“Buy in may”: por que o Ibovespa não seguiu o carma do mês e teve o melhor maio em 10 anos?

Neste ano, o sell in may não veio e o mercado virou completamente depois da turbulência dos 15 primeiros dias

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – Há uma máxima no mercado de que maio sempre é um mês de queda forte na Bolsa. Mas toda regra tem exceção e o Ibovespa caminha para fechar este maio com alta de mais de 1%. Se a valorização se confirmar no fechamento desta sexta-feira (31), será a primeira vez desde 2009 em que a Bolsa avança nos 31 dias mais “azarados” do ano. E, desta vez, o motivo para isso está no Brasil.

Conforme destaca Raphael Figueiredo, sócio-analista da Eleven Financial, o fato primordial que explica a alta da Bolsa neste maio é a melhor sintonia entre Executivo e Legislativo em relação à reforma da Previdência. “Foi uma virada para o entendimento de que a reforma tem grandes chances de sair. E os reflexos foram intensos, a curva de juros já precifica a reforma como aprovada”, afirma.

Na terça-feira (28), os DIs desabaram 20 pontos-base e hoje o DI para janeiro de 2021 já opera a 6,49%, patamar abaixo da taxa básica de juros, Selic.

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Essa sintonia começou a ser construída após o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) assumir protagonismo na aprovação das pautas econômicas. No entanto, só deslanchou mesmo com as manifestações do dia 26, que pressionaram o Congresso sem apelar para radicalismos e trouxeram a pauta de defesa das reformas econômicas também para as ruas.

No dia seguinte ao ato, Bolsonaro chamou Maia e os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo Tribunal Federal (STF), José Dias Toffoli, para firmar um pacto de apoio às reformas. O mercado gostou dessa atitude, que foi uma guinada no comportamento do presidente da República. Bolsonaro foi muito criticado no início do mandato por manter um tom de confrontamento com o Congresso simbolizado pela oposição entre velha e nova política e agora tem buscado maior pragmatismo.

“Atribuo mais a uma mudança no perfil do presidente do que à manifestação em si. O [perfil no] Twitter dele já mudou, ele tem uma nova postura, entrando em sintonia maior com os presidentes das casas”, destaca Figueiredo.

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Maios de pânico

Tanto em 2017 como em 2018, além de cair em maio, a Bolsa foi também impactada por um grande evento causador de pânico que desencadeou a fuga de capitais.

Em maio de 2017, o Ibovespa encerrou maio com uma perda de 4,1%, provocada pela delação do empresário Joesley Batista, que revelou uma conversa comprometedora com o então presidente Michel Temer.

Na época, investidores e analistas estavam animados com a perspectiva de aprovação da reforma da Previdência, que foi sepultada com as revelações de Batista. No que ficou conhecido como “Joesley Day”, primeiro pregão após a delação, o Ibovespa caiu 8,8%.

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Já em maio de 2018, o detonador da crise nos mercados, e na economia, foi a greve dos caminhoneiros, que paralisou as rotas de abastecimento de produtos pelo país. O Ibovespa caiu 10,9% naquele mês.

Sell in may

Mesmo quando não há eventos negativos, os pregões de maio costumam ser prejudicados pela menor liquidez dos mercados. É quando acontece o famoso fenômeno expresso pela rima em inglês “sell in may and go away” (venda em maio e vá embora), que explica nos Estados Unidos as fortes desvalorizações das bolsas neste mês, com investidores se adiantando ao período de menor liquidez no mercado diante das férias de verão.

Desta vez, o Ibovespa escapou desse história, mas o mesmo não pode se dizer dos principais índices internacionais, que sofreram em meio aos temores de acirramento da guerra comercial entre EUA e China e de desaceleração da economia global.

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Os índices S&P 500, Dow Jones e Nasdaq, das bolsas norte-americanas, desabaram 6,2%, 6,4% e 7,7%, cumprindo com o carma do mês.

Pesou sobre os mercados internacionais o acirramento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. Os EUA anunciaram a imposição de uma tarifa de 25% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses, ameaçaram colocar a mesma taxa sobre outros US$ 325 bilhões, e ainda restringiram a atuação da Huawei no mercado de celulares.

Como retaliação, a China anunciou tarifas de 25% sobre US$ 60 bilhões em produtos norte-americanos e ameaça paralisar a exportação de terras raras, substâncias químicas amplamente utilizadas na indústria de alta tecnologia dos EUA.

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.