SÃO PAULO — A notícia de que o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, deixará o governo nas próximas semanas pegou o mercado de surpresa. Ele é um dos nomes mais fortes na equipe de Paulo Guedes e sua saída aumentou as incertezas sobre se o próprio ministro da Economia pode também deixar o cargo em algum momento.
“O secretário Mansueto é um dos principais especialistas na área fiscal do país, tem sido uma voz consistente e confiável sobre a necessidade de acelerar e aprofundar o ajuste fiscal, além de ter um bom relacionamento e reputação com as principais partes interessadas no Congresso, na mídia e entre os investidores”, destacou Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs.
“Em nossa avaliação, a saída do secretário Mansueto é uma grande perda para o governo Bolsonaro e a equipe econômica. O momento de sua partida também é inoportuno, dada a deterioração do quadro fiscal e a necessidade de pressionar por reformas e outras medidas para ancorar novamente a dinâmica da dívida”, completou.
Para Ramos, o lado positivo é que a saída de Mansueto “provavelmente não é um sinal de opiniões divergentes sobre políticas dentro da equipe econômica e, como tal, provavelmente não levará a uma grande mudança na orientação macroeconômica”.
Ele destacou que Guedes continuará sendo o principal formulador de políticas econômicas do governo Bolsonaro e deverá continuar a perseguir uma agenda liberal/reformista. Embora o ministro da Economia tenha afastado a hipótese de deixar o governo neste momento, essa é uma possibilidade que está nas projeções de cenários mais drásticos das instituições financeiras para os próximos meses.
A pedido do InfoMoney, estrategistas de quatro casas fizeram estimativas para o principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, para o dólar e para a taxa básica de juros, a Selic, até o fim de 2020. Elas levaram em consideração quatro cenários. No primeiro, Paulo Guedes fica no governo e não há uma segunda onda global de contaminação pela Covid-19.
No segundo, Guedes fica no governo, mas há uma segunda onda de contaminação global pela Covid-19. Já o terceiro e o quarto cenários consideram a saída do ministro da Economia do governo, com e sem uma segunda onda de contágio do coronavírus no mundo.
As instituições financeiras que enviaram suas projeções foram a XP Investimentos, a Warren, a Genial Investimentos e a Gauss Capital. As projeções individuais de cada casa não serão divulgadas, mas sim um intervalo que aponta a menor e a maior estimativa entre todas as que foram enviadas pelos participantes para cada cenário. Veja o resultado abaixo.
CENÁRIO 01 | Guedes fica, e não há uma segunda onda de contaminação do coronavírus |
O que acontece com o Ibovespa? | Pontuação oscila de 85.000 pontos a 120.000 pontos |
O que acontece com o dólar? | Moeda oscila de R$ 4,50 a R$ 5,20 |
O que acontece com os juros? | Selic entre 2% ao ano e 2,25% ao ano |
CENÁRIO 02 | Guedes fica, mas há uma segunda onda de contaminação do coronavírus |
O que acontece com o Ibovespa? | Pontuação oscila de 70.000 pontos a 105.000 pontos |
O que acontece com o dólar? | Moeda oscila de R$ 5,00 a R$ 6,00 |
O que acontece com os juros? | Selic entre 1% ao ano e 2,25% ao ano |
CENÁRIO 03 | Guedes sai, mas não há uma segunda onda de contaminação do coronavírus |
O que acontece com o Ibovespa? | Pontuação oscila de 60.000 pontos a 110.000 pontos |
O que acontece com o dólar? | Moeda oscila de R$ 5,30 a R$ 6,50 |
O que acontece com os juros? | Selic entre 2% ao ano e 3,50% ao ano |
CENÁRIO 04 | Guedes sai, e há uma segunda onda de contaminação do coronavírus |
O que acontece com o Ibovespa? | Pontuação oscila de 54.000 pontos a 90.000 pontos |
O que acontece com o dólar? | Moeda oscila de R$ 5,50 a R$ 7,00 |
O que acontece com os juros? | Selic entre zero e 2,50% ao ano |
No cenário um, com Guedes no governo e sem uma segunda onda de Covid-19, o Ibovespa pode chegar aos 120.000 pontos até dezembro. “A questão principal do Ibovespa vai ser determinada pelos resultados financeiros das empresas no segundo trimestre. No momento a expectativa está positiva com relação às perdas e solidez das empresas. No entanto, só teremos de fato maior informação a partir dos resultados do segundo semestre, período de maior impacto da pandemia”, disse a Warren.
