Com gestores de olho em liquidez, índice de Small Caps não acompanha otimismo do Ibovespa

Apesar de otimismo recente, investidores apresentam ainda certa cautela e buscam investimentos dos quais podem sair facilmente

Vitor Azevedo

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O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, vem, por conta de uma série de fatores, tendo um bom desempenho ao longo de 2022, com uma alta de mais de 12% desde o início do ano – maior do que a registrada pela maioria dos seus pares internacionais. Isso não ocorre, porém, com o mais relevante índice de Small Caps (SMLL) da B3, que no mesmo período caiu cerca de 1,2%. O motivo para a discrepância, segundo especialistas, tem nome: liquidez.

Nesta semana, o primeiro turno das eleições foi um gatilho de alta para o Ibovespa. Os resultados afastaram parcialmente os temores de que o Brasil possa ter um governo mais à esquerda, com medidas econômicas heterodoxas. Isso porque a direita e a centro-direita ganharam espaço no congresso e o esperado é que as duas casas barrem iniciativas “mais ousadas”.

Antes disso, contudo, os ativos de risco brasileiros já vinham performando melhor do que as Bolsas americanas.

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O fato de o Banco Central ter iniciado seu ciclo de alta de juros mais cedo do que o restante das instituições monetárias mundo afora, o que possivelmente pode levá-lo também a começar seu ciclo de baixa antes, é parte da explicação do movimento que trouxe um fluxo de capital para as ações locais.

Os cenários de consolidação de um governo mais ao centro e de início de queda da Selic, apesar de terem ganhado força, no entanto, ainda não são gatilhos confirmados e dependerão muito do desenrolar de certas tramas – se o próximo Governo Federal optar por uma política fiscal menos responsável, por exemplo, é possível que ambos caiam por terra.

“Nesse momento, pelas incertezas, os investidores locais e estrangeiros estão buscando liquidez, se importando menos com o preço”, comenta Werner Roger, cofundador da gestora Trígono. “Eles estão comprando Brasil, mas estão comprando também a opção de sair daqui rapidamente”.

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O volume de capital negociado em ações ordinárias da Vale (VALE3) nesta quinta, para fins de comparação, está em R$ 2,1 bilhões. Também hoje, as negociações envolvendo as ações da Cogna (COGN3), uma small cap relativamente líquida, somam R$ 173,2 milhões.

As negociações dos papéis das companhias menores da Bolsa brasileira são, então, consideravelmente menores do que as transações envolvendo as chamadas blue chips.

Quando grandes investidores, como gestoras e fundos internacionais, montam posições em uma empresa pequena eles podem enfrentar dificuldades na hora de sair.

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“Os investidores, por enquanto, não querem ficar reféns da liquidez. Não querem ficar presos 30 dias em uma ação. Se um determinado candidato vencer e vier com falas negativas, eles saem amanhã. Se outro vencer e vir com uma boa sinalização para a economia, aí sim, eles reforçarão suas posições”, completa Roger.

Segundo o especialista da Trígono, com as incertezas atuais, apenas quem está aportando em small caps, até então, são gestores especializados no assunto, que fazem o chamado stock picking, acompanhando cada empresa de perto.

Mais suscetíveis a mudanças de cenários macroeconômicos

Além da busca por liquidez, as companhias menores acabam ficando de fora do “primeiro momento de otimismo” também por sofrerem mais nos seus balanços no caso da melhora do cenário macroeconômico não sair do papel.

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“Quando temos um mercado ruim, os players correm para ativos que têm maior liquidez e também balanços maiores”, acrescenta Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed. “As empresas maiores têm mais facilidade em captar dívida ou emitir capital. No caso das small caps, isso é mais difícil e mais custoso”, relembra.

Ele cita, como exemplo, o recente caso da CVC Brasil ( CVCB3).

Por ter um balanço menos robusto, com menor faturamento, e estar em uma situação mais delicada após a pandemia, a companhia de turismo teve de se submeter a taxas de juros elevadas em um empréstimo feito para reforçar seu caixa.

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“A CVC emitiu uma dívida acima do CDI, com 6% ou 7% de spread. É mais de 20% no ano de custo financeiro”, contextualiza. “Para essas empresas, quando o juros começar a cair, o endividamento delas vai ficar mais barato. O resultado financeiro e o lucro melhoram. Não precisa nem melhora operacional para a última linha melhorar muito”.

No caso de o futuro governo brasileiro, seja qual for o presidente, seguir uma política fiscal responsável, a necessidade do Banco Central de manter as taxas de juros mais altas por mais tempo pode se dissipar. E isso deve trazer alívio para os balanços das small caps.

“A diferença entre Ibovespa e o índice de Small Caps, no longo prazo, tende a se corrigir. O mercado está dando sinais de que há uma retomada da economia. As incertezas também tendem a passar”, diz Rodrigo Wainberg, head de análise na Suno Research. “Os investidores, uma hora, passam a olhar para esses ativos”.

De qualquer forma, as small caps acabam recebendo o fluxo por último, por fim, por um motivo bem menos complexo – simplesmente por serem menos conhecidas.

No primeiro momento, quando as coisas começam a melhorar no país, investidores estrangeiros, principalmente, buscam os papéis mais famosos. É apenas quando estes ficam caros, não compensando, é que a atenção é distribuída para os papéis menores.

De qualquer forma, essas companhias devem começar a subir mais apenas após a dissipação das incertezas – se isso realmente acontecer.

“Ainda estamos em um período de incertezas. Apesar do término da pandemia, agora temos a eleição. Quando passa uma crise, no entanto, o índice de Small Caps sobe muito mais rápido do que o Ibovespa. Volta o fluxo de compra, a procura, e não há muita oferta”, finaliza Werner Roger.