Carrefour Brasil compra BIG e ações fecham com salto de quase 13%: por que o anúncio animou tanto os investidores?

Analistas destacam grandes oportunidades de sinergias e consolidação da liderança no país, além de oportunidade de explorar outros formatos de loja

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Surpreendendo boa parte do mercado e marcando mais uma grande operação do varejo alimentar em menos de um mês, o Carrefour Brasil  (CRFB3anunciou na madrugada desta quarta-feira (24) a compra do Grupo BIG por um valor de R$ 7,5 bilhões. O grupo BIG, antigo Walmart no Brasil, tem sob seu guarda-chuva marcas como Sam’s Club e Maxxi atacados.

A operação animou os investidores e fez a ação CRFB3 subir até 16,24% nesta sessão, fechando em alta de 12,77%, a R$ 21,73, com a avaliação de um grande potencial de geração de sinergias, destacada pela própria varejista em R$ 1,7 bilhão ao Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) após três anos da conclusão da operação, que ainda está sujeita à aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A transação será efetivada com 70% do valor em dinheiro e 30% por meio de ações do Carrefour Brasil, com um adiantamento de R$ 900 milhões em dinheiro aos vendedores. Ao final da operação, a controladora Carrefour sairá de 71,6%  para 67,7% de participação, enquanto a Península (veículo de investimentos de Abílio Diniz, ex-controlador do Pão de Açúcar) ficará com 7,2%. Já a gestora de fundos de private equity Advent, juntamente com a Walmart, ficará com mais 5,6% das ações de Carrefour. Os 19,5% restantes serão o free float.

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O BIG vai adicionar 387 lojas às 489 do Carrefour, sendo 35 lojas Sam’s Club (21% das vendas) e como o único formato novo, 107 hipermercados e cerca de 200 supermercados e 49 atacarejos (27%).

O Grupo BIG ainda conta com 41 mil funcionários, presença em 19 estados brasileiros e registrou R$ 24,9 bilhões em vendas brutas em 2020. A combinação criará um grupo com vendas brutas de cerca de R$ 100 bilhões e aproximadamente 137 mil  funcionários atuando em todos os formatos, destacou o Carrefour em comunicado, consolidando sua liderança no varejo alimentar no Brasil. Analistas do Bradesco BBI, que citam dados da consultoria Nielsen, estimam que a participação de mercado do Carrefour passará de cerca de 13% para cerca de 19%.

A operação do Carrefour acontece dois meses depois do fracasso da fusão do grupo com o canadense Couche-Tard. Ao apresentar os resultados anuais, a empresa francesa anunciou que reforçará sua posição “onde já estava presente”. O Brasil é o primeiro objetivo da estratégia.

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“Nosso grupo passou à ofensiva”, anunciou o CEO global da empresa, Alexandre Bompard, em comunicado ao destacar que a operação é parte da estratégia de crescimento exterior do grupo, baseada em “consolidar a presença em mercados-chave”, como o Brasil, onde o Carrefour está presente desde 1975. “Aumentamos há três anos nossa liderança no mercado de distribuição de alimentos neste país, que tem imensas perspectivas de desenvolvimento”, disse Bompard.

Em termos de múltiplos, o Carrefour Brasil está adquirindo o grupo BIG por 8,3 vezes o EV/Ebitda (Valor da Firma Total dividido pelo potencial de geração de caixa), um prêmio em relação aos seus próprios múltiplos, hoje na casa dos 6,5 vezes EV/Ebitda, considerando o resultado de 2020.

Para o UBS, embora não seja “uma operação maravilhosa”, é um negócio atraente, com as altas sinergias fortalecendo significativamente a posição competitiva da empresa.

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O Morgan Stanley também vê a transação proposta como alinhada com a estratégia do Carrefour, com a empresa focada  formatos de alto crescimento e, dado o nível de sinergias almejadas, caso essa transação fosse aprovada, ajudaria o Carrefour Brasil a consolidar sua liderança no país e sua estratégia de multicanalidade.

Leia também: Carrefour não pretende fazer cisão entre atacarejo e varejo, diz CEO

A forte presença do BIG nas regiões Nordeste e Sul (onde o Carrefour tem presença limitada), encontra uma série de complementaridades com a sua atual operação com as bandeiras Atacadão (Atacarejo) e Carrefour (proximidade, Hiper, Super, Cartões e Banco), com forte presença na região Sudeste, destaca a Levante Ideias de Investimentos.

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(Elaboração: XP Investimentos)

Se, no curto prazo, é esperada uma reação bastante positiva no preço das ações (como já vem ocorrendo nesta sessão), a expectativa é geração de valor grande para a empresa nos próximos anos, em caso de aprovação pelo Cade, avalia a equipe de análise.

“Enxergamos a operação como uma das mais relevantes do varejo alimentar, juntamente com a cisão de Pão de Açúcar (PCAR3) e Assaí (ASAI3)”, apontam, destacando a operação de divisão do atacarejo e varejo do GPA que ocorreu no começo de março (veja mais clicando aqui). Vale ressaltar que, em teleconferência com analistas e investidores nesta quarta-feira (24), Noël Prioux, CEO do Carrefour, afirmou que o grupo não pretende fazer a cisão entre seus negócios de multivarejo e atacarejo (pelo menos não no momento). Ele apontou que, para a empresa, um ecossistema global faz mais sentido que um sistema dividido.

