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SÃO PAULO – O maior otimismo dos mercados financeiros com eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff abriu, pelo menos no curto prazo, o caminho para que o Banco Central reduza seus estoques de swaps cambiais tradicionais, hoje em cerca de 100 bilhões de dólares, limitando o impacto das variações cambiais nas contas públicas.
Isso porque a tendência é que o dólar continue caindo, ou permaneça em patamares mais baixos do que os vistos há poucos meses, quando foi acima de 4 reais.
Diante desse cenário, o BC conseguiu cortar em pouco mais de 5 por cento, ou 6,063 bilhões de dólares, o estoque de swaps tradicionais –que equivalem a venda futura de dólares– nas últimas duas semanas. Assim, o estoque foi para 102 bilhões de dólares, e não deve parar por aí.
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“Eu suspeito que o BC consegue reduzir em mais 10 bilhões de dólares o estoque só neste mês”, afirmou o sócio-gestor da Absolute Investimentos Roberto Campos.
O processo de desmontagem dos estoques de swaps veio em duas frentes: redução, desde o mês passado, das rolagens dos contratos que estão vencendo, depois de fazer a recolocação total por sete meses seguidos; e início de leilões de swaps reversos, que equivalem à compra futura de dólares, em meados de março.
Neste mês, o BC manteve a toada e sinalizou que deve rolar apenas metade do lote de swaps tradicionais que vencem em maio, o que deve reduzir o estoque total em cerca de 5,2 bilhões de dólares. Também já fez dois leilões de reversos, que tiram quase 700 milhões de dólares.
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A estratégia foi possível, segundo profissionais do mercado, porque muitos operadores que apostavam na alta do dólar frente ao real decidiram desmontar essas posições, acreditando que eventual troca de governo pode atrair capitais para o país. E ainda avaliam que, dependendo do cenário, a moeda norte-americana pode cair mais.
“Se o mercado comprar com certeza a ideia de que o dólar vai desabar, o BC vai ter uma ótima janela para reduzir ainda mais o estoque de swaps”, disse o gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho.
Só em março, o dólar despencou 10,17 por cento frente ao real, maior queda mensal em 13 anos, para ao redor de 3,60 reais. Os swaps tradicionais servem também como hedge para investidores e empresas em geral, contra a alta do dólar.
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Segundo economistas consultados em recente pesquisa da Reuters, o dólar pode recuar a 3,50 reais se o impeachment se concretizar e saltar ao recorde de 4,25 reais caso contrário.
CONTAS PÚBLICAS
A redução do estoque de swaps tradicionais também deixaria as contas públicas menos sensíveis a choques cambiais. No ano passado, os swaps custaram ao BC cerca de 90 bilhões de reais, que impactaram na dívida bruta, hoje caminhando para 70 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
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“Cedo ou tarde, (os swaps) acabam batendo no Tesouro Nacional”, disse o especialista em contas públicas e professor da PUC de São Paulo, Waldemir Quadros. “Diminuir esse estoque traz um pouco mais de transparência para as contas públicas”.
Operadores ressaltaram que a atuação do BC também ajuda a suavizar os movimentos do câmbio, que vem sendo alvo de forte volatilidade devido ao cenário político incerto, ao realizar ao mesmo tempo leilões de swaps tradicionais e reversos.
“Com isso, o BC mantém a flexibilidade e pode atender às necessidades do mercado. Ele não se compromete, pode diminuir ou aumentar a dose sem provocar espasmos no mercado”, disse o operador de um banco nacional que negocia diretamente com o BC.
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O impeachment da presidente Dilma deve ser resolvido neste mês de um jeito ou de outro e, por isso, os especialistas não se arriscam em afirmar com convicção que a estratégia do BC de reduzir os estoques de swaps será mantida mais à frente.
“Qualquer previsão sobre mais a médio prazo hoje é um exercício de futurologia”, afirmou o operador, que pediu anonimato.