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Depois de ganhar força entre os investidores de varejo em 2020 com a tese de ativo descorrelacionado à economia tradicional, o Bitcoin (BTC) caiu nas graças dos institucionais em 2021, levando a maior criptomoeda do mundo a bater sua máxima histórica de US$ 69 mil em novembro.
Desde então, o humor do mercado acabou virando com força, levando o Bitcoin para menos de US$ 50 mil, uma queda de cerca de 30% em pouco mais de um mês, levantando a questão sobre a sustentação de um cenário altista para a moeda digital, principalmente porque alguns analistas acreditavam que ela poderia chegar a US$ 100 mil este ano.
Apesar do cenário mais negativo, a criptomoeda caminha para encerrar o ano com ganhos consideráveis, de 65% até 21 de novembro, desempenho bem superior às bolsas de valores, apesar de ficar abaixo de outras grandes criptos, como o Ethereum (ETH), que tem alta de 450% em 2021.
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Para Theodoro Fleury, gestor da QR Asset Management, enquanto há uma clara sinalização positiva vinda dos institucionais, o que deveria puxar o preço para cima como ocorreu nos últimos meses, o cenário macroeconômico tem pesado no sentido oposto. E essa deve ser a dinâmica no médio prazo.
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Ele cita dados da rede do Bitcoin (on-chain), que mostram que apesar de uma queda no número de transações com a criptomoeda, o valor de cada operação, em média, subiu. “O que isso indica pra mim? Tem muita gente com ticket médio maior entrando no mercado. O ticket médio do Bitcoin está aumentando. Isso é um sinal de que tem gente grande entrando”, diz Fleury.
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“Você tem essa força do interesse do investidor institucional, e isso se reflete nos dados on-chain, eles mostram um acúmulo, você vê mais métricas indicando alta do que baixa”, continua o gestor lembrando que esse tipo de análise tende a indicar um período mais longo, não o curto prazo.
Nesse cenário, a indicação é que o Bitcoin pode estar barato atualmente, mas essa não é a única análise que deve ser feita e a conjuntura macro pode ser uma pedra no caminho de maiores ganhos da criptomoeda.
Cenário macro deve pressionar o Bitcoin
Apesar de o Bitcoin ser considerado uma proteção (hedge) contra a inflação, os investidores estão mais preocupados com a alta de preços ao redor do mundo, principalmente nos Estados Unidos, onde os números têm permanecido altos por mais tempo que o esperado.
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Isso elevou a aversão ao risco em praticamente todos os mercados. E com as criptos não é diferente, conforme os investidores preferem manter suas aplicações em ativos considerados mais seguros e menos voláteis, ou até mesmo fora de qualquer investimento.
“Por mais que o Bitcoin seja um hedge inflacionário, comparado ao ouro, num primeiro momento, quando o negócio aperta, dados muito altos, o Powell [presidente do Fed] falando que vai acelerar a política monetária restritiva, o Bitcoin primeiramente se comporta mais como um ativo de risco”, explica Fleury.
No último dia 15 de dezembro, o Federal Reserve, como é chamado o banco central americano, como forma de combater os efeitos da inflação, decidiu acelerar a redução de estímulos no país, e indicou três altas de juros em 2022, o que também tem impacto no mercado cripto.
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Se de um lado o cenário de aversão ao risco pressiona os preços do Bitcoin para baixo, essa decisão do Fed, se for seguida nos próximos meses, pode ter um efeito mais positivo.
Isso porque a criptomoeda é vista como uma proteção contra a desvalorização potencial do dólar que pode resultar do estímulo monetário, que por sua vez é facilitado pela impressão de dinheiro do Fed. Portanto, uma retirada mais rápida do estímulo pode trazer mais força para a criptomoeda.
Regulação
Com o aumento do interesse institucional, um tópico que ganhou mais força nos debates foi o da regulação do mercado cripto, e esse tema deve seguir no radar para 2022.
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Enquanto a China decidiu banir de vez a mineração e operações com criptoativos, diversos países correm contra o tempo para encontrarem as melhores soluções, que possam trazer segurança sem afetar o serviço oferecido aos usuários e nem a liberdade de negociação.
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“No que diz respeito à regulação, vemos que para uma parte do mercado ela é necessária, visto que como elemento de investimento deve estar sob um marco regulatório de proteção ao investidor, mas para outra parte do mercado que utiliza criptografia como alternativa aos sistemas tradicionais é difícil aceitar a intervenção dos governos, que normalmente não é realizada de maneira eficaz, sendo mais um obstáculo do que um impulsionador do crescimento dessas novas economias”, avalia Denise Cinelli, general manager da CryptoMarket.
Apesar da grande expectativa, não há tanta esperança de que os próximos meses marquem o anúncio de uma regulação mais definida em grandes mercados, como os EUA, já que essa é uma questão que envolve diversas esferas, como o Fed e a SEC (a Comissão de Valores Mobiliários americana), além de ser um tema político, que tende a ter um andamento mais lento.
Enquanto isso, no Brasil, apesar de alguns projetos de regulação estarem avançando no Congresso, o tema também não deve evoluir de forma tão rápida, principalmente diante da proximidade de uma eleição presidencial.
Fleury lembra ainda que o país tem três reguladores, CVM, Receita Federal e Banco Central e que falta uma unidade de visão entre eles sobre o tema. “A impressão que dá é que cada um enxerga o Bitcoin de uma forma diferente, eles não se conversam”, avalia.
O gestor aponta que tanto a Receita quanto a CVM parecem ver o Bitcoin como ativo financeiro, mas o BC, aparentemente, não. “A primeira coisa, o BC precisa se pronunciar sobre o que é o Bitcoin para ele, é um ativo financeiro, é uma commodity? Eu tenho a sensação que a CVM não quer regular exchanges antes do BC dar uma opinião”, afirma.
“Acho que o BC tem que se posicionar para então a CVM regular o mercado no Brasil. Mas eu vejo isso um pouco distante. A regulação está muito avançada para fundos – e até para cobrança de impostos –, mas para o resto não está muito claro”, conclui Fleury.
ETFs cripto
Enquanto o Brasil lançou cinco fundos de índice (ETFs) de criptomoedas em 2021, os EUA até pouco tempo também ainda não haviam aceitado nenhuma proposta para esse tipo de produto. E após muita expectativa, em outubro foi lançado o primeiro ETF de Bitcoin, mas diferente do que desejado, era apenas de futuros da moeda digital.
Apesar desse ser um primeiro passo, um ETF de futuros não é considerado tão atrativo, tendo seu potencial reduzido e os investidores, principalmente institucionais, seguem na esperança pelo lançamento de um produto melhor em 2022, que pode ajudar a destravar o preço do Bitcoin.
Mas os especialistas não estão muito convencidos de que isso irá acontecer em breve.
Para Fleury, a sinalização da SEC não traz muita expectativa de que a aprovação de um ETF de Bitcoin spot possa ocorrer logo, dado que a instituição segue negando algumas propostas feitas. “Nas projeções mais otimistas [o ETF] viria da metade para frente de 2022, ou depois”, afirma.
“Tem que lembrar que a SEC, apesar de em teoria ser um órgão independente, teve seu presidente colocado lá por um governo democrata, que é um partido que costuma ser mais mão pesada em regulação”, diz o gestor. “Esse fator regulatório é um dos poucos baldes de água fria que eu vejo para 2022”.
Já Denise acredita que quaisquer instrumentos financeiros como os ETFs, tanto futuros quanto spot, ajudam no aumento do preço do Bitcoin porque se tornam boa opções para investidores terem posições de forma oficial e legal.
“Isso implica em uma ajuda de uma maneira considerável para uma forte liquidez no mercado, gerando volume e, portanto, um aumento de preço. Sendo assim, à medida que aparecem instrumentos atrelados ao Bitcoin ou altcoins, o resultado é positivo para o mercado cripto”, avalia.
Por outro lado, ela também aponta que, por estar no começo de um debate sobre regulação em todos os países do mundo, é remota a possibilidade de ter um ETF spot em 2022.
Para onde vai o Bitcoin em 2022?
Apesar de manterem otimismo sobre o futuro do Bitcoin, a recomendação dos especialistas neste momento é de uma cautela maior no curto prazo. Com um cenário indefinido diante da situação macro e com os investidores mais receosos, 2022 caminha para ter um início ainda turbulento.
“O Bitcoin pela primeira vez vai enfrentar um ciclo de redução da liquidez global e um evento de aperto monetário nos EUA. A questão chave é se o Bitcoin vai continuar se mantendo como um ativo descorrelacionado ou se os efeitos da redução de liquidez vão afetar o apetite dos institucionais”, avalia Safiri Félix, diretor de produtos e parcerias da Transfero.
Já Fleury destaca que durante momentos de crise e maior pânico, as correlações dos ativos tendem a aumentar, com um movimento mais guiado pelo humor do que pelos fundamentos. “A questão é depois, quando a poeira abaixa, a velocidade com que o ativo descola. Se for resumir, acredito que a gente vai ver o Bitcoin a US$ 100 mil, minha dúvida é se ele volta a US$ 40 mil antes disso ou se vai direto até esse patamar”, pondera o gestor.
Félix, por sua vez, segue otimista com a projeção dos US$ 100 mil conforme o mercado também caminha para entrar no novo ciclo de redução de recompensa dos mineradores, chamado de halving, previsto para primeiro semestre de 2024. “A única certeza é de que o mercado tende a seguir volátil”, afirma.
Mais cauteloso no atual cenário, o trader e investidor anjo Vinícius Terranova diz que está “fora do mercado”, aguardando uma sinalização do mercado, algum tipo de reversão para alta ou mesmo confirmação de queda acentuada.
Durante uma live para atualização de cenário, ele recomendou aos investidores terem paciência ao esperar o surgimento de uma nova oportunidade de entrada, sem descartar uma correção para níveis próximos de US$ 23 mil em um movimento baixista mais forte.
“Não dá para ter euforia agora, é preciso ter cautela, o cenário está feio”, avalia ele reforçando que o melhor a se fazer nesta virada de ano é ficar fora, observando e estudando mais sobre criptoativos.
“Para 2022, se continuar desse jeito, eu espero mais quedas, espero um bear market bem acentuado. Mas se recuperar no início do ano, se o mercado global mostrar uma recuperação, aí acredito que o Bitcoin pode voltar a romper as máximas”, conclui.
Por fim, Denise lembra que, mesmo com bastante volatilidade, o mercado tem ficado cada vez mais maduro com o passar dos anos. “Em 2022, o que se espera é que a adoção continue crescendo e que cada vez mais pessoas entendam como utilizar essa nova tecnologia, pois é um benefício para a sociedade, não somente como um ativo para investimentos, mas também para ter controle sobre seu próprio dinheiro”, afirma.
“Independente se o valor de mercado siga subindo ou baixe, o principal ponto forte do Bitcoin é que está cada dia mais conhecido e em 2022 será o início da adesão massiva”, conclui ela.
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