Dólar perto dos R$ 4,00: quem ganha e quem perde na bolsa?

Em cenário de apreciação cambial, algumas empresas tendem a "sair no lucro"

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – O aumento da tensão política com troca de farpas entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara Rodrigo Maia levou a moeda norte-americana a subir 2,27% na última quarta-feira (27), fechando a R$ 3,95, no maior patamar desde outubro de 2018. Nesta quinta, o dólar registra queda de cerca de 1% em um sinal de “trégua” entre eles, mas ainda opera acima dos R$ 3,90. Mais cedo, a divisa americana chegou a bater os R$ 4 – e a expectativa é de que o câmbio siga pressionado pelo noticiário da política. 

Neste cenário de apreciação do dólar, algumas empresas tendem a se beneficiar na bolsa, enquanto outras sofrem com os ganhos da moeda americana. O InfoMoney conversou com analistas do mercado para entender quais os papéis que costumam surfar – ou afundar – com a alta da moeda. Confira:

Empresas que têm impacto positivo

Entre os setores que se beneficiam com a alta do dólar estão os de papel e celulose, proteína, bem como mineradoras e exportadoras. Isso porque tais empresas costumam ter demanda internacional e produção nacional, o que resulta em custos em reais e receita em dólar, ou seja, a margem fica maior.

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É o caso de Suzano (SUZB3), por exemplo, muito utilizada para “hedge”, ou proteção, de portfólio. Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos, explica que o papel é muito influenciado pelo câmbio, mas que hoje também sofre grande influência do preço da celulose.

“Já foi uma exposição mais pura, porque até 2017-2018, o preço da celulose estava melhor lá fora, agora já não está tão bom assim. Apesar disso, continua sendo uma boa empresa para se ter em carteira em um cenário de maior estresse e com potencial de apreciação do dólar”, explica.

Outras empresas do “kit dólar” são JBS (JBSS3), BRF (BRFS3), uma vez que boa parte da sua receita provém da venda de produtos no exterior. Além disso, a Vale (VALE3) é bastante impactada e se beneficia em cenário de alta da divisa americana por conta do minério dolarizado.

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Quem sai perdendo

Do lado das perdas, acionistas de empresas com dívida em dólar não tão hedgeada e receita em real, como as companhias do setor aéreo, por exemplo, tendem a sofrer mais neste cenário de alta da moeda.

É o caso de Gol (GOLL4), em que as ações chegaram a cair 8,71% na quarta-feira (27) por conta da disparada de mais de 2% do dólar. Apesar de contar com uma pequena parcela de sua receita na moeda norte-americana, cerca de metade dos seus custos são denominados em dólar, oriundo da compra de combustível (insumo essencial do negócio da companhia), que também tem sua cotação na divisa estrangeira. Além disso, cerca de metade de seu endividamento está exposto a variações cambiais. Ou seja, a situação financeira da companhia piora quanto mais o dólar vale em relação ao real. 

Além disso, algumas empresas do setor de varejo podem sofrer com a desvalorização do real, considerando que importam alguns dos produtos de suas linhas de venda. Assim, Cia. Hering (HGTX3), Lojas Renner (LREN3)  e Lojas Americanas (LAME4) podem sofrer com a apreciação cambial, caso não consigam repassar a elevação de custos para o preço. Além da alta do dólar, as varejistas também sofrem em um ambiente de maior aversão ao risco, que eleva as incertezas para a economia e reduz as estimativas para a aceleração da atividade, impactando o setor. 

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Já foram muito impactadas, mas outros eventos ganham espaço

Enquanto algumas empresas ainda têm o câmbio no holofote dos resultados operacionais, outras já foram muito impactadas, mas agora possuem outros eventos que influem mais fortemente no preço do ativo. É o caso de Embraer (EMBR3) e Sabesp (SBSP3).

No caso da Embraer, cerca de 90% da receita da companhia é proveniente de exportações. Para se ter uma ideia, no 4º trimestre de 2018 a companhia creditou o bom desempenho à apreciação de 17% do dólar em relação ao real. 

Apesar disso, o analista da equipe de research da XP Investimentos, Gabriel Fonseca, explica que as notícias sobre o acordo com a Boeing tem ofuscado a apreciação cambial, tornando-se mais decisivo no sobe-e-desce da ação na bolsa.

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Sabesp, por sua vez, possui mais de 20% de sua dívida indexada à moeda norte-americana e não possui faturamento em dólar, encarecendo suas despesas com juros e amortizações. Embora perca com a alta da moeda, Fonseca explica que o foco dos investidores no momento está na expectativa de privatização da companhia.

Como se proteger?

Diante da alta sensibilidade dos ativos dado o cenário político-econômico atual, Fonseca cita a importância da diversificação do portfólio. “Todos os ativos vão ficar refém dessa volatilidade, então é importante diversificar para minimizar perdas”, diz.

Entre os papéis “defensivos” em um ambiente de dólar apreciado, o analista cita os de Suzano, Vale e JBS.

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Salomão, por sua vez, cita o fundo de índice (ETF) (IVVB11) como uma boa estratégia para proteger sua carteira de investimentos. “Ele acompanha o índice S&P500 e é ‘dolarizado’, então ele responde à variação do S&P e do dólar”, explica. Em outras palavras, se o S&P sobe 0,5% e o dólar 0,5% contra o real, o investidor ganha cerca de 1,0%.

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