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Na noite desta quarta-feira (1), Arthur Lira (Progressistas) foi eleito para a presidência da Câmara e Rodrigo Pacheco (PSD), para a do Senado. As vitórias dos dois já eram dadas como certas há algum tempo, mas, mesmo assim, investidores e especialistas estavam monitorando de perto as votações e, agora, interpretam que elas trouxeram um tom um pouco positivo para o mercado de capitais.
A grande questão da disputa era como elas ditariam a força do Poder Executivo: a dinâmica das votações ajudaria a definir como será a influência do governo, chefiado pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva, no funcionamento do Legislativo.
“A eleição do Congresso mostrou alguns pontos interessantes. Entraram os candidatos preferidos do Governo atual mas, ao mesmo tempo, houve uma votação significativa no Senado para o candidato da oposição. Esperava-se por volta de 20 votos e foram mais de 30”, diz Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
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No Senado, Rogério Marinho (PL), que foi ministro do ex-presidente Jair Bolsonaro, conseguiu 32 votos, contra 49 de Pacheco. Com isso, é esperado que a governabilidade do PT, historicamente um partido que prega o expansionismo fiscal, fique enfraquecida.
“É algo expressivo do ponto de vista de governabilidade, uma vez que o Governo terá de negociar com o pessoal que votou no Marinho nos próximos dois anos para conseguir aprovar suas pautas”, acrescenta Matheus Spiess, analista da Empiricus.
Na Câmara dos Deputados, Arthur Lira não enfrentou muitas dificuldades para se sagrar presidente. Com 464 votos, o político, que é um articulador do Centrão e que também teve apoio do presidente Lula, teve uma votação recorde na casa.
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“A margem da vitória de Arthur Lira merece destaque. O consenso previa algo por volta de 450 votos e ele conseguiu mais de 460, muito mais do que na sua primeira eleição, há dois anos”, diz Spiess. “Neste contexto, há espaço maior para uma barganha dele frente a Lula. E como ele se vê representante do centro e da centro direita, visto seu histórico, é possível que ele sirva como um freio para ímpetos heterodoxos e menos mercadológicos, o que seria positivo”.
Ao mesmo tempo em que os resultados podem servir como uma barreira para medidas econômicas mais polêmicas, para os analistas, eles não deixam o governo petista engessado. Há força suficiente por exemplo para emplacar pautas importantes como o novo arcabouço fiscal, que substituirá o teto de gastos, e a Reforma Tributária.
A combinação dos resultados na Câmara e no Senado ajuda a diminuir, ao menos momentaneamente, o risco fiscal no Brasil.
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Os discursos de Lira e de Pacheco também animaram parcialmente os investidores.
Antes da votação, o presidente da Câmara dos Deputados afirmou que não terá uma relação de subordinação com o Executivo, mas que quer estabelecer um “pacto para aprimorar e avançar em políticas públicas”. Além disso, defendeu a independência do Banco Central, que vem sendo atacada pelo PT, e o Marco de Saneamento, que definiu como “avanços liberais”.
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Já Pacheco intercedeu pela a reforma tributária e pela responsabilidade fiscal. “Temos de cobrar do Governo Federal o corte de despesas. Temos esse compromisso de permitir esse governo, com a cooperação do Congresso, possa não errar, independente da fiscalização”, pontuou.
“O discurso é de que temos o Congresso dividido e a esquerda mais fraca. Há, ainda, os discursos pós-eleições, que culminaram em algum otimismo do mercado”, diz Enrico Cozzolino, analista da Levante. “Acho que temos de olhar com calma. O consenso, na opinião pragmática, é que caminharemos para aprovações de algumas reformas, sendo que a tributária é a primeira da fila”.