Colunista: A difícil tarefa de se prever o comportamento dos preços agropecuários

Não é um exercício fácil prever o comportamento da inflação de alimentos do próximo ano, mas alguém tem que fazê-lo

Chau Kuo Hue

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Muito tem sido discutido ultimamente em relação aos preços dos alimentos, o atual grande vilão da inflação. De fato, o debate é importante, já que tudo gira em torno do impacto sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), utilizado pelo Banco Central do Brasil como referência para a sua meta de inflação. Uma importante questão a ser respondida é se os preços dos alimentos tenderão a subir mais em 2011, justificando uma alta da taxa de juros (Selic).

Deve-se separar entre uma provável variação de preços dos alimentos no ano que vem e o nível em que o valor dos bens se situa. Qual a diferença? O primeiro se trata de uma nova alta (por que não queda?) para os preços dos alimentos. Há economistas que preveem alta de 5,9% em 2011, e outros algo próximo a 7%. Quem estará certo não é relevante no momento, mas sim o fato de que há gente projetando que os preços dos alimentos irão subir mais ainda. Se há grande probabilidade da inflação geral subir, então o BC deve realmente elevar a taxa de juros para alterar as expectativas dos agentes econômicos. Entretanto, o que leva os economistas a temer preços de alimentos maiores no ano que vem?

 “Sempre há incerteza rodando
o mercado de commodities,
mas desta vez ela é maior”

Um componente muito volátil e imprevisível é o preço dos produtos hortifrutigranjeiros. Por exemplo, o valor do tomate pode tanto subir 100% quanto cair 50%. Um modelo estatístico de projeção seria tão útil quanto perguntar a uma dona de casa o que ela pensa sobre a tendência para esse grupo. Porém, uma dica. O preço do grão de feijão, que tem apresentado alta desde 2008, e item importante da cesta básica do consumidor, tende a subir novamente em 2011? Será que os preços já não estão tão atrativos a ponto de estimular o produtor e elevar a oferta futura?

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E o preço do milho e da soja, tão importantes para a ração animal? Os valores estão bastante elevados, e o que poderia provocar novos repiques? Ainda estamos no período de plantio no hemisfério sul. Será que produção futura pode ser uma surpresa positiva?

Outro componente importante são as carnes. Ao longo do segundo semestre de 2010 o valor da arroba do boi disparou, atingindo níveis recordes. Seria possível novas altas, dado que os preços já estão elevados, a ponto do consumidor já estar optando por cortes de menor valor? Em tese, ele estaria procurando bens substitutos, como a carne de frango ou suína.

E o preço do leite? Bom, aqui entramos também em um terreno arenoso, já que se trata de um setor bastante complexo (ao menos no Brasil), e variáveis básicas como oferta e demanda não são suficientes para fazer uma fundamentada previsão dos preços. Seria necessário analisar as estratégias dos concorrentes da indústria, o impacto do La Niña sobre a forragem do rebanho, etc.

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Sempre há incerteza rodando o mercado de commodities, mas desta vez ela é maior. Não é um exercício fácil prever o comportamento da inflação de alimentos do próximo ano, mas alguém tem que fazê-lo. As hipóteses por trás das projeções podem se alterar a cada momento.

Chau Kuo Hue é economista e escreve mensalmente na InfoMoney.
chau.hue@infomoney.com.br

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