Com Lava-Jato e popularidade e economia em queda, uma semana dura para Dilma

Somente a partir de hoje se poderá medir todos os reflexos da avalanche de notícias ruins para o governo de sexta-feira para cá: aumento das demissões, crescimento da inflação, prisão dos presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, avaliação positiva da presidente em 10%

José Marcio Mendonça

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Com o pesado noticiário negativo para o governo e seu principal partido que tomou conta da imprensa na sexta-feira e culminou no domingo com a divulgação pelo DataFolha da última pesquisa sobre a aceitação do governo pela população, a previsão é de que o clima de hoje na reunião do Conselho Político do governo, com a presidente Dilma Roussef no Palácio do Planalto suba muitos graus além do nível de ebulição normal que cercam esses encontros, com as constantes cobranças da presidente a seus auxiliares políticos.

Na sexta-feira o caldeirão político começou a ferver logo de manhã com a prisão em mais uma etapa da Operação-Lava Jato, de executivos das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, entre eles presidentes, respectivamente Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo.

Mais uma vez o governo foi surpreendido com a notícia sobre as prisões e no mundo oficial comentava-se, com lamentos, que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, perdeu de vez o controle da Política Federal. Ele só soube da operação Erga Omnes quando ela já estava para ser deflagrada.

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A ação da PF assustou por algumas de suas prováveis conseqüências:

  1. A possibilidade de as investigações da Operação Lava-Jato se aproximarem mais do PT, de Lula e da própria campanha da presidente Dilma Rousseff, dada a proximidade dos dois presidentes das empreiteiras presos, principalmente Marcelo Odebrecht, com Lula e o Palácio do Planalto. As duas empresas financiaram também a oposição.
  2. Os efeitos sobre a confiança dos credores externos no Brasil, principalmente sobre as possíveis concessões de infraestrutura. Pode influenciar também a própria participação da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, as duas maiores empreiteiras brasileiras, nas concessões. A agência de classificação de riscos Moody’s já colocou a nota das duas empreiteiras sob revisão.
  3. Os sobre o crédito dos bancos, em razão dos financiamentos às duas empresas. Não se teme um calote ou coisa parecida, mas teme-se uma retração maior ainda na concessão de empréstimos.
  4. O efeito dominó disso tudo sobre a economia, já numa situação extremamente delicada, como mostram três outras notícias da sexta-feira – inflação em alta, crescimento em queda, desemprego em alta (ver mais em “Outras notícias” abaixo)

 Avaliação só melhor que a de Collor

Para culminar, veio no domingo a divulgação pelo DataFolha de uma nova pesquisa de avaliação do governo, mostrando que as ações dos últimos meses do Palácio do Planalto, para fazer a presidente mais presente na mídia e apresentar-se mais em de inaugurações, e os lançamentos de alguns programas da chamada “agenda positiva”, como o Plano de Safra e o Programa de Investimentos em Logísticas, não ajudaram a aumentar em nada as notas positivas da presidente.

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Pelo contrário, a avaliação do governo continuou caindo. Agora, 65% dos entrevistados consideram ruim e péssima a ação da presidente, contra 60% na pesquisa anterior, índice superior apenas ao do ex-presidente Collor no auge da temporada do impeachment, com 68% negativos.. A nota para bom e ótimo de Dilma ficou em 10% (13% anteriormente).

Especificamente sobre o ajuste fiscal, que encontra fortes resistências nos próprios aliados e nas centrais sindicais, 63% dizem que ele afeta mais pobres, 29% que ele afeta igualmente ricos e pobres e apenas 3% que ele afeta mais o mais ricos. As razões principais, segundo análise de Mauro Paulino e Alessandro Janoni, do DataFolha, foram a insegurança com salário e emprego.

A única reação pública oficial foi do ministro da Comunicação, Edinho Silva que disse que é hora do governo ter humildade.

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Por incrível coincidência, o jornal “O Globo” de sexta-feira trazia uma reportagem sobre uma palestra feita por Lula para líderes religiosos, comentada pela “Folha” e pelo “Estadão” de domingo, na qual ele disse que o PT, ele e Dilma estão no fundo do poço (usou a metáfora “volume morto”) e fez pesadas queixas em relação ao comportamento da presidente.

Imposto maior sobre heranças e doações

O site do PT desde ontem traz uma matéria dizendo que os militantes petistas não devem acreditar em “boatos”, referindo-se a informações/análises sobre mais esta etapa da Operação Lava-Jato.

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Os novos detidos na Operação começarão a depor a partir de hoje. Segundo também o “Globo”, citando o delegado Igor Costa, da PF, um dos integrantes da Lava-Jato, já há indícios suficientes para pedir a incriminação de todos eles esta semana ainda.

