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As últimas sessões têm sido de pressão para o mercado de câmbio, com o dólar renovando máximas desde março nesta semana e se aproximando dos R$ 5,20 com um combo de temor por juros altos por mais tempo nos Estados Unidos (o que diminui a atratividade de países emergentes, como o Brasil) e a baixa de commodities.
Mas esse movimento vai se manter?
Em relatório, a equipe de economistas da XP ajustou as suas projeções de taxa de câmbio no curto prazo, mas não mudou a avaliação estrutural.
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Caio Megale, Andres Pardo e equipe alteraram a previsão para o dólar de R$ 4,70 para R$ 5,10 para o final de 2023, a fim de contemplar o movimento recente.
Em relação a horizontes de projeção mais longos, entretanto, mantiveram a visão de que a cotação da moeda americana compatível com os fundamentos econômicos (“valor estrutural”) estaria entre R$ 4,50 e R$ 5,00.
“O câmbio real está desvalorizado para padrões históricos. Assim, projetamos o dólar a R$ 4,85 para o final de 2024 e R$ 5,00 para o final de 2025”, ressaltam.
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Sobre os próximos passos do Federal Reserve, o BC americano, a XP vê a autoridade financeira devendo voltar a subir a taxa de juros em 0,25 ponto porcentual este ano, em meio aos riscos para o cumprimento da meta de inflação e à alta recente dos preços internacionais de combustíveis.
Para os especialistas, os próximos dados econômicos teriam que enfraquecer consideravelmente (e rapidamente) para evitar esta nova alta de juros.
Já sobre a política monetária doméstica, a avaliação é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central brasileira reduzirá a Selic a um ritmo de 0,50 ponto porcentual por reunião até maio de 2024 e entregará um corte final de 0,25 ponto porcentual em junho, chegando à taxa de 10% ao ano.
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“A política monetária precisará permanecer restritiva no próximo ano para compensar os efeitos da política fiscal expansionista e garantir a convergência da inflação ao intervalo da meta”, indicam os especialistas.
Os economistas ressaltam que o saldo comercial brasileiro permanece nas máximas históricas, refletindo a expansão das exportações (destaque aos bens primários) combinada à queda acentuada das importações (sobretudo de bens intermediários).
O forte desempenho da balança comercial levou a casa a revisar a projeção de déficit em conta corrente no final de 2023, de US$ 45,0 bilhões (2,1% do PIB) para US$ 37,5 bilhões (1,7% do PIB). Olhando adiante, acredita em aumento moderado do déficit, ainda ficando abaixo da média histórica. Prevemos US$ 42,0 bilhões (1,8% do PIB) em 2024 e US$ 48,0 bilhões (2,0% do PIB) em 2025. Ingressos líquidos de IDP (Investimento Direto no País) em queda, mas antevemos recuperação nos próximos anos.
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O que pode segurar queda do real?
Enquanto a XP passou a ver o real mais depreciado no fim do ano, a equipe econômica do Bradesco reforçou o seu cenário de que o real encerre 2023 a R$ 4,80 e 2024 a R$ 4,90.
Em seu cenário revisado para as contas externas do Brasil, os economistas do banco apontaram estarem mais otimistas do que o consenso para 2024.
“Esperamos que a surpresa ascendente da balança comercial deste ano se estenda até 2024, mais uma vez apoiada nas exportações de commodities, especialmente petróleo e alguns produtos agrícolas, com menos contribuição de minerais. Prevê-se que os fluxos de Investimento Direto Estrangeiro (FDI- Foreign Direct Investment) permaneçam em 3% do PIB em 2023 e 2024 no nosso cenário, conduzindo a necessidades de financiamento externo em linha com a média histórica para 2023”, apontam os economistas.
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Para eles, esses fundamentos melhorados devem apoiar o real, mas reconhecem que o atual cenário global que leva ao fortalecimento do dólar poderia limitar a valorização esperada da moeda brasileira, mas ainda assim mantendo as suas projeções.
A equipe econômica do BBI lembra que, em 2020-2021, o real sofreu uma forte desvalorização, muito mais forte do que os seus pares nos mercados emergentes. Mas desde então, a moeda brasileira teve um desempenho relativamente melhor e a diferença praticamente diminuiu. O real passou a acumular uma desvalorização de 22% desde o final de 2019, enquanto a média dos pares dos mercados emergentes é ligeiramente inferior, de 17%.
Mas, desde julho deste ano, o dólar subiu 7% ante uma cesta de moedas, impulsionado por uma combinação de um crescimento ainda forte do PIB nos EUA, taxas mais elevadas por lá, a economia da zona do euro mais enfraquecida e incertezas sobre a economia chinesa.
“Um dólar forte em uma base global limita a valorização do real, mas acreditamos que a melhoria dos fundamentos brasileiros – incluindo seu balanço de pagamentos – ainda favorece o dólar perto de R$ 4,80 no final de 2023 e R$ 4,90 no final de 2024”, avaliam os economistas.