Diante de fluxo negativo de notícias, Spinelli corta preço-alvo da BM&F Bovespa

SÃO PAULO – Diante de um cenário competitivo que pode ser mais acirrado neste ano, a Spinelli revisou para baixo o preço-alvo das ações da BM&F Bovespa (BVMF3). Para o final de 2011, o target passa de R$ 16,64 para R$ 14,17, o que implica em um upside de 15,67% em relação ao fechamento de 13 de janeiro. Já a recomendação de manutenção permanece.

As novas estimativas levam em conta também a revisão de guidance de despesas operacionais e investimentos da companhia para 2011 e a incorporação dos dados operacionais relativos ao quarto trimestre.

Criação da Nova Bolsa implicaria em guerra de preços
“O fluxo de notícias relacionado à BM&F Bovespa vem sendo negativo e acreditamos que tende a continuar sendo, principalmente no que diz respeito à entrada de um novo player de mercado”, dizem os analistas Daniel Malheiros e Kelly Trentin. O foco de preocupação da corretora está na possível criação de uma nova bolsa, conforme veiculado no início do mês pelo jornal Valor Econômico.

Segundo a notícia, um grupo de investidores liderados pela Claritas, uma gestora de recursos, procuraria um parceiro para criar uma plataforma de negociações sediada nos Estados Unidos. Embora o aumento do ambiente competitivo já fosse esperado pela Spinelli, o momento surpreendeu a corretora – que, como outros analistas ouvidos pela InfoMoney, questiona se há espaço no mercado de capitais do País para um outro player. 

Ainda assim, no caso de um novo player no curtíssimo prazo, a BM&F enfrentaria uma guerra de preços e perderia tanto em termos de receita capturada quanto nas tarifas, diz a Spinelli.

Em contraponto, “a queda de preços aos poucos elevaria o volume negociado, aumentando a escala, e a BM&F Bovespa não só manteria a receita no segmento de pós-negociação, mas também a elevaria”, dizem Kelly e Malheiros. Eles referem-se ao fato de que a companhia seria responsável por fazer a liquidação física e financeira dela e da concorrente. 

Cenário pessimista se estende desde outubro
Em meados de outubro, as ações da BM&F Bovespa atingiram a cotação proposta pela corretora em 2010. No entanto, a partir daí, um fluxo de notícias negativas passou a guiar a realização dos papéis.

Tudo começou com o anúncio do governo brasileiro de aumento das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre os investimentos estrangeiros em renda fixa e depósitos baseados em derivativos. Segundo a BM&F Bovespa, a participação externa representava 22% do volume de contratos de derivativos negociados. O temor por novas medidas do tipo, por sua vez, acabou por também afastar os investidores.

Já no início de novembro, a Cetip declarou negociar com a Deutsche Boerse (Bolsa de Valores da Alemanha) o desenvolvimento de uma plataforma eletrônica, inicialmente para negociar instrumentos de renda fixa. Embora as receitas de renda fixa representem apenas 1% da receita total da BM&F, a possibilidade de expansão da plataforma poderia prejudicar a companhia.

Em 30 de novembro, a empresa recebeu da Receita Federal brasileira um auto de infração de R$ 301,6 milhões em IRPJ (Imposto de Renda Pessoa Jurídica) e R$ 108,5 milhões em CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), acrescido de multas e juros. A empresa prometeu recorrer da ação, já que os valores corresponderiam ao benefício fiscal criado pelo ágio da incorporação da Bovespa Holding, provisionado em conformidade com a lei fiscal. 

Não obstante, em meados de dezembro a empresa comunicou a revisão para cima das despesas operacionais e investimentos para 2011. Embora os gastos não sejam representativos, a margem Ebitda (relação entre receita líquida e geração operacional de caixa) acabará por ser afetada em 2011, afirma a Spinelli.