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O dólar abriu 2022 negociado a cerca de R$ 5,57, chegou a bater quase R$ 4,60 em abril e fechou a última quinta-feira a R$ 5,23, com queda acumulada ainda de 6,1% no semestre, ainda que com uma alta mensal de 10% em junho. Quando o assunto é a dinâmica entre a moeda americana e o real, os seis meses passados não foram nada monótonos – e os que faltam vir, provavelmente, também não serão.
Commodities, Federal Reserve e risco fiscal foram variáveis cruciais para a performance do câmbio até então e o esperado é que isso não mude tanto nos próximos seis meses.
No primeiro momento deste ano, até meados de abril, o real se fortaleceu principalmente por conta do enfraquecimento da pandemia da Covid-19.
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A queda das restrições diminuiu a aversão ao risco e impulsionou o preço das commodities, com perspectiva de que o mundo poderia crescer mais do que o esperado.
Por volta de março, os produtos não manufaturados ainda tiveram um novo impulso, provindo do início da guerra da Ucrânia, uma vez que os dois países envolvidos no conflito são importantes produtores dessas matérias primas.
Esses dois fatores beneficiaram o real. O Brasil é um grande exportador de commodities e a alta dos preços tende a melhorar a balança comercial. No acumulado do ano até a terceira semana de junho, o país registra um superávit de US$ 32,1 bilhões em suas negociações.
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“Com a questão da pandemia melhorando e o mercado chinês incentivando a produção, através de estímulos, o real se fortaleceu frente ao dólar”, comenta Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. “O Brasil é um dos principais exportadores de commodities do mundo e também estava bem visto nos mercados. A moeda brasileira, após ter uma das piores performances do mundo em 2020 e 2021, começou a se recuperar”.
O fato de o Banco Central brasileiro ter saído na frente na alta de juros também ajudou o real a se destacar frente outras moedas. O diferencial entre as taxas praticadas internamente e no mercado externo elevou a prática chamada de carry trade, que consiste em tomar dinheiro a uma taxa de juros em um país e aplicá-lo em outra moeda, onde as taxas de juros são maiores.
Já o fluxo de capital para companhias de valor, em meio ao temor inicial com a alta de juros nos Estados Unidos, trouxe vários aportes para ações brasileiras, com investidores procurando companhias consolidadas ao invés das que apresentam potencial de crescimento (abaladas por conta da perspectiva de alta dos juros).
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A B3, então, registrava forte entrada de capital estrangeiro diariamente. Mesmo com a piora do cenário, até o dia 28 de junho o saldo anual era positivo em R$ 53,8 bilhões.
Com o fortalecimento dos lockdowns na China e com o crescimento da perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) teria de ser mais agressivo do que o esperado, aumentando as chances de uma recessão global, no entanto, as coisas começaram a mudar.
“Começaram a ser feitas revisões de crescimento em caráter mundial. Isso pressionou o preço das commodities, o que fez o real voltar ao patamar mais próximo que era visto antes de todos esses eventos”, explica Velloni. “Além disso, a possibilidade de uma recessão aumenta o chamado risk off, com investidores procurando segurança”.
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Após ter praticamente apenas caído nos quatro primeiros meses do ano, se estabelecendo por volta dos R$ 4,70, o dólar saltou de R$ 4,70 para R$ 5,15 entre o final de abril e os primeiros dez dias de maio. Voltou a recuar para algo próximo a R$ 4,75 no fim do quinto mês do ano para, em junho, ganhar tendência altista – fechando o semestre negociado a R$ 5,25. Apenas no último mês do semestre, a alta foi de 10%.
Recentemente, pesaram também as novas ameaças fiscais (agora praticamente já estabelecidas) que apareceram no Brasil, aumentando o temor de que o país não conseguirá, no futuro, arcar com seus compromissos financeiros – o credit defaiçt swap (CDS) brasileiro no último mês subiu 31,13%, chegando a 291,10, no maior nível desde abril de 2020.
No último dia de junho, o Senado aprovou a chamada PEC dos Auxílios, que liberou R$ 41,2 bilhões fora do teto de gastos. A medida tem ainda de ser aprovada na Câmara dos Deputados, mas o esperado é que ela passe.
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“O câmbio caiu para R$ 4,70 com ampliação do diferencial de juros para algo próximo a 9%. Mas, novamente, o medo do fiscal e a inflação americana de junho acima do previsto, junto com um discurso mais duro do Fed, fizeram o dólar subir para R$ 5,25”, diz José Faria Júnior, sócio da Wagner Investimentos.
No segundo semestre, Fed continua sendo principal trigger para câmbio
Para Faria Junior, nos seis meses que faltam para encerrar 2022, a atenção dos operadores de câmbio estará focada, principalmente, em falas de dirigentes do Federal Reserve e nas decisões dessa instituição.
“O principal trigger do real atualmente é o juro americano. O valor das commodities também pesa, mas a correlação mais próxima foi perdida durante a pandemia da Covid-19”, contextualiza o especialista da Wagner Investimentos.
A percepção é que, a partir do meio de agosto, a volatilidade voltará a ganhar força quando o assunto são divisas.
