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Nesta sexta-feira (13), começa oficialmente a temporada norte-americana de balanços do quarto trimestre de 2022 (4T22), com a divulgação dos números de Bank of America, JPMorgan e Wells Fargo.
Para especialistas, as previsões não são das melhores para as empresas em geral. Com a inflação ainda em patamares elevados e o Federal Reserve apertando as condições monetárias, o esperado é que as empresas tragam, no consolidado, a primeira contração de lucros desde o terceiro trimestre de 2020.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Research XP, utilizando dados da Bloomberg, o consenso é que as companhias que compõem o S&P 500, principal índice acionário dos Estados Unidos, tragam uma redução de 4,4% em seus ganhos líquidos – isso na base anual.
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“A projeção negativa para o quarto trimestre ilustra que os analistas já estão incorporando os efeitos da desaceleração econômica por conta de juros em patamares contracionistas e pela inflação ainda elevada, tanto nos EUA quanto globalmente”, destacam os analistas da XP Jennie Li e Rafael Nobre.
Ainda de acordo com a pesquisa, seis dos 11 setores do S&P 500 devem reportar queda dos lucros. São eles: materiais básicos, tecnologia, utilidades públicas, comunicação, financeiro e imobiliário.
“Dentre as principais causas para esta contração, permanecem os mesmos temas do trimestre anterior, como aumento nos custos de mão de obra, interrupções nas cadeias de abastecimento, taxas de juros mais altas, um dólar muito forte contra outras moedas e ainda uma elevada inflação global”, defendem os especialistas da corretora.
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Para além de baixa dos lucros, queda das receitas
No terceiro trimestre, companhias do setores de comunicação e de tecnologia já reportaram queda do faturamento por conta do que seria o “início da crise”.
Em períodos de incertezas no âmbito econômico, empresas que contratam serviços de marketing e de publicidade tendem, já no primeiro momento, a reduzirem os gastos nessas frentes.
Foi o caso da Alphabet, dona da Google, no terceito trimestre,por exemplo, bem como da Meta, dona do Facebook.
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“Empresas como startups, que estão começando, são as que gastam mais com marketing e com publicidade. Devido ao custo maior de capital, dada a alta de juros, há um enxugamento do caixa dessas companhias, que começam a revisar gastos”, explica André Kim, sócio e analista da GeoCapital.
Por conta disso, os setores de comunicação e de tecnologia, para além de estarem no grupo que deve ver seus lucros caindo, são destaques quando o assunto é recuo do faturamento. O primeiro setor deve ter sua receita, de acordo com as projeções da Bloomberg, caindo 5,6%, e o segundo, 6,5%. Quanto aos lucros, o consenso projeta baixas de 18,2% e 6,5%, na mesma ordem.
Outro setor que também deve ver sua receita caindo é o financeiro, com o consenso Bloomberg prevendo um recuo de 5,3% do faturamento na base anual, e de 23,2% para os lucros.
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“Pensando em bancos, os que têm portfólios mais completos, com parte comercial e de investimentos, foram salvos nos últimos trimestres pela parte de trading, com a volatilidade impulsionando as operações de juros e moedas”, explica Kim. “A parte de investimentos, com M&As e IPOs, patinaram, e a comercial vêm freando de forma contínua, com consumidores sendo impactados pela alta dos juros e pelas incertezas”.
Além dos juros mais altos dificultarem o acesso ao crédito, a nova etapa da crise, com demissões em massa, mantém as pessoas longe dos empréstimos, uma vez que elas não podem garantir que estarão empregadas no médio e longo prazo.
Já falando de lucros, a linha inferior do balanço deve ser impactada ainda pelas maiores provisões, com os bancos se preparando para enfrentar a alta da inadimplência.
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São esses mesmos fatores que levam ao último setor do S&P 500 que deve ver o seu faturamento caindo. As companhias ligadas à construção de imóveis, de acordo com as projeções, devem vir com a receita líquida caindo 0,2%.
Problemas na frente dos gastos
Ainda no setor imobiliário, ele deve ser o que mais sofrerá com baixa dos lucros, com queda de 31,7%, mesmo com o consenso apostando que sua receita ficará praticamente estável – e isso se dá pelo problema na parte dos custos, com a inflação ainda alta.
“As vendas devem ser fortes, com crescimento da receita para a maioria dos setores, mas o lucro por ação deve ficar comprimido. O mercado de trabalho está apertado, com desemprego baixo, e custos de matéria prima ainda altos”, expõe Guilherme Zanin, analista da Avenue.
O setor de utilidades públicas deve ter seu faturamento avançando 6,5% na base anual mas, também impactado pelos custos, deve ver seu lucro cair 8,4%. A receita do setor de materiais básicos deve avançar 2,5%, mas o lucro tende a cair 1,7%.
Setores como o de bens de consumo e de consumo discricionário também são impactados pela alta dos preços, mas, de acordo com o consenso Bloomberg, o esperado é que eles tragam alta do faturamento e alta de lucro.
Em parte, porém, especialistas apontam que essa melhora deve acontecer por conta ainda da fraca base de comparação.
“Entendemos que as receitas de consumo discricionário virão maiores, por conta da inflação, mas as margens devem ficar pressionadas. Quando quebramos a análise para os produtos, vemos que há uma mudança dos gastos com produtos como eletrodomésticos e eletrônicos para gastos com viagens e restaurantes. Nesse sentido, o consumo compila tudo”, explica Zanin.
André Kim pontua ainda que, além do setor de viagens e restaurantes, a indústria de bens de luxo também deve continuar resiliente. “Os dois primeiros são setores que surfam com o catalisador da pandemia, que freou as buscas por gastos nessas categorias. Já o segundo não costuma ser impactado no primeiro momento de uma crise, por ser destinado a pessoas com maior poder aquisitivo”, aponta.
Quando o assunto é consumo, a melhora de algumas cadeias de produção, com o maior enfraquecimento da pandemia, também deve melhorar as margens. Isso se repete também, parcialmente, para os setores industrial e de saúde.
O setor de bens de consumo deve ter seu faturamento crescendo 2,9% no ano e seu lucro, 10,3%. O de consumo discricionário deve trazer uma receita com alta de 2,1% e um lucro com alta de 10,5%. As top lines dos setores de saúde e industrial devem crescer, respectivamente, 4,6% e 5,7%, enquanto as bottom devem saltar 39,8% e 21,2%.
Por fim, o setor que deve trazer o melhor resultado do quarto trimestre é o mesmo que se destacou durante todo o ano de 2022. Companhias de energia, por conta da alta do petróleo e do gás natural, devem ter tanto suas receitas quanto seus lucros crescendo consideravelmente, com avanço de 16,4% e 53,9%, respectivamente.