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Após um 2022 conturbado, o Bitcoin está imparável em 2023 em meio à recuperação de ativos de risco diante de uma expectativa de redução no ritmo de alta dos juros nos EUA. Em menos de um mês, a criptomoeda apagou as perdas contraídas após o colapso da FTX, seguiu acelerando e já acumula alta de cerca de 40% desde o começo do ano – de US$ 16.500, disparou para US$ 23 mil.
De longe, é o melhor desempenho entre diversos ativos de risco. O índice MSCI World, por exemplo, que mede o desempenho dos papeis de 1.500 empresas globalmente, sobe 4,83% até aqui neste ano. Já o petróleo avança 2,45% e os índices de ações de Wall Street saltam no máximo 6,44% – caso do Nasdaq.
Mas, por que essa diferença tão grande? Para especialistas, o movimento está ligado à maior volatilidade da classe de ativos, além da percepção de que a crise desencadeada pelo colapso da corretora FTX ter sido encarada como sinal de fundo do poço por investidores especulativos.
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“Para muitos especuladores aquilo era um sinal de fundo porque a única coisa que poderia acontecer além disso seria a Binance (maior exchange cripto do mundo) quebrar”, destaca Luísa Pires, head de criptoativos da Levante, em participação no Cripto+, programa semanal do InfoMoney sobre o universo cripto.
Além disso, lembra Luísa, o movimento foi catalisado por um short squeeze, ou seja, pelo fechamento forçado de posições de traders que ainda esperavam por uma queda mais acentuada do Bitcoin, mas foram pegos de surpresa com a retomada após a virada do ano.
O pessimismo que alimentou essas posições vinha da dúvida sobre a solvência da Binance, que logo foi atenuada e se refletiu diretamente nos preços. “Muita gente começou a acreditar que o Bitcoin iria cair para US$ 12 mil e começou a entrar vendido no mercado, mas não tinha mais espaço para cair na visão do investidor [de mais longo prazo] de cripto”, explica Luísa.
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“Não foi algo específico [que provocou a alta do Bitcoin], mas um conjunto de fatores fundamentalistas, dado que já se estava namorando esse possível fundo em US$ 15.500 após o colapso da FTX”, completa.
Bitcoin ainda tem fôlego ou vem correção por aí?
A alta impressionante de 40% do Bitcoin acendeu alerta para traders de curto prazo sobre uma possível correção. No entanto, ainda paira incerteza no ar por conta da força com que a criptomoeda rompeu uma importante resistência (zona com alto interesse por venda), na região perto de US$ 21 mil.
Trata-se da maior aceleração do BTC desde outubro de 2021. Agora, a moeda digital já estaria mirando um patamar cerca de 9% a 10% acima do nível atual
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“O Bitcoin ampliou sua acentuada recuperação, eliminando a resistência perto de US$ 21 mil”, avalia Katie Stockton, fundadora e sócia da Fairlead Strategies, em nota aos clientes. “A próxima resistência é mais significativa na alta de agosto (em US$ 25 mil)”.
Stockton observa sinais mistos vindos de métricas de análise técnica. Por um lado, um indicador aponta para um sinal de melhora no impulso de alta do BTC mesmo depois do rali visto até aqui em 2023. De outro, o ativo começa a dar pistas de sobrecompra (preço acima do justo) e, por isso, investidores devem ter cautela.
“Permanecemos neutros no médio prazo com o retorno das condições de sobrecompra”, observou Stockton.
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De acordo com David Duong, head de pesquisa institucional da Coinbase, um possível avanço para US$ 25 mil depende de ativos de risco tradicionais, que vêm de recuperação nas últimas duas sessões – principalmente as ações de tecnologia, que registram ganhos com a diminuição das preocupações com a recessão e em meio à expectativa de menos agressividade do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA.
“O risco agora é muito maior para comprar, eu esperaria para ver uma pequena correção”, recomenda o trader e investidor anjo de criptoativos Vinícius Terranova. O especialista ressalta que o movimento futuro depende do comportamento do índice S&P 500 nos próximos dias.
“O S&P está se aproximando perigosamente de sua linha de tendência de baixa, que vem desde o topo. Macro não está ajudando muito, acho que é muito cedo para esperar que o mercado global se aqueça, tem muita euforia neste momento”, pondera.
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Agentes econômicos ainda parecem aguardar a divulgação de indicadores nos EUA, como o Produto Interno Bruto (PIB) que sai na virada do mês, para tomar uma decisão.
“Dependendo do que vier, tem muita conjuntura para falar que o Bitcoin vai corrigir para abaixo de 20 mil”, alerta Luísa Pires, da Levante.
Respiro para nova alta
Apesar de uma queda iminente, Luísa recomenda que o investidor tenha caixa para comprar na próxima baixa diante da perspectiva de um 2023 mais positivo para a criptomoeda, que caminha para um novo corte de 50% na emissão, em evento conhecido como halving, aguardado para o primeiro semestre de 2024.
“É uma zona [de preço] que grandes investidores, as baleias, que têm mais de 10.000 BTC, enxergam muito valor. Normalmente, quando vai chegando perto do halving, começa a haver uma maior percepção de valor [pelo corte na emissão] e há uma aceleração nas compras, pelo menos baseado nos últimos eventos que a gente acompanhou”, conta a head de criptoativos da Levante.
Pelo menos dois indicadores técnicos de longo prazo apontam na mesma direção. Um deles é o hash ribbons, ligado ao comportamento dos mineradores, profissionais e empresas que trabalham na verificação das transações de Bitcoin e são remunerados com a criptomoeda.
“[O hash ribbons] é um indicador muito famoso por identificar momentos de capitulação, em que os mineradores de Bitcoin estão vendendo suas moedas; e quando o Bitcoin começa a ser mais rentável [a ponto de eles] religarem suas máquinas e pararem de vender Bitcoin”, explica Terranova. “A gente teve um sinal de compra justamente na semana de 9 de janeiro, quando apontou a hora de comprar”.
Outro indicador que também se mostra favorável é o super trend, conhecido por marcar grandes movimentos de alta ou baixa no longo prazo. “Da última vez que ele apitou para compra foi no fim de um ciclo de baixa na região dos US$ 11 mil, e ele seguiu até os US$ 60 mil”, aponta o trader.