“Há muitas incertezas por aí que só serão dissipadas quando o Fed provar que conseguirá controlar a inflação com algo entre 3,5% e 4%, ou quando ele falhar”, diz. “Se as recentes altas de juros, bem como a de julho, ainda para sair, mostrarem que estão surtindo efeito, sem necessidade de mais agressividade fora a já precificada na curva, isso será bom para o real”.
Para ele, porém, o provável é que a inflação não ceda, isso porque, grande parte do avanço dos custos, se dá por problemas de oferta, com falhas nas cadeias de produção globais. “Acho que o dólar tem espaço para cair no curto prazo, mas não estamos otimistas a partir de meados de agosto em diante”, pontua.
O dólar começa o segundo semestre posicionado em meio a uma balança controlada pelo Federal Reserve. No caso de a instituição monetária americana elevar os juros para acima do esperado, o provável é que a divisa ganhe força; caso contrário, ele deve se enfraquecer.
Investidores devem acompanhar de perto ainda os dados macroeconômicos que influenciam nas decisões de diretores da instituição monetária americana: Payroll, PMIs, inflação, PIB – essas publicações, que sempre alteram a dinâmica do câmbio, devem ganhar ainda mais relevância.
Ricardo Cará, head de multimercados da EQI Asset, vai no mesmo caminho. “Com o Fed sendo mais hawkish, a tendência é que a diferença entre as taxas de juros seja favorável ao dólar”, afirma. “Há a expectativa de que o Fed continuará subindo juros, combatendo a inflação a todo custo. A minha sensação é que eles irão errar para mais e não para menos, pois estão mais comprometidos com o controle de preços do que com a atividade econômica”.
Fora o Fed, se uma recessão se confirmar, o especialista ainda levanta que isso deve pressionar ainda mais os preços das commodities e aumentar a aversão ao risco, o que também deve pressionar o real – mais um motivo, então, para monitorar os dados macroeconômicos de perto.
Política também no radar
Além do Fed, o cenário interno também deve continuar a fazer peso na relação entre dólar e real.
“Vejo a eleição como uma variável de menor impacto no câmbio, devido ao contexto mundial. Dificilmente sairemos do cenário atual, polarizado, e o mercado, ao menos em parte, já conhece bem a cabeça dos dois principais candidatos”, defende Cará. “Não vejo muitas surpresas possíveis nessa frente”.
Fabrizio Velloni afirma que espera um cenário conturbado, com o mercado de olho nos programas de governo, “entendendo o que cada candidato quer fazer”.
José Faria Júnior, por fim, vai na mesma linha, destacando que aguarda, principalmente, a decisão da equipe econômica do ex-presidente Lula, atual primeiro colocado na corrida ao Palácio do Planalto.
“Se o Lula escolher ir por uma linha mais desenvolvimentista, com um ministro que gosta de gastar, a única solução será subir juros, para compensar o maior risco fiscal”, afirma. “Recentemente as ameaças nessa frente já aumentaram consideravelmente. Apesar de o governo atual afirmar que são medidas temporárias, duvido que, no futuro, alguém irá retirar os auxílios. Se houver mais gastos, o jeito será utilizar ferramentas monetárias”.
No lado positivo, ao menos no curto prazo, a visão é que o pior parece ter já passado.
José Faria Júnior vê que em seu atual nível, o câmbio precifica uma série de notícias ruins, com o tom hawkish do Fed e as bombas fiscais já englobadas no preço atual do dólar.
“Já colocaram R$ 40 bilhões na PEC, já teve o tom hawkish do Fed e a Bolsa já caiu para 98 mil pontos. Mesmo assim, o real está resistindo”, diz Faria Junior. “A pergunta que fica é: qual notícia muito ruim teremos no curto prazo capaz de impactar o câmbio? Eu acho que já temos muita coisa ruim precificada”.
Cará, por sua vez, pontua que atualmente o mercado brasileiro está mais protegido, com empresas desalavancadas, sem muita dívida em dólar e sem necessidade de buscar por hedge – o que, no passado recente, pressionou o real, com o Banco Central sendo obrigado a realizar leilões de swap.
“Lá fora, o DXY já está na máxima em anos. Tudo isso vem sendo colocado no preço há um bom tempo. Já há essa expectativa ancorada”, comenta. “Não acho que temos espaço para grandes rallis ou quedas”, completa.
Em relatório, o Bradesco BBI destacou que o real não está “caro”, mas não vê nenhuma razão importante que guie uma valorização da moeda brasileira no curto prazo, mesmo com as taxas de juros básicas locais no atual nível de 13,25%, considerado alto.
Os economistas do banco destacam que, recentemente, o real tem sido negociado a patamares mais baixos em meio a uma política fiscal mais incerta. Isso tanto pelos eventos de curto prazo, como redução de impostos e novos programas de auxílio, quanto pela incerteza sobre o cenário eleitoral. Desta forma, o BBI ajustou a sua projeção para o final de 2022 para o dólar de R$ 5 para R$ 5,20 (praticamente estável em relação ao fechamento da véspera) e de R$ 5,30 para R$ 5,40 (alta de 3% ante os patamares atuais).
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