Cielo (CIEL3): “Estamos seguros que atuamos sem oferecer subsídios e sim qualidade”; balanço agrada mercado, mas ação cai 1%

Apesar de analistas verem resultado com bons olhos, ações fecharam em baixa após uma sequência de quatro altas, mas longe das mínimas do dia

Vitor Azevedo

(Divulgação/Cielo)
(Divulgação/Cielo)

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A Cielo (CIEL3) teve um 2022 marcado por um turn around. A companhia, que vinha sofrendo por uma série de motivos, conseguiu recuperar mercado mantendo sua lucratividade – e suas ações responderam a isso, tendo a maior alta do Ibovespa no ano passado.

Para 2023, de acordo com os executivos, a adquirente pretende seguir o mesmo caminho, melhorando sua operação e aumentando suas taxas de lucratividade.

A Cielo lucrou de forma líquida e recorrente R$ 490,1 milhões no quarto trimestre de 2022, montante 63,3% superior ao reportado no mesmo intervalo de 2021 . O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) totalizou R$ 1,09 bilhão, crescimento de 40,4% na mesma base. Tudo isso com a receita caindo 12,3%, para R$ 2,75 bilhões.

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Em grande parte, a empresa já vinha há algum tempo apontando que parte do seu sofrimento dos últimos anos se dava pela “irracionalidade do mercado” – com concorrentes mantendo as taxas cobradas pelos serviços em níveis muito baixos. A Cielo, nos últimos 12 meses, chegou a perder cerca de 12% dos seus clientes, com essa baixa sendo proveniente, principalmente, no grupo de empreendedores.

“Estamos seguros que atuamos sem oferecer subsídios, deixamos esses em 2019, mas qualidade. Buscamos eficiência financeira. Estamos atualizando processos, o que pode trazer uma eficiência que irá perdurar. Queremos lidar com cada segmento de clientes de forma especial, customizando soluções e levando segurança”, disse o diretor executivo da Cielo, Estanislau Bassols, em teleconferência com jornalistas.

Os diretores defendem que a mudança operacional levou a uma base muito mais saudável de usuários, com a manutenção apenas dos clientes que “precisam dos serviços oferecidos pela companhia”. O número de usuários do grupo de varejo, por exemplo, cresceu, e o grupo de grandes contas ficou praticamente estável.

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Para 2023, a Cielo vê espaço para uma possível alta de preços, apesar de definir essas decisões como “voláteis”, e também está otimista para o setor, apesar do cenário macro.

Espaço para aumentar taxas

“Quanto às taxas cobradas, o mercado faz reposição de preço, primeiro por conta da inflação, depois por  conta do retorno mínimo ao acionista. Vemos, neste ano, que alguns elementos desses dois ainda estão presentes. Taxa de juros, por exemplo, continua alta, então o retorno para acionista deve continuar alto. Vemos nossos pares ainda com margens baixas”, defendeu Filipe Oliveira, diretor financeiro da companhia.

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No cenário macro, a Cielo diz que o consumo de família ainda está saudável e que a penetração dos meios de pagamentos eletrônicos continua crescendo.

De qualquer forma, os diretores da companhia defendem que há, também, melhorias operacionais no porvir.

“Estamos levando a cabo nossa estratégia. Primeiro pilar é ter certeza que dentro do nosso core seremos líderes em serviços e em eficiência. Asseguramos isso, estamos automatizando processos. Além disso, queremos lidar com cada segmento de clientes de forma especial, customizando soluções e levando segurança”, comentou o CEO. “Segundo pilar, inovação em pagamentos. A Cielo, neste ponto, oferece as melhores soluções, seja no pix, seja no open finance”

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A Cielo pretende, ao longo de 2023, avançar na experiência do cliente, melhorando índices nesta frente – como o tempo gasto, por exemplo, para solucionar problemas de usuários, que segundo a companhia já vem caindo.

“2022 foi um ano histórico, com recuperação de vários indicadores. Volume de transações [TPV, na sigla em inglês] foi recorde e nós estabilizamos nosso market share mesmo com maior rentabilização do volume transacionado. Concluímos ciclo de desinvestimentos e tivemos forte disciplina de gastos. Avançamos, ainda, na experiência do cliente. Queremos avançar nisso, principalmente trazendo NPS. Nosso foco é manter a rentabildade e avançar, ainda mais, na nossa experiência digital”, disse Oliveira.

Analistas destacam avanço operacional da Cielo

Os avanços mencionados pelos diretores da Cielo foram também apontados por analistas, que, de forma geral, definiram os números trazidos pelo documento como positivos.

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Apesar disso, as  ações fecharam em queda, de 1,13%, a R$ 5,23, ainda assim abaixo da baixa de 1,63% do Ibovespa na sessão desta sexta e da desvalorização de 4,91% de CIEL3 na mínima do dia. Cabe destacar ainda que o papel vinha de uma sequência de quatro pregões de alta, com avanço acumulado de 8,85%, já antecipando os números fortes divulgados pela companhia na noite da véspera. Na abertura, o ativo CIEL3 chegou a subir 3%.

O Credit Suisse destacou que a receita operacional, de R$ 2,75 bilhões, veio em linha com o consenso, mas destacou que os custos operacionais e o resultado financeiro vieram melhores do que o esperado.

“A rentabilidade continuou a melhorar bem. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) recorrente superou o nosso consenso em 5%. Os resultados financeiros também foram melhores do que o esperado e o Capex permaneceu sob controle”, debatem.

O Santander, em relatório, também definiu o rendimento da receita como positivo, mas defende que “o principal destaque foi o forte controle de custos da Cielo, tanto na frente aquisição de negócios quanto nas operações da Cateno”.

“A Cielo continua fazendo um bom trabalho no controle de custos e de despesas, ao nosso ver. Os custos totais aumentaram apenas 1% no trimestre, substancialmente abaixo da expansão de volume, de 5%”, debatem os analistas do banco espanhol.

O Itaú BBA, por fim, defende que os resultados foram decentes.

“As receitas comparáveis cresceram 18% ao ano, em um mix de melhores volumes (aumento de 11%) e melhores taxas. Em uma base trimestral, o preço cobrado ficou praticamente estável, enquanto os volumes ficaram um pouco abaixo das nossas expectativas. A base de clientes continuou a diminuir, mas as margens operacionais melhoraram, compensando a pequena falta de volumes”, destacam.

Os três bancos têm recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para as ações ordinárias da Cielo. O Credit Suisse definiu o preço-alvo em R$ 7, com potencial de alta de 29,1% frente ao preço de abertura de hoje. O Santander vê um potencial de alta de 38,3%, com alvo em R$ 7,50. O Itaú BBA, por fim, vê R$ 6 como preço justo para adquirentes, número 10,7% do que no inicio das negociações desta sexta.