“Há sempre a avaliação de que ela vai desacelerar mais fortemente e não desacelera tanto”, observa Lima. “Ou vem em linha com o consenso, ou bate as expectativas. Até mesmo em momentos de dinâmica ruim para hardwares, a Apple foi na contramão e continuou crescendo”.

O consenso Refinitiv prevê lucro líquido reportado de US$ 18,718 bilhões para a Apple no terceiro trimestre fiscal de 2023, encerrado no último mês de junho. A cifra é menor que os US$ 24,160 do trimestre anterior, mas 66,33% maior que o resultado de um ano antes. A média das projeções do mercado aponta para receitas de US$ 81,561 bilhões, menor que os US$ 94,386 bilhões obtidos nos três primeiros meses deste ano.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados