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O mês de março tem sido movimentado para as ações da companhia de turismo CVC (CVCB3). Depois de saltarem quase 50% entre segunda e quinta da semana passada com os rumores sobre reestruturação da dívida e acompanhando o movimento das aéreas também neste sentido, as ações despencaram 17,75% na sexta-feira, num verdadeiro “sobe no boato, cai no fato”, na sessão após o anúncio oficial.
O acordo anunciado na manhã de sexta alcançou a maioria dos debenturistas da quarta emissão e todos os detentores de títulos de dívida da empresa de quinta emissão, num acerto que envolve até R$ 900 milhões em débitos. Na ocasião, o JPMorgan destacou o reperfilamento da dívida como positivo para a estrutura de capital da CVC. “São boas notícias, que de fato aliviam restrições de liquidez da companhia”, escreveram os analistas.
Contudo, nesta terça-feira (14), os analistas do banco americano cortaram a recomendação para as ações da companhia de neutra para underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda) e deixaram de ter um preço-alvo para os papéis CVCB3. Com isso, os papéis fecharam em baixa de 7,89%, a R$ 3,27.
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Os analistas destacam que, apesar da reestruturação oferecer um alívio para o fluxo de caixa da CVC, as tendências de crescimento de receita estão aquém das expectativas, refletindo um ambiente de consumo mais desafiador, bem como menor aprovação de crédito ao consumo, especialmente para um segmento de viagens de “maior risco”.
Enquanto isso, mesmo após o reperfilamento da dívida, o banco ainda vê a necessidade de cerca de R$ 1 bilhão em caixa para sustentar o crescimento, enquanto a empresa já se comprometeu com outro aumento de capital de pelo menos R$ 125 milhões até 23 de novembro.
Os analistas do banco veem a empresa com a alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida ajustada e o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda), de 5,3 vezes para 2023, limitando a visibilidade sobre o fluxo de caixa livre e lucro da companhia.
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Ao revisitarem as suas expectativas, os analistas do JP reduziram suas projeções para o Ebitda esperado para 2023 e 2024 em cerca de 50%, projetando perdas até 2025. “Em suma, vemos os problemas operacionais pré-pandêmicos da administração anterior e a queima de caixa durante a pandemia limitando a estratégia de criação esperada de valor para o acionista, que está sendo implementada pela nova equipe de gestão”, apontam.
As reservas estão se recuperando, mas com um mix mais fraco e em um ritmo mais lento. O JP sinaliza que (1) a Argentina está superando as principais operações do Brasil e agora representa cerca de 25% das reservas consolidadas (versus cerca de 10% em 2019) e (2) embora tal operação tenha uma margem maior, eles têm um take rate (percentual de receita líquida sobre reservas) menor.
A estrutura de capital ainda não está confortável, na visão dos analistas. Enquanto a reestruturação da dívida deu um alívio de um ano e meio em termos de vencimentos, ainda vê CVC necessitando mais capital. Além disso, o aumento de capital pré-acordado como parte do redesenho da dívida é outra fonte de volatilidade, pois tanto preço e quantidade são desconhecidos, enquanto as cotações de CVBC3 estão em cerca de R$ 3,50 por ação. Isso implica em uma diluição potencial de 13% para o compromisso mínimo de R$ 125 milhões, enquanto o banco estima a necessidade de cerca de R$ 1 bilhão de caixa incremental.