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O varejo e o atacarejo de alimentos devem trazer entre abril e junho mais um trimestre de resultados pouco expressivos. Após períodos de bonança, companhias como Carrefour Brasil (CRFB3), Assaí ([ativo=ASSAI3]), GPA (PCAR3) e Grupo Mateus (GMAT3) são impactados, agora, por um cenário macroeconômico não muito positivo para os seus negócios.
“O setor de varejo de alimentos tem sido afetado por tendências desafiadoras de deflação”, avalia o time de analistas do Itaú BBA, liderado por Thiago Macruz. “Os resultados devem piorar para o varejo alimentar devido à menor inflação de alimentos nos últimos meses”, corrobora a equipe do BTG Pactual, encabeçada por Luiz Guanais.
Com o preço dos alimentos caindo, ou ao menos estáveis, o faturamento das redes tende a ser impactado, crescendo menos. A inflação acaba gerando o efeito de impulsionar as receitas tanto para o varejo quanto para o atacarejo – neste último, os preços mais altos ainda têm como efeito uma maior procura dos consumidores pelo segmento chamado “cash and carry”.
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“Apesar da desinflação alimentar ser um movimento positivo para o bolso do consumidor, não acreditamos que haverá uma recuperação de volume”, aponta a Genial Investimentos. “Sem compensação em volume, a dinâmica de menor inflação deve apenas normalizar a cadeia de consumo no curto prazo, com um trade up do consumidor entre os formatos de atacarejo e supermercado”.
A Genial explica que no business to business (B2B), foco do atacarejo, a deflação impacta o público “transformador e revendedor”, ou seja, comerciantes que buscam o modelo para abastecerem seus negócios.
“Em tempos de inflação mais alta, eles fazem estoques maiores de produtos, de maneira a driblar um aumento de preços das gôndolas, que acontecia de forma contínua ao longo dos meses. Diante do arrefecimento da inflação alimentar, o público B2B (Business to Business) adota uma outra postura de consumo, estocando em um nível abaixo do normal, de forma a aproveitar a redução de preços nas gôndolas”, acrescentam.
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Fora isso, o recuo da alimentação domiciliar, enquanto o preço de comer fora de casa ainda se mantém, também deve causar impactos.
O time da corretora expõe que o Carrefour, por ser o mais exposto ao business to business F(B2B), tende a sofrer mais com a deflação da alimentação domiciliar.
De olho no IPCA e na competição
Em junho, último mês do segundo trimestre, o IPCA trouxe uma deflação de 0,08%, acumulando um avanço de 3,16% nos últimos doze meses. O número é bem menor do que os patamares do ano passado, por exemplo, quando o principal índice de preços do Brasil chegou a bater altas acumuladas de mais de 10%.
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Além disso, especialistas continuam a destacar um aumento da competição no setor de atacarejo, principalmente na região Sudeste, onde o Atacadão, do Carrefour, e o Assaí têm grandes exposições. De acordo com uma pesquisa da NIQ Ebit, foram mais de 400 novas lojas do tipo abertas ao longo de 2022, com o maior número delas ficando justamente entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
A maior competição normalmente derruba as vendas mesmas lojas (SSS), na sigla em inglês), com consumidores se dividindo entre as unidades, e também causa impacto no faturamento pelo lado das promoções, com a disputa pela atratividade.
“Esperamos números mais fracos aos players expostos a essa região, enquanto a Grupo Mateus provavelmente terá um desempenho superior, devido à sua exposição ao Nordeste, onde a competição é mais suave”, fala o time do BBA. “A pressão sobre a rentabilidade, no entanto, provavelmente afetará todos os jogadores neste trimestre. Vemos o Carrefour como o mais negativamente afetado”.
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A equipe da XP Investimentos vai na mesma linha.
“No varejo de alimentos, esperamos um crescimento negativo do SSS devido a comparações difíceis, desaceleração da inflação de alimentos, dinâmica de volume pressionada por baixa renda disponível e aumento da competição”, corrobora o time da corretora, liderado por Danniela Eiger. “Já a lucratividade deve ser pressionada pelos robustos planos de expansão das empresas e pelo processo de maturação das lojas. Carrefour deve ser o destaque negativo e Grupo Mateus, o positivo”.
Grupo Mateus deve ser destaque
Tanto o BBA quanto a XP veem o Grupo Mateus trazendo um trimestre “relativamente positivo” marcado por números consistentes do lado do faturamento. Com o grupo avançando sobre o modelo atacarejo e nas promoções, no entanto, as casas esperam algum recuo de margem bruta.
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“Esperamos um trimestre relativamente positivo marcado por tendências consistentes de receita. Esperamos um crescimento SSS de 8,6% no trimestre, contribuindo para um crescimento de 21% da receita, para R$ 6,3 bilhões. Antecipamos uma queda de 120 pontos-base da margem bruta, para 21,4%, devido à maior penetração do atacarejo na rede de lojas e alguma atividade promocional”, fala o BBA.
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A XP tem a mesma projeção de receita e vê a margem bruta ficando em 21,3%.
