Publicidade
As ações da Braskem (BRKM5) caíram 4,7% na sessão desta segunda-feira (11), cotadas a R$ 16,80, após a notícia de desabamento de mina da empresa em Maceió, na tarde de ontem, pela Defesa Civil da cidade.
Tanto a mina quanto o entorno estavam desocupados e não há risco para as pessoas no bairro de Mutange, que já havia sido evacuado. Ainda assim, de acordo com o prefeito de Maceió, os impactos ambientais ainda demandarão tempo para serem identificados em toda sua extensão.
A Braskem informou, via fato relevante, que “câmeras que monitoram o entorno da cavidade 18 registraram movimento atípico de água na lagoa Mundaú, no trecho sobre esta cavidade, indicando movimento no solo da lagoa (potencial colapso)”.
Continua depois da publicidade
No mesmo comunicado, a empresa ressaltou que a área já estava isolada e vinha sendo monitorada.
“A Companhia segue mobilizada e monitorando a situação de forma ininterrupta com as autoridades competentes e manterá o mercado informado sobre qualquer desdobramento relevante sobre o assunto”, comunicou a Braskem.
Indenizações, desapropriação e CPI
A companhia realizou um acordo de R$ 1,7 bilhão em compensações junto à Prefeitura de Maceió neste ano. O governo municipal disse que o acerto permanece válido, mas agora busca um acerto para inclusão dos “novos danos”.
Continua depois da publicidade
Na esfera judicial, a empresa tem sido demandada pelo Estado de Alagoas em busca de compensações tanto por perdas arrecadatórias quanto pelos danos causados à infraestrutura pública. Nesta segunda, o governador do Estado de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), disse que o governo estadual entrou com uma ação na Justiça para desapropriação da área atingida pelo acidente.
A fala do governador reafirma um anúncio feito na noite da véspera, em suas redes sociais, na qual afirma ter determinado a desapropriação da área, e cita a intenção de construir um parque estadual na região.
Em reunião sobre o caso com representantes dos bairros afetados pelo afundamento, Dantas disse que iniciou ação na Justiça para pleitear a restituição dos bens adquiridos pela petroquímica aos antigos proprietários.
Continua depois da publicidade
“Nós não vamos permitir que a empresa cometa o crime e fique com os bens de quem sofreu”, disse Dantas nesta segunda-feira. “Já entramos com ação na Justiça para todos os moradores dos bairros atingidos que já venderam, ou já fizeram qualquer tipo de negociação com a Braskem, (para que) esse imóvel volte para as senhoras e para os senhores.”
No domingo, a prefeitura de Maceió informou que houve um rompimento na mina da Braskem, no bairro do Mutange, percebido por volta das 13h15 num trecho da lagoa Mundaú. O nível da água avançou por partes da região da lagoa que antes estavam secas.
O governador também disse que cobrará da empresa indenização individual pelo afundamento de solo.
Continua depois da publicidade
“Não vamos aceitar essa história de indenização moral por família, indenização moral tem que ser por pessoa… E todos esses acordos têm que ser revistos.”
“Esse patrimônio tem que voltar para as pessoas, esse patrimônio tem que voltar para a prefeitura de Maceió, para o povo do Estado de Alagoas, e o que a Braskem tem que fazer é indenizar e reparar todo esse dano causado pela empresa.”
Dantas acrescentou que irá a Brasília ainda nesta segunda-feira para reforçar a necessidade de uma conversa sobre o assunto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e convidá-lo para “ver de perto” os bairros atingidos.
Continua depois da publicidade
Em relatório, o Bradesco BBI destacou que o espaço atingido pelo desabamento é área de preservação e forte de importante renda para pescadores, ainda que não tenha havido riscos diretos para pessoas.
A análise reforçou que há chances de que as provisões da Braskem possam aumentar após o acidente, mas que a extensão poderá apenas ser avaliada quando a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Braskem começar, em 2024.
A CPI foi criada em outubro deste ano, com objetivo de investigar justamente os problemas apresentados em Maceió desde 2018, e ainda não teve seus trabalhos iniciados.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), autor de requerimento da CPI, afirmou nesta segunda-feira que a instalação da comissão foi convocada para terça-feira.
Segundo ele, a CPI tem o único objetivo de apurar as responsabilidades da Braskem nas reparações decorrentes do afundamento do solo na capital alagoana.
“Ela (CPI) é específica”, disse o senador nesta segunda-feira à CNN Brasil. “Ela não tem possibilidade de transbordar para outra investigação. A CPI, ela objetiva somente investigar a responsabilidade jurídica da Braskem nas reparações ambientais e socioambientais”, argumentou.
Segundo Calheiros, não existe interesse por parte da CPI em “abrir a caixa preta da Braskem” na Bahia, em São Paulo ou Rio Grande do Sul, em um recado indireto a parlamentares que resistem à instalação da CPI.
É no momento da instalação que são definidos o presidente e o relator da comissão. Calheiros deve se reunir com outros senadores pela manhã para discutir a presidência e a relatoria.
O parlamentar relatou que o líder do governo no Congresso, Jaques Wagner (PT), chegou a pedir que seus correligionários não apoiassem a CPI, por medo que os problemas pudessem resvalar na Petrobras (PETR4). Após a escalada do problema em Maceió, o PT acabou indicando os nomes de titular e suplente para a CPI.
Em nota, a Braskem disse no domingo que câmeras registraram “movimento atípico de água” na lagoa Mundaú no trecho sobre a mina 18, acrescentando que um sistema de monitoramento de solo captou a movimentação. “Toda a área, que vem sendo monitorada nos últimos dias, já estava isolada. As autoridades foram imediatamente comunicadas, e a Braskem segue colaborando com elas”, afirmou a empresa.
A Levante mencionou que, além da CPI (que já tem número mínimo de integrantes necessário), a Polícia Federal também ampliou investigações sobre o afundamento do solo.
“Ao considerar exclusivamente o processo de venda da companhia e o ciclo petroquímico, as ações da empresa parecem estar sendo negociadas com desconto. Contudo, devido à atual incerteza em torno dos desenvolvimentos em Alagoas, optamos por uma abordagem cautelosa em relação às ações, aguardando evidências mais claras do verdadeiro ônus da situação”, considera a Levante.
A Guide mencionou que o evento agravou a situação da Braskem em Alagoas. A companhia já motivou o esvaziamento de cinco bairros e deslocamento de mais de 40 mil pessoas por causa do afundamento do solo.
O impacto do desastre é considerado negativo e a análise ressalta a possibilidade de novos desabamentos acarretarem mais custos de reparos para a companhia.
(Com Reuters)