Para o dólar, as projeções apontam uma taxa de câmbio entre R$ 4,50 e R$ 5,20 no primeiro cenário. Já para a Selic, ela deve ficar entre 2% e 2,25% ao ano, segundo as avaliações. Atualmente, a taxa está em 3% ao ano e o Banco Central vai decidir amanhã se ela continua nesse patamar ou se cai novamente.
No cenário dois, com Guedes no governo e uma segunda onda global de Covid-19, as projeções para o Ibovespa caem para uma máxima de 105.000 pontos em 2020. “Com Paulo Guedes, há maior probabilidade de sustentabilidade fiscal ao longo dos próximos anos. Menor incerteza e maior crescimento potencial”, disse a equipe de macro da Genial. “Uma segunda onda deve interromper a volta do crescimento econômico no segundo semestre.”
As projeções do cenário dois para o dólar apontam uma taxa de câmbio entre R$ 5,00 e R$ 6,00 até dezembro, enquanto a Selic pode terminar 2020 entre 1% e 1,25% ao ano. “Neste caso, a nova desaceleração global vai pesar sobre o Ibovespa e o câmbio, forçando o Banco Central a cortar mais os juros para estimular a economia”, destacou a XP.
Já no cenário três, que considera a saída de Guedes, mas sem uma segunda onda de Covid-19, as projeções para o Ibovespa chegam a 60.000 pontos em dezembro — bem abaixo do atual patamar, na casa dos 93.800 pontos. Para o dólar, as estimativas sob essas condições sugerem uma taxa de câmbio entre R$ 5,30 e R$ 6,50, enquanto que a Selic poderia terminar 2020 entre 2% e 3,50% ao ano.
“Nesse cenário, um fator importante será o novo ministro da Economia. Diante de uma maior expansão das políticas fiscais, nesse momento, o Ibovespa pode vir a subir mais. Isso está ligado a que tipo de política econômica será feita pelo novo ministro. Caso não seja um ministro aceito pelo mercado, o efeito pode ser bem negativo”, destacou a Warren.
“A instabilidade política seria ampliada, podendo causar saída de capital externo na expectativa de uma piora da economia brasileira”, completou. Sobre os juros, a explicação de ele continuar dentro do patamar atual seria a “pressão sobre a taxa de juros estrutural”.
No cenário mais drástico, e o que tem a menor probabilidade de acontecer segundo todos os participantes, o Ibovespa poderia terminar dezembro entre 54.000 pontos e 90.000 pontos. Mesmo a maior projeção é menor do que o atual patamar do índice. Este cenário considera tanto a saída de Guedes quanto a existência de uma segunda onda global de Covid-19.
“O mercado voltaria a testar mínimas e o câmbio renovaria suas máximas, enquanto o Banco Central teria que cortar os juros ainda mais para estimular a economia”, destacou a XP. As projeções para o câmbio no cenário quatro, o mais drástico, é de uma taxa entre R$ 5,50 e R$ 7,00 em dezembro, enquanto a Selic poderia ficar entre zero e 2,50% ao ano, de acordo com os estrategistas.
“Esse seria o pior cenário no momento. Instabilidade política associada a mais choques decorrentes da pandemia. Nesse cenário, existe a possibilidade ainda maior de saída de capital estrangeiro, ampliando o efeito dos choques de oferta e demanda. O preço dos ativos cairia, tanto decorrente dos efeitos sobre a saúde financeira das empresas, quanto da saída de capital estrangeiro do Ibovespa. O índice poderia retornar às baixas de 23 de março”, disse a Warren.
“O aumento da incerteza ampliaria a saída de capital externo por dois fatores, exercendo uma forte pressão sobre a taxa de câmbio. Nesse cenário, e com efeitos mais persistentes da pandemia, é possível a busca de uma taxa de juros ainda menor”, concluiu.
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