A Levante ainda reforça que as sinergias potenciais com o BIG começam com as próprias lojas físicas, com lojas de formatos semelhantes e recentemente reformadas, o que facilita a conversão rápida para as bandeiras do Carrefour e mantendo a qualidade física dos imóveis. O BIG e BIG Bom preço (Hiper) serão convertidos em Carrefour ou Atacadão, Maxxi atacado será convertido em Atacadão em sua totalidade e as marcas de supermercados serão mantidas, porém com adição do logotipo do Carrefour de modo a manter o conhecimento do público local onde a BIG opera atualmente, mas com um elemento de reconhecimento da marca Carrefour.

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O Morgan Stanley ainda avalia que o Atacadão e o Carrefour Brasil oferecem preços melhores para os consumidores em comparação com outros concorrentes. Graças à escala e às sinergias, isso também pode ajudar o Grupo BIG a alcançar preços mais competitivos para os clientes.

Além disso, haverá a adição em seu portfólio de dois formatos atualmente não operantes pela empresa, o Clube de Atacado e produtos diferenciados, voltados para as classes A e B (Sam’s Club) e a bandeira TodoDia, uma loja de proximidade de soft discount, que visa promoções agressivas pontuais mirando o giro de estoque.

O Sam’s Club possui margem superior a toda a operação e atualmente conta com mais de 2 milhões de assinantes em um formato de operação único no país. Já o TodoDia oferece uma penetração em regiões bastante específicas com demandas distintas, o que facilita a entrada do Carrefour em novas áreas geográficas, sem atrito na operação, avaliam.

Além disso, a  empresa poderá incorporar as operações do BIG em seu sistema digital integrado, com os apps de descontos e compras, expansão da base de clientes para o Banco Carrefour com maior potencial de emissão de novos cartões, além da logística integrada, com ampliação das entregas rápidas e em mais localidades, com a modalidade de compra multicanal (click e retire, entrega no mesmo dia, compras e entregas express).

“Um dos detalhes mais importantes e relevantes da transação a nosso ver, além do tamanho combinado das empresas, é o ganho de eficiência operacional bastante visível pela frente, tanto na frente de vendas como na frente de custos”, avalia a Levante.

Outro ponto positivo, e apontado pelo próprio Carrefour, é a base de ativos imobiliários do grupo Big, incluindo terrenos e construções prontas, com valor próximo a R$ 7 bilhões e potencial adicional para ser explorado futuramente para expansão orgânica ou até venda.

Elevação das expectativas

Avaliação o negócio como positivo e considerando que foi uma transação em termos de valores, além de adicionar novos caminhos ao crescimento da varejista, o Bradesco BBI aponta que a operação pode levar a um acréscimo de 20% nas suas estimativas de lucro por ação no terceiro ano de operação aprovada. A recomendação atual para os ativos é outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 28, ou potencial de alta de 45,3% em relação ao fechamento da véspera.

Já os analistas do BTG, ao assumirem as sinergias a valor total e um período de três anos a ser capturado, calculam uma adição de R$ 12 na ação do Carrefour ou valor presente líquido da empresa de R$ 25 bilhões.

“A aquisição deve acalmar algumas das preocupações que os investidores têm enfrentado com o aumento da concorrência, principalmente no segmento de Cash & Carry, notoriamente devido ao ressurgimento do BIG após a sua aquisição pela Advent. Haverá claramente desafios, com a execução contínua da recuperação de BIG sendo o principal deles”, avalia o BBI.

Cabe lembrar que o movimento de venda do BIG marca uma saída estratégica para a Advent, que há dois anos e meio adquiriu a totalidade das operações do Walmart no país e realizou uma virada financeira e operacional. A ideia inicial era de realizar a abertura de capital do grupo Big (IPO), porém o mercado não se encontrava tão favorável para o movimento.

A expectativa é de que também o Cade analise o negócio em detalhes. Porém, os analistas avaliam que, dada a experiência do Carrefour a partir da aquisição do Makro, é improvável que a empresa tenha assinado o acordo se houvesse uma grande chance de “remédios” significativos e amargos por parte da autarquia.

Atualmente, segundo compilação da Refinitiv com 13 casas de análise que cobrem o papel CRFB3, 8 delas possuem recomendação de compra para o ativo, enquanto 5 têm recomendação neutra. Já o seu par no setor, a PCAR3, possui 11 recomendações de compra e 3 neutras. Contudo, com as operações recentes de ambas as companhias, a reavaliação pode ocorrer para o setor.

Já a XP ajustou o preço alvo de R$ 25 para R$ 28 por ação, incorporando a aquisição no preço alvo e os resultados do quarto trimestre nos nossos números, mas mantendo a recomendação neutra uma vez que veem a transação praticamente refletida no preço de tela enquanto as sinergias somente deve ser capturadas a partir do ano que vem. “Apesar de não trabalharmos com isso como cenário base, entendemos que há o risco da transação não ser concluída, o que levaria o nosso preço alvo para R$ 24 por ação”, apontam os analistas.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.