Dólar abaixo de R$ 4 é alívio temporário ou nova realidade?

Saída de capital externo com cortes na Selic deve ser equilibrada com leilão do pré-sal e agenda de privatizações e concessões, segundo especialistas

Anderson Figo Rodrigo Tolotti

Notas de real e dólar sendo trocadas (Shutterstock)
Notas de real e dólar sendo trocadas (Shutterstock)

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SÃO PAULO — Após atingir R$ 4,19 no mês passado — a maior cotação no ano —, o dólar voltou a cair nos últimos dias e fechou no início desta semana abaixo dos R$ 4, o que não era visto desde agosto.

O desempenho da moeda teve respaldo na aprovação da reforma da Previdência, que, embora já fosse esperada, renovou a expectativa dos investidores de que o governo conseguirá destravar sua agenda econômica, essencial para a retomada do crescimento.

Mesmo com o tombo recente, a cotação do dólar ainda está acima do patamar considerado justo por especialistas ouvidos pelo InfoMoney — entre R$ 3,50 e R$ 3,80.

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A expectativa é que a moeda caminhe para essa faixa de preço no médio prazo (12 meses), mas a pressão de curto prazo ainda vai continuar.

“O principal motivador dessa pressão é o fluxo [entrada e saída de dólares do país]”, diz Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações.

“Havia muito capital estrangeiro especulativo no Brasil quando os juros eram altos. Hoje, com a Selic em seu menor patamar histórico, os gringos estão desfazendo suas posições por aqui porque já não vale mais a pena o risco.”

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As saídas de dólares superaram as entradas em US$ 6,224 bilhões em outubro até o dia 18, segundo o Banco Central. No ano, o saldo do fluxo cambial é negativo em US$ 19,195 bilhões.

Na visão de Mendonça de Barros, é esperado um ajuste no fluxo em novembro, após o leilão do pré-sal. “Boa parte dos pagamentos serão feitos por empresas estrangeiras, que vão trocar seus dólares por reais.”

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Esses “novos dólares” são melhores para o país do que o capital especulativo que havia antes porque são menos voláteis.

“O processo de desalavancagem não é ruim. Os estrangeiros chegaram a deter 22% da dívida pública local. Hoje, detêm 12%”, diz Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e fundador da gestora de recursos Mauá Capital.

Ele avalia que a pressão no câmbio pela saída de capital estrangeiro é temporária e concorda que o leilão do pré-sal, assim como a agenda de privatizações e concessões, deve reequilibrar o fluxo cambial no médio prazo.

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“A nossa visão é de que o câmbio fique mais próximo de R$ 3,50 do que acima de R$ 4 nos próximos 12 meses”, afirma.

Cenário externo

Enquanto a perspectiva interna é favorável à manutenção do dólar abaixo de R$ 4, o cenário externo também traça um horizonte positivo ao câmbio.

Para Ricardo Kazan, gestor e sócio da Novus Capital, a recompra de títulos públicos pelo Federal Reserve, o banco central americano, colabora para o alívio na cotação da moeda.

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“O Fed tem recomprado US$ 60 bilhões por mês em Treasuries. Não é um programa do tamanho do Quantitative Easing [adotado para conter os efeitos da crise de 2008], mas injeta liquidez no mercado e é o suficiente para ajudar o dólar a recuar contra outras moedas.”

A proximidade do fim do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos é outro fator positivo para o câmbio, na visão de José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos.

Para a reunião desta semana, é praticamente dado um novo corte na Fed Funds Rate de 0,25 ponto percentual, para um intervalo de 1,5% a 1,75% ao ano. “A partir disso, o Fomc deve indicar uma pausa no movimento [de corte de juros]”, avalia Faria Júnior.

Uma queda nos juros dos EUA reduz o rendimento dos títulos públicos daquele país, que são considerados o investimento mais seguro do mundo.

Isso faz com que os investidores estrangeiros busquem aplicações em mercados de maior risco, como o Brasil, com juros maiores — ainda que estejam em um patamar bem menor do que o visto anos atrás.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.