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Na semana passada, a Via mudou seu nome para Grupo Casas Bahia (BHIA3), em mais um movimento da sua recém anunciada reestruturação. No entanto, especialistas continuam com o pé atrás com as ações da companhia, que também tiveram seu ticker na B3 mudando de VIIIA3 para BHIA3.
Segundo a própria varejista, a ideia da mudança é fortalecer sua principal marca e apelar, em parte, à nostalgia das pessoas. A companhia ainda voltou com o slogan “dedicação total a você” e colocou o ator Fabiano Augusto nas suas propagandas, duas marcas registradas da Casas Bahia no começo dos anos 2000.
“Eu acredito que a mudança tem a ver com a empresa voltando ao seu core business, que exatamente é a venda de eletrodomésticos, focando naquilo que sempre deu certo desde o início. Possivelmente vai voltar a ser um player especialista dentro do varejo, deixando de querer atuar em todos os nichos”, comenta Victor Bueno, sócio e analista de ações da Nord Research.
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“Toda a mudança de nome é reflexo da estratégia atual da companhia de focar no que sabe fazer, em categorias core e mais rentáveis, resgatando a força da sua principal bandeira. A administração também anunciou o retorno do slogan ‘dedicação total a você’, bastante conhecido pela população”, diz Lucas Lima, analista da VG Research.
Apesar da sinalização positiva e do marketing forte, contudo, há ainda muita cautela de investidores com as ações da varejista.
Sentimento com grupo Casas Bahia é de cautela
“Esse movimento, no entanto, não muda a percepção do mercado sobre a companhia. Os investidores querem apenas entrega de resultados”, completa Lima.
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Em 2023, as ações ordinárias do Grupo Casas Bahia acumulam queda de quase 70%. Entre os motivos para isso, está uma série de resultados negativos, diluição de acionistas com follow ons, posição de caixa não muito saudável e a dúvida de investidores quanto à reestruturação anunciada pela companhia há cerca de um mês.
“O cenário é preocupante porque a Via está correndo contra o tempo. O fluxo de caixa atual está sendo bastante demandado por um resultado líquido negativo, pelo capital de giro e demandas judiciais trabalhistas”, explica Lima. “A esperança da Via atualmente está totalmente ligada no plano de reestruturação que foi anunciado e na recuperação da demanda com a redução da taxa de juros”.
No primeiro trimestre deste ano, a varejista teve um fluxo negativo de caixa de R$ 1,1 bilhão, fechando com um caixa de R$ 3,5 bilhões. No segundo, esse número caiu mais R$ 760 milhões, para R$ 2,8 bilhões.
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Entre as mudanças na reestruturação, para melhorar o caixa, está a descontinuidade de algumas categorias, o abre espaço no capital de giro, e a oferta de FIDCs, para liberar parte do seu capital alocado no crediário.
Outras iniciativas anunciadas foram na linha de melhorar a rentabilidade, como com o fechamento de lojas e redução de estoques.
“Existem questões mais importantes no que o Grupo Casas Bahia está fazendo do que essa mudança de nome. A empresa está passando por um turnaround há bastante tempo. Se a gente for rememorar, é quase desde 2014”, lembra Fernando Ferrer, analista da Empiricus. “Dado o pujante mercado do e-commerce em 2020 ela conseguiu se capitalizar bastante, fez uma oferta de R$ 4,5 bilhões de reais que entrou para o seu caixa. Mas o fato é que os seus problemas operacionais não foram resolvidos”.
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Follow on frustrou
Mais recentemente, no meio de setembro, a companhia realizou outra oferta, considerada um fracasso por alguns especialistas. Pretendendo levantar R$ 981 milhões, a varejista conseguiu apenas R$ 622 milhões, com suas ações sendo precificadas consideravelmente abaixo do preço de tela.
“O mercado está cético com a capacidade da companhia de se reerguer com apenas R$ 1 bilhão. Vamos lembrar que no melhor momento do e-commerce, com R$ 4,5 bilhões no caixa, a empresa não conseguiu fazer seu turnaround e trocar seus projetos”, fala Ferrer.
O analista ainda relembra que, fora as dificuldades da empresa, há também a questão macroeconômica.
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“O consumidor está endividado, a renda real foi consumida pela inflação e os produtos que a companhia vende são produtos que você não troca rotineiramente. São eletrodomésticos que você tem um prazo maior para trocar. Então, a demanda tem sido bem mais fraca”, diz.
O faturamento da Via entre abril e junho de 2023 foi de R$ 7,4 bilhões, ante R$ 7,6 bilhões um ano antes.
O especialistas da Empiricus, por fim, relembra que o Grupo Casas Bahia teve seu rating rebaixado de brAA- para brA- pela S&P Global – o que pesou no follow on recente da companhia.
“Ainda vale lembrar que vai ser votado já no próximo mês, um possível vencimento antecipado de um CRI de R$ 420 milhões emitido no ano passado, por causa do rebaixamento. Para que essa antecipação não ocorra é necessário um aval da maioria dos credores, um quórum mínimo de 25% dos detentores, em assembleia. Mas o fato é que existe uma real possibilidade da companhia ter levantado R$ 623 milhões e ter que pagar antecipadamente R$ 420 milhões desse CRI”, pontua.
Antes da realização da última oferta, especialistas já falavam que outras poderiam vir.
O time do JP Morgan, após o anúncio, avaliou que, “dadas todas as mudanças do plano de reestruturação e seus riscos de execução, a visibilidade é baixa para afirmar que cerca de R$ 2 bilhões de caixa adicional sejam suficientes para lidar com os problemas de alta alavancagem”.
“‘Se o CRI for antecipado, pode ser que estoure outros covenants da companhia e aí outros endividamentos, ou debêntures, enfim, também podem ser antecipados. Ou seja, gerando um efeito em cascata indevido”, diz Ferrer.
“É, enfim, uma situação muito complicada. Temos o macro desafiador, o turnaround da companhia e essa questão de caixa também. Houve uma troca de management. A equipe que está entrando é competente e já aprovou sua habilidade nas empresas que estavam atuando anteriormente, tem ideias positivas e interessantes, mas esse curto e médio prazo muito desafiador acaba jogando contra”, contextualiza o analista.