“Acreditamos que o Grupo Mateus irá superar seus pares em termos de SSS, lucratividade e dinâmica”, menciona a corretora. “Na lucratividade, a margem bruta deve permanecer estável trimestralmente, mas cair 120 pontos base em relação ao ano anterior, devido aos investimentos da empresa em competitividade”.
O BBA vê a companhia trazendo um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 380 milhões e a XP, de R$ 373 milhões. O BTG enxerga o lucro operacional em R$ 471 milhões.
Assaí e Carrefour
Se o Grupo Mateus surfa com a menor competitividade, Carrefour e Assaí estão do lado oposto. As duas companhias, como já mencionado, têm grandes exposições no Sudeste – e ainda estão abrindo novas unidades.
“Antecipamos um resultado fraco para o Assaí neste trimestre, com dinâmicas desafiadoras e comparação com base forte resultando em um recuo de 3,7% nas vendas das lojas (SSS)”, diz o BBA.
Para o banco, a expansão, com a companhia convertendo lojas adquiridas do Extra, deve fazer a receita subir 23% no ano, para R$ 16,3 bilhões. Já a margem bruta deve ficar estável em 15,9%, com a lucratividade maior das novas lojas compensando os gastos promocionais. A margem Ebitda, porém, deve recuar 70 pontos-base, para 6,7%, devido aos gastos operacionais e com a abertura de lojas.
A XP vê o SSS do Assaí caindo 1,1% mas a receita subindo 20,7%, para R$ 16,03 bilhões, por conta da abertura de novas unidades. Do lado do faturamento, a perspectiva é também de margem bruta estável.
“Assim como o Atacadão, o Assaí não deve escapar da mudança de comportamento de consumo, mas enxergamos um impacto mais suave do que no seu par, dada a menor exposição ao público transformador e utilizador”, fala a Genial.
A corretora destaca que o Assaí no segundo trimestre não realizou nenhuma abertura orgânica e que converteu cinco lojas Extra.
“Com uma adição líquida de 50 lojas nos últimos 12 meses, totalizando 270 unidades, esperamos que o crescimento de receita bruta do Assaí seja positivamente impactado por essas aberturas. Estimamos um faturamento bruto de R$ 17,65 bilhões, alta de 21,5% no ano e um SSS negativo em 1,5%”, falam.
As projeções para o Ebitda do Assaí do BBA, XP e BTG são de, respectivamente, R$ 1,09 bilhão, R$ 1,04 bilhão e R$ 1,13 bilhão. A Genial vê o Ebitda em R$ 1,29 bilhão.
Abertura de lojas pesa nos gastos
Para o Carrefour, as instituições financeiras também veem a expansão, ao menos por agora, pesando no resultado.
“Esperamos que a margem Ebitda consolidada do Carrefour caia 250 pontos-base no ano, impactada por um fraco desempenho em sua operação de financiamento ao consumidor (afetada por maiores provisões) e pela integração do Grupo Big”, diz o BTG
O BBA menciona as conversões das lojas BIG, o cenário macro e a competição trazendo um momento desafiador para a companhia – apesar de verem a receita avançando 7,2% no ano, para R$ 25,7 bilhões.
“Esperamos que o Atacadão apresente números fracos na linha superior, com queda de do SSS, que contribuirão para a pressão sobre a rentabilidade. As previsões são de estreitamento da margem Ebitda em 170 pontos-base, para 4,9%, ou 80 pontos excluindo o Big”, diz o time do banco. “Para o braço de varejo, antecipamos tendências semelhantes na linha superior, com um crescimento esperado das vendas SSS de 4%, também afetado por ventos contrários macroeconômicos”.
“Possivelmente, este deve ser o pior trimestre de 2023 para o Carrefour. Dentre os players listados no Brasil, o grupo possui a maior base de comparação, uma vez que a varejista apresentou o maior SSS do setor no segundo trimestre de 2022”, comenta a Genial.
A XP diz esperar “resultados fracos”, basicamente pelas explicações já apontadas pelas outras instituições.
BTG, BBA, XP e Genial têm as projeções de Ebitda fixadas, respectivamente, em R$ 1,2 bilhão, R$ 1,08 bilhão, R$ 1,1 bilhão e R$ 1,1 bilhão.
GPA fora dos holofotes
O GPA, por fim, tende a trazer resultados mistos, de acordo com a XP – a única das três equipes que firmaram projeções para a companhia em questão.
“O grupo, dono do Pão de Açúcar, deve trazer sólida dinâmica da linha superior, mas ainda com lucratividade pressionada. Assim, estimamos que o SSS aumentem 5%, levando as vendas líquidas a crescerem 17% em relação ao ano anterior, com forte desempenho em todas as marcas, exceto Compre Bem, que continua pressionado pelo processo de conversão do formato para a marca Extra”, diz o time da corretora.
Do lado negativo, a lucratividade deve ser impactada pelo reposicionamento de preço, com a margem bruta caindo 220 pontos, para 24,4%, por conta do cartão Pão de Açúcar e de ajustes em estoques herdados do Extra. Iniciativas estratégicas em andamento na empresa e os consequentes ganhos de eficiência devem levar a margem Ebitda, no entanto, a expandir ligeiramente, com mais 20 pontos no ano, para 5,9%.
A XP vê o Ebitda do GPA a R$ 289 milhões.