Como o mercado reagiu à nomeação de Yellen para a presidência do Fed?

Diretor do FMI, membros do Federal Reserve, BCE e outras importantes entidades econômicas se mostram otimistas com o anúncio de Obama

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A nomeação da atual vice-chairwoman do Federal Reserve, Janet Yellen, como sucessora de Ben Bernanke na liderança da mais poderosa autoridade monetária do mundo tem movimentado fortemente os mercados e gerado muitas especulações sobre o futuro da economia norte-americana nesta quarta-feira (9). Com a recente confirmação de Yellen como a primeira mulher a presidir o Fed, feita em anúncio pelo presidente Barack Obama nesta tarde, acredita-se em uma atuação branda, de cautela em relação à frouxa política monetária atual.

No momento em que se discute com cada vez mais intensidade em que patamar estaria a recuperação econômica dos Estados Unidos, que, desde que entrou em crise, conta com a injeção de até US$ 85 bilhões mensais na economia, mais se especula sobre a possibilidade de retirada nos estímulos monetários para os próximos meses. Yellen, assim como Bernanke, é taxada como “dovish”, ou seja, mais propensa a essa política, conhecida como QE3 (Quantitative Easing 3).

Tal rótulo faz com que o mercado acredite que a sucessora de Ben Bernanke, neste momento, dê mais peso aos números referentes à taxa de desemprego do que àqueles que apontem para o início de um surto inflacionário – os dois principais indicadores levados em consideração pelo Fed para uma possível retirada do QE3. Com isso, as expectativas são de que os estímulos continuem por mais algum tempo antes que sofram cortes gradativos até serem zerados.

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Aspas do mercado
“É uma boa noticia que a administração esteja se movendo em direção a definir quem será o próximo presidente do Fed”, disse José Viñals, diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional), em matéria publicada pelo Valor Econômico. “Se Yellen for nomeada, posso dizer que ficaria muito feliz. Nos últimos anos, tive muito contato com ela, nos encontramos em várias reuniões. Ela é excelente, tem uma formação muito sólida, um senso acadêmico muito bom. É uma boa formadora de políticas públicas, tem um tremendo bom senso. Não posso pensar em ninguém mais preparado do que Janet Yellen para esse serviço”.

“Como o maior banco central do planeta, qualquer decisão que eles tomarem respinga sobre outras economias avançadas e mercados emergentes”, afirmou Jörg Asmussen, membro do BCE (Banco Central Europeu), em entrevista à CNBC.

“Com Janet Yellen, é provável que o Fed persiga com sua política monetária ultra-frouxa bem além do limite atual de desemprego em 6,5% e, finalmente, empurra para uma inflação mais elevada”, disse Gabriel Stein, chefe-executivo do Fórum Oficial de Instruções Monetárias e Financeiras, à CNBC.

“Ela é ainda mais branda que Bernanke, mas não há ninguém que possa dizer que ela não está apta ao cargo, tendo em vista a experiência que tem”, disse J. Alfred Broaddus, ex-presidente do Fed em Richmond, à Bloomberg.

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“Yelen vem de dentro do Fed, logo, tem experiência. Ela tem todas as qualidades necessárias para ser uma excelente presidente do Fed”, argumentou Jean-Claude Trichet, ex-presidente do BCE, à Bloomberg.

“Ela está inserida na cultura. Ninguém entente a cultura com tantas perspectivas como ela”, afirmou Robert Eisenbeis, economista-chefe da Cumberland Advisors em Sarasota e ex-diretor de pesquisa do Fed de Atlanta, à Bloomberg.

“Ela assegura a continuidade [do QE3], enquanto, por outro lado, é extremamente qualificada. Eu não sei se já houve um presidente do Fed com tão amplo conjunto de credenciais que ela”, disse o economista-chefe de assuntos internacionais no Citigroup, Nathen Sheets, também à Bloomberg.

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“Acredito que ela esteja fundamentalmente comprometida à continuidade, que nós ainda vamos ter problemas e ainda precisaremos da política monetária para entregar um resultado justo. Há uma resistência lá. E acho que há uma resistência a ela que não é do Bernanke”, afirmou Christina D. Romer, ex-chairwoman do conselho econômico de Obama.

“Como chairwoman do Fed, nós poderíamos esperar que Janet Yellen se aproxime da difícil tarefa de desacelerar uma era de ultra-frouxidão de políticas monetárias em uma tendência similar à de seu predecessor – com cautela. Com a nomeação de Yellen para a presidência, continuamos acreditando que o Fed deveria começar a cortar gradualmente seu programa mensal de injeção de US$ 85 bilhões logo em dezembro e que seu ritmo deverá ser lento, e depender da força da economia norte-americana”, projetou o chefe de investimentos da BlackRock, Russ Koesterich.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.