É debaixo desse clima que o governo tentará votar esta semana a proposta de aumento da contribuição empresarial para a Previdência, na chamada “reoneração” tributária. Sem as alterações que o relator quer impingir.

Depois disso, vai começar a aprofundar as discussões a respeito da redução da meta de superávit primário para este ano de 1,1% do PIB para 0,8% ou 0,9%. Porém, mesmo que o ministro da Fazenda consiga aprovar intacto o seu projeto de “reoneração”, parece difícil chegar a um número minimamente satisfatório, palatável para os agentes econômicos, de superávit primário sem novas fontes de arrecadação.

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Assim, a criação (ou aumento) de algum imposto é praticamente certa. A volta da CPMF, como se diz popularmente, subiu no muro. O “Valor Econômico de hoje informa que o governo está desenhando uma proposta para aumentar o imposto estadual sobre heranças e doações e partilhar a arrecadação com a União e os municípios, reservando a maior fatia para os governadores.

Outros destaques dos jornais

 Sábado

– INFLAÇÃO EM ALTA – Pressionada pelos preços de alimentos e despesas pessoais, a prévia da inflação oficial brasileira acelerou ainda mais em junho, acima do esperado e a maior taxa para esses meses em quase duas décadas, deixando mais complicada a tarefa do Banco Central de manter sob controle as expectativas de alta de preços. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) registrou alta de 0,99% neste mês, bem acima do avanço de 0,60% visto no mês anterior e a maior para junho desde 1996 (quando foi de 1,11%), informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.

– CRESCIMENTO EM BAIXA – A economia brasileira dá sinais de que a recessão econômica é maior do que a esperada pelos especialistas. A queda da atividade em abril foi de nada menos que 0,84%, nos cálculos do Banco Central, divulgados nesta quinta-feira. É mais que o dobro da expectativa dos economistas do mercado financeiro, que era de uma retração de 0,4% do IBC-Br, o índice de crescimento do país criado pela autoridade monetária. Desde outubro do ano passado, a economia encolhe, com exceção de fevereiro quando a atividade cresceu. Os dados publicados pelo BC revelam ainda que a queda da economia em março foi maior que a divulgada no mês passado. A autoridade monetária revisou a conta de uma retração de 1,07% para 1,51%. Com isso, a economia brasileira encolheu 0,9% no primeiro trimestre em vez de um recuo de 0,81%, divulgada no mês passado.

– EMPREGO FORMAL EM QUEDA – O Brasil fechou 115.599 vagas formais de trabalho em maio, mostrou o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. É a primeira vez em que as demissões superam as admissões em um mês de maio desde 1992, segundo dados históricos do próprio ministério. O saldo negativo é resultado de 1.464.645 admissões contra 1.580.244 demissões no mercado de trabalho. Além disso, o desempenho foi muito pior que o esperado, já que a mediana das expectativas de analistas apontava para o fechamento de 38 mil postos no mês, segundo pesquisa da Reuters. Em abril, foram fechadas 97.827 vagas no país. Ou seja, em maio frente a abril a queda foi de 0,28%. No ano, o mercado formal brasileiro acumula perda de 243,9 mil vagas.

E MAIS:

Sábado

– “Desembolsos do BNDES recuam 20% com retração na economia” (Globo)

– STJ recebe inquérito para investigar Pimentel” (Estadão)

– “[Universidades] Federais têm 47% do investimento cortado” (Estadão)

Segunda

– “Credores consideram nova proposta grega boa para negociação” (Globo)

– “Cresce o número de dívidas bancárias em atraso no país” (Globo)

– “Calote na conta de luz aumenta 13,9%” (Estadão)

– “Pedaladas com bancos estatais continuam” (Estadão)

LEITURAS SUGERIDAS

– Domingo

    Mauro Paulino e Alessandro Janoni – “Insegurança com salário e emprego é principal frustração” – Folha

– Segunda

  1. Editorial – “Brasil no pior dos mundos” (diz que o país enquanto o mundo rico sai da crise com inflação muito baixa, o país a retração é acompanhada de preços em disparada e contas públicas em desordem. Diz que estamos em estagflação) – Estadão
  2. Valdo Cruz – “Lula vai ao fundo do poço” (sobre as dificuldades que começam a se abater também sobre o ex-presidente) – Folha
  3. Sergio Leo – “Levy quer discussão da avaliação da qualidade do gasto” (diz que o Ministério da Fazenda vai divulgar esta semana estudo de avaliação da eficiência dos gastos do governo em diversas áreas) – Valor
  4. Editorial – “Arno Agustín quer fazer crer que agiu sozinho” (diz que é difícil acreditar que o ex-secretário do Tesouro não se reportava a ninguém nas mágicas com o Orçamento) – Valor