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SÃO PAULO — Após atingir R$ 4,19 no mês passado — a maior cotação no ano —, o dólar voltou a cair nos últimos dias e fechou no início desta semana abaixo dos R$ 4, o que não era visto desde agosto.
O desempenho da moeda teve respaldo na aprovação da reforma da Previdência, que, embora já fosse esperada, renovou a expectativa dos investidores de que o governo conseguirá destravar sua agenda econômica, essencial para a retomada do crescimento.
Mesmo com o tombo recente, a cotação do dólar ainda está acima do patamar considerado justo por especialistas ouvidos pelo InfoMoney — entre R$ 3,50 e R$ 3,80.
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A expectativa é que a moeda caminhe para essa faixa de preço no médio prazo (12 meses), mas a pressão de curto prazo ainda vai continuar.
“O principal motivador dessa pressão é o fluxo [entrada e saída de dólares do país]”, diz Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações.
“Havia muito capital estrangeiro especulativo no Brasil quando os juros eram altos. Hoje, com a Selic em seu menor patamar histórico, os gringos estão desfazendo suas posições por aqui porque já não vale mais a pena o risco.”
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As saídas de dólares superaram as entradas em US$ 6,224 bilhões em outubro até o dia 18, segundo o Banco Central. No ano, o saldo do fluxo cambial é negativo em US$ 19,195 bilhões.
Na visão de Mendonça de Barros, é esperado um ajuste no fluxo em novembro, após o leilão do pré-sal. “Boa parte dos pagamentos serão feitos por empresas estrangeiras, que vão trocar seus dólares por reais.”
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Esses “novos dólares” são melhores para o país do que o capital especulativo que havia antes porque são menos voláteis.
“O processo de desalavancagem não é ruim. Os estrangeiros chegaram a deter 22% da dívida pública local. Hoje, detêm 12%”, diz Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e fundador da gestora de recursos Mauá Capital.
Ele avalia que a pressão no câmbio pela saída de capital estrangeiro é temporária e concorda que o leilão do pré-sal, assim como a agenda de privatizações e concessões, deve reequilibrar o fluxo cambial no médio prazo.
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“A nossa visão é de que o câmbio fique mais próximo de R$ 3,50 do que acima de R$ 4 nos próximos 12 meses”, afirma.
Cenário externo
Enquanto a perspectiva interna é favorável à manutenção do dólar abaixo de R$ 4, o cenário externo também traça um horizonte positivo ao câmbio.
Para Ricardo Kazan, gestor e sócio da Novus Capital, a recompra de títulos públicos pelo Federal Reserve, o banco central americano, colabora para o alívio na cotação da moeda.
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“O Fed tem recomprado US$ 60 bilhões por mês em Treasuries. Não é um programa do tamanho do Quantitative Easing [adotado para conter os efeitos da crise de 2008], mas injeta liquidez no mercado e é o suficiente para ajudar o dólar a recuar contra outras moedas.”
A proximidade do fim do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos é outro fator positivo para o câmbio, na visão de José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos.
Para a reunião desta semana, é praticamente dado um novo corte na Fed Funds Rate de 0,25 ponto percentual, para um intervalo de 1,5% a 1,75% ao ano. “A partir disso, o Fomc deve indicar uma pausa no movimento [de corte de juros]”, avalia Faria Júnior.
Uma queda nos juros dos EUA reduz o rendimento dos títulos públicos daquele país, que são considerados o investimento mais seguro do mundo.
Isso faz com que os investidores estrangeiros busquem aplicações em mercados de maior risco, como o Brasil, com juros maiores — ainda que estejam em um patamar bem menor do que o visto anos atrás.
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