Criptomoedas verdes: como o mercado cripto está passando de vilão a mocinho do meio ambiente

Por causa da pressão do mercado e da crescente conscientização sobre o aquecimento global, as criptos estão cada vez mais amigáveis ao meio ambiente

Lucas Gabriel Marins

(Kanchanara/Unsplash)
(Kanchanara/Unsplash)

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O mercado de criptomoedas é visto por muitos ambientalistas como um dos grandes vilões do aquecimento global. Essa má fama, que sempre rondou o setor, repercutiu ainda mais em 2018 após um estudo publicado na prestigiada revista Nature Climate Change.

No material, pesquisadores alertaram que o processo de produção de Bitcoin (BTC), chamado de mineração, poderia elevar a temperatura do planeta em 2º C em menos de três décadas devido ao consumo energético associado à atividade.

De lá para cá, no entanto, muita coisa mudou. Por causa da pressão do mercado e da crescente conscientização sobre os perigos do aumento de CO2 para a saúde do planeta e dos seres vivos, os criptoativos começaram a ficar cada vez mais “verdes” e próximos da pauta ESG (sigla que condensa ações de preservação ambiental, sociais e de governança corporativa).

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As mineradoras de BTC, por exemplo, se uniram para reduzir o uso de combustível fóssil. No segundo trimestre de 2022, de acordo com relatório do Bitcoin Mining Council (um fórum global de empresas do setor), 59% dos seus membros usaram energia renovável, valor 6% superior ao registrado no mesmo período do ano passado.

Também em 2021, pelo menos 250 membros do setor assinaram o Crypto Climate Accord (CGA), um acordo que visa acelerar a descarbonização do setor.

Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset Management, disse à reportagem do InfoMoney que os mineradores são muito afetados pelos preços de energia. Por isso, falou, hoje em dia é muito comum que grandes empresas do setor optem por fontes renováveis em suas operações. “Os modais de geração mais poluentes tendem a ser mais caros”.

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Para Ludolf, a mudança para um mercado mais sustentável também atende uma demanda dos investidores, especialmente os institucionais, cada vez mais ligados a questões que envolvem a preservação da natureza. “Os institucionais são mais sensíveis à essa pauta. Não só na parte de meio ambiente, mas na parte de inclusão, transparência e governança também”, falou.

O caso do Ethereum

O Ethereum (ETH), segunda maior criptomoeda do mercado, talvez seja o maior exemplo dessa nova empreitada cripto amigável ao meio ambiente. No final de setembro, o projeto completará a mudança de seu mecanismo de mineração, iniciada em 2020.

Chamada de “Merge” (fusão, em português), a rede passará de um modelo de prova de trabalho (proof-of-work, ou PoW), usado pelo Bitcoin e por boa parte das criptos, para um de prova de participação (proof-of-stake, ou PoS).

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Na prática, essa mudança significa que a cadeia não precisará mais de mineradores – membros que ajudam a validar transações dos usuários por meio de computadores superpotentes, e ganham recompensas em criptos pelo trabalho. Em vez disso, a blockchain do projeto dependerá de validadores, usuários que, para ajudar nas validações e embolsar uns trocados de moedas digitais, precisam apenas “trancar” alguns de seus ativos na rede.

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“A questão ambiental, principalmente relativa ao consumo energético da mineração do Bitcoin, foi um assunto recorrente ao longo da história dos criptoativos. Certamente, o setor acerta ao buscar melhorias e mitigantes nesse aspecto”, disse João Marco Cunha, gestor de portfólio da gestora Hashdex, ao InfoMoney.

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Cunha disse também que além do meio ambiente, o mercado cripto tem abraçado as outras duas letras da sigla ESG. Do lado social, falou, as criptomoedas vêm se consolidando como reserva de valor e meio de troca em países que passam por situações econômicas e geopolíticas extremas, como Venezuela e Ucrânia, por exemplo. Já no front da governança, disse, os avanços regulatórios têm impulsionado a adoção de melhores práticas para o setor.

Criptomoedas verdes

Ao mesmo tempo que as mineradoras de Bitcoin se esforçavam para reduzir a pegada de carbono, e o Ethereum procurava reduzir a dependência da mineração tradicional, diversas criptomoedas verdes foram lançadas no mercado. Abaixo, veja alguns dos principais projetos.

Energy Web token (EWT)

O Energy Web Token é um criptoativo lançado por uma organização homônima que busca acelerar a descarbonização da economia global. No início de agosto, a altcoin (termo para identificar qualquer cripto diferente do BTC) disparou 35% em um único dia após a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, elogiar o projeto.

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Cardano (ADA)

Uma das principais concorrentes do Ethereum, a Cardano (ADA) já nasceu eco-friendly. Lançada em 2015, a blockchain do projeto, em vez de usar a mineração tradicional, funciona por meio do mecanismo de prova de participação. Ou seja, os usuários não precisam de supercomputadores para participar do processo – basta deixar o token nativo ADA na rede para se envolver na atividade.

Algorand (ALGO)

A  Algorand, assim como a Cardano e futuramente o Ethereum, também usa o mecanismo de prova de participação. O projeto, que se identifica como “a blockchain mais sustentável do mundo”, se aliou com a organização ClimateTrade alcançar uma blockchain de “carbono negativo”, e pretende autenticar a pegada de CO2 de cada bloco (local na cadeia onde são registradas as transações dos usuários) gerado.

Nano (NANO)

A Nano também não depende da mineração de prova de trabalho. Em vez disso, usa uma tecnologia chamada “blockchain lattice”. Na prática, é como se cada usuário tivesse sua própria blockchain e fornecesse o poder computacional para verificar suas próprias transações.

Stellar (XLM)

A XLM, da blockchain Stellar, também é uma criptomoeda verde. O projeto usa um mecanismo de consenso próprio, chamado “Stellar Consensus Protocol”. É uma rede com eficiência energética, na qual os participantes executam o sistema de forma independente, o que deixa a cadeia até mais veloz que aquelas que usam os mais comuns algoritmos de prova de trabalho ou de participação.

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Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney