Delação de Sérgio Machado envolve Temer e pode prejudicar ainda as decisões econômicas

O ex-presidente da Transpetro disse que Temer pediu dinheiro para a campanha do PMDB e envolveu ainda em propinas mais 24 políticos de oito partidos, a maioria de alto coturno. Com isso, novamente o pânico se espalha em Brasília e o Congresso de novo pode ficar perdido e sem decidir.

José Marcio Mendonça

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São 400 páginas que, se confirmadas em sua maior parte, de fato abalarão a política brasileira como nunca se imaginou que poderia acontecer – abalarão de fato a República. É a delação premiada do ex-presidente da Transpetro e ex-senador Sérgio Machado, texto liberado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) depois de homologado.

Basta ver os títulos das matérias dos jornais para se ter o alcance do petardo explodido pelo político cearense.

– Delator liga Temer a esquema de propinas na Petrobras

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– Renan recebeu R$ 32 milhões de propina

– Transpetro fez repasse de R$ 100 milhões de propina ao PMDB

– Sarney levou propina de R$ 16 milhões em dinheiro

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– Jucá teve mesada de R$ 200 mil desde 2008

– Aécio teve doação ilegal de R$ 1 milhão

– Heráclito Fortes e Sérgio Guerra receberam R$ 1,5 milhão

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– Governador interino do Rio é citado em delação

Ao todo, foram citados por Sérgio Machado 25 políticos e oito partidos, o grosso do PMDB, a maioria da linha de frente na vida partidária brasileira. A delação já foi homologada e o ex-presidente da Transpetro, em troca das denúncias, teve sua possível pena reduzida de 20 anos de prisão fechada, para 3 anos de detenção em seu domicílio.

Ele comprometeu-se a devolver R$ 75 milhões aos cofres públicos da parte que levou nos negócios. Para os políticos e partidos teriam sido repassados mais de R$ 115 milhões. Entenda-se: é dinheiro da Transpetro, não o que saiu diretamente da empresa-mãe, a Petrobras nem de suas subsidiárias. Os filho de Machado também foram beneficiados – nos negócios e agora na delação.

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Machado assegurou aos investigadores que quem recebeu sabia que era dinheiro de propina, mesmo quando “disfarçado” de doações legais. Se escondeu alguma coisa do que sabe ou mentiu, o ex-presidente da Transpetro todos os benefícios e pode ter a pena inicial agravada.

A madame mais honesta

dos cabarés do Brasil

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Machado disse ainda que “a Petrobras é a madame mais honesta dos cabarés do Brasil”, insinuando que há casos piores no governo, citando órgãos ligados à Saúde e à Educação.

O mundo político entrou em polvorosa, aliás, como acontece com frequência, toda vez que as turbinas da Operação Lava-Jato são acionadas, ou em Brasília ou em Curitiba.

A tônica geral foi negar, obviamente. Um das interpretações (favoráveis aos denunciados) é a de que Sérgio Machado exagerou nas suas denúncias e que isso enfraquece a delação premiada. O Palácio do Planalto julga a acusação contra o presidente-interino fraca, inconsistente. Mas não deixou de entrar em alerta máximo.

Há dias vieram gravações que Machado fez com próceres do PMDB para ilustrar para o Ministério Público o que sabia e poderia denunciar. Numa dessas conversas, o ex-presidente José Sarney disse a Machado que a delação de Marcelo Odebrecht, que está sendo ainda negociada, será uma “metralhadora 100 ponto zero”. A metralhadora explodiu antes com o próprio Machado.

Como teve poucos dos seus citados por Machado – Jorge Bittar, Ideli Salvatti, Edson Santos e Cândido Vaccareza, Luis Sérgio – o PT respirou um pouco aliviado. Pelo menos o foco desviou-se um tanto quanto de Dilma e Lula.

Outra dessas bombas pode explodir em breve. Segundo informa o jornal “O Estado de S. Paulo”, o deputado Eduardo Cunha, sentindo finalmente que o chão está fugindo rapidamente de seus pés, estuda a possibilidade de também aderir à denúncia negociada. Pessoas ligadas a Cunha, que continua negando até a possibilidade de renunciar à presidência da Câmara como tem sido aconselhado, dizem que ele está sinalizando agora que não está disposto a cair sozinho. A ameaça pode ser uma estratégia de Cunha para ainda salvar-se da degola e da cadeia.

Teto de gastos é somente

o primeiro passo

O ambiente político acabou deixando em segundo plano o anúncio da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de fixação de um limite para o crescimento dos gastos públicos. Depois de muita negociação com o lado político do governo, ficou estabelecido que o prazo de duração das medidas será de dez anos, prorrogáveis por mais dez, como queria o Ministério da Fazenda para dar um “horizonte de segurança” aos agentes econômicos.

O ministro Henrique Meirelles foi obrigado a fazer algumas concessões no projeto original por causa das resistências políticas. Porém, conseguiu manter que as restrições atinjam também as vinculações para as áreas de saúde e de educação, o que, segundo comentários no Congresso, pode levar a resistências dos parlamentares e atrasar a tramitação da proposta. O governo deixou aberta também a porta para capitalizar as empresas estatais.

Entre analistas, a proposta foi bem recebida, porém considerada ainda insuficiente (faltam as reformas estruturais, como a da Previdência) e de difícil aprovação em sua totalidade. Acredita-se que o governo terá de fazer novas concessões durante a tramitação da PEC na Câmara e no Senado. Para explicar “ausências” na PEC, Meirelles diz que estabelecer teto é apenas o primeiro passo.

Noticia o “Valor Econômico” que a votação pode ficar para depois das eleições municipais. Em razão das medidas ditas “impopulares” e dos novos rescaldos da Lava-Jato. Nos planos de Meirelles para melhorar a confiança no governo, o ideal é a PEC ser aprovada em no máximo 45 dias, ou seja, até o fim de julho.

Outros destaques dos

jornais do dia

– “Senado fará alterações na lei das estatais, diz Renan” (Globo)

– “Calote dos estados ameaça crédito consignado” (Valor)

– “Fed mantém juros e sinaliza não ter pressa em elevação” (Estado/Globo/Valor)

– “Usiminas alonga 75% da dívida e demite mais 500 em Cubatão” (Globo/Valor)

– “TCU lista irregularidades e dá prazo para Dilma defender contas de 2015” (Valor)

– “Lula recorre para manter apuração no STF” (Folha)

– “Teori devolve a Janot pedido de inquérito contra Lula e Dilma” (Globo)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Deplorável recuo” (diz que é desanimador saber que a base do governo minou projeto que moralizava nomeações em estatais) – Estado

2. Fábio Alves – “A paciência com Meirelles” (diz que se houver muitas exceções em relação a gastos, a tolerância de investidores com Temer e Meirelles poderá se esgotar e tropeços não serão relevados) – Estado

3. José Casado – “O cabaré da reserva de mercado” (diz que o projeto nacionalista de Lula e Dilma acabou no cabaré da Petrobras) – Globo

4. Míriam Leitão – “Trilha confusa” (diz que proposta do teto para os gastos vai exigir uma série de mudanças em leis para ser efetiva) – Globo

5. Ribamar Oliveira – “PEC só garante controle de gasto até 2015” (diz que falta um mecanismo de saída para não botar tudo a perder e que o governo está pedindo ao Congresso a criação de uma camisa de força que o coloque dentro) – Valor

6. Maria Cristina Fernandes – “A interinidade e os 20 anos de poder” (diz que a PEC de Meirelles pode vir a ser aprovada desde que se negociem as condições de sobrevivência dos grupos políticos mais bem postos) – Valor

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