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Novidades sobre a votação do arcabouço fiscal, anúncios sobre mudanças na política de preços da Petrobras (PETR3;PETR4), temores sobre o teto da dívida dos EUA.
Apesar de tantos acontecimentos, em boa parte do mês, o dólar tem fechado as sessões abaixo dos R$ 5 (mas não tão abaixo desse patamar), relativamente “comportado”, com leve baixa de 0,3% no mês e acumulando queda de cerca de 6% no ano. Nesta terça (23), o dólar comercial ficou estável, com variação positiva de 0,03% frente ao real, a R$ 4,972 na compra e na venda.
Mas a divisa americana seguirá abaixo de R$ 5? E, mais do que isso: ela tem espaço para cair mais?
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Analistas de mercado têm revisado constantemente para baixo as projeções para o dólar ao fim de 2023. Mas, ainda assim, veem o dólar acima de R$ 5 nos últimos dias do ano.
O último relatório Focus, com projeções de analistas de mercado para os principais indicadores da economia elaborado pelo Banco Central, com uma leve mudança de R$ 5,20 na semana anterior para R$ 5,15 no último levantamento, apontou o documento apresentado na última segunda-feira (22).
No início do mês, o Itaú havia revisado a sua projeção de taxa de câmbio em 2023 também para R$ 5,15 por dólar (anteriormente: R$ 5,30), e em 2024 para R$ 5,25 por dólar, ante visão anterior de R$ 5,40.
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“A revisão se dá pela estabilização no ambiente externo, em especial com a menor preocupação na margem com uma crise
bancária global, tal que o dólar pode ficar mais fraco até o final do ano”, apontaram os economistas. Segundo eles, na mesma direção, no mês de abril, houve também alguma queda no prêmio de risco doméstico, principalmente após a divulgação do novo arcabouço fiscal.
“Para que a melhora seja duradoura, consideramos importante que a meta de inflação seja mantida, que as medidas de aumento de receita anunciadas pelo governo sigam avançando e que novos compromissos de elevação de despesas sejam
evitados”, apontam.
Mas há quem veja que outros fatores como preponderantes para o dólar estar abaixo de R$ 5.
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Em recente análise, Lívio Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE, apontou que, no último dia 16, quando o dólar teve forte alta de 1,12% (ainda assim, mantendo-se abaixo dos R$ 5), um dos dias de movimento mais forte de maio, um fator que movimentou o câmbio foi a frustração do mercado ao ver os dados de alta frequência da atividade chinesa para o mês de abril. “Esse movimento foi observado no mundo todo, e mais intensamente nas economias emergentes com maior relação comercial com a China”, afirmou.
Ribeiro ressalta que, em se tratando de câmbio a maior parte da atenção deve ficar concentrada no cenário externo.
“Quando o tema é analisar a dinâmica cambial, temos um ‘cacoete’ de superestimar a importância das variáveis domésticas, e não é assim. No comportamento da moeda, o mundo é quem determina; a dinâmica doméstica só tempera”, ilustra.
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E, nesse caso, Ribeiro diz que o próximo mês será ditado por dois vetores antagônicos. O primeiro, é o comportamento da economia chinesa e seu efeito especialmente nas economias mais dependentes da exportação de commodities.
“A segunda frente são as dúvidas sobre o comportamento relativo da dinâmica monetária de Estados Unidos e Europa”, afirma, citando os diferentes estágios de ambas as economias em seu trajeto de política monetária, com os Estados Unidos mais próximos de concluir o processo de alta dos juros básicos (ainda que com algumas divergências recentes no mercado).
“Quando observamos o comportamento recente do DXY, que é o dólar ante as principais moedas do mundo, existe claramente um espelho euro-dólar, com um alinhamento favorável ao enfraquecimento do dólar – o que tem ajudado as moedas de maneira geral”, diz. “Mas a evolução dessa dinâmica deverá ser reavaliada com a próxima rodada de discussão de política monetária pelos bancos centrais – Fed e Banco Central Europeu -, em junho”, apontou o pesquisador do IBRE.
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Hideaki Iha, da Fair Corretora, explica, olhando para o cenário doméstico, que a perspectiva de aprovação do arcabouço fiscal nesta semana já está incorporada aos preços, mas acaba ajudando um pouco o movimento do real, em referência à possibilidade de que o plenário da Câmara dos Deputados vote o novo marco fiscal nesta semana.
Contudo, vê que o dólar se mantém abaixo de R$ 5,00 no curto prazo em razão da sazonalidade favorável para a balança comercial, com fluxo expressivo do agronegócio, e da perspectiva de manutenção da taxa real de juros ainda elevada, mesmo com sinais de melhora nas expectativas de inflação e perspectiva de corte da taxa Selic (atualmente a 13,75% ao ano) no segundo semestre.
Cabe ressaltar que ontem, pela manhã, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a redução das projeções para o IPCA em 2023 caíram “muito em função de preços de combustíveis”. Já as expectativas mais longas, para 2025 e 2026, seguem acima de 4% em razão das incertezas sobre a meta de inflação.
“Estamos na época forte de exportação de soja e o juro alto também ajuda. Mas não vejo o dólar se mantendo abaixo de R$ 5,00. O Fed não deve cortar os juros neste ano como parte do mercado espera, e pode até ser que haja uma alta em junho”, afirma Iha, ressaltando que houve também na segunda-feira declarações duras de dirigentes do BC americano sobre os juros.
O Citi, por sua vez, apontou que a nova âncora fiscal, prestes a ser aprovada no Congresso, ajudou a reduzir as incertezas. Assim, estima o câmbio a R$ 5,00 por dólar no curto prazo. Por outro lado, as incertezas domésticas devem ser retomadas parcialmente, com as negociações em torno da reforma tributária. A projeção é do dólar em torno de R$ 5,10 no horizonte de seis a 12 meses, de uma projeção anterior de R$ 5,20.
Já no início do mês, o Credit Suisse apontou que o dólar poderia ficar abaixo de R$ 5. “Notamos que o desempenho positivo deste ano reverteu apenas parcialmente a depreciação substancial que a moeda sofreu nos últimos anos”, avaliaram Solange Srour, Rafael Castilho e Francisco Lima Filho em nota.
O modelo do banco de projeção para o câmbio – baseado em diferenciais de taxas de juros, prêmios de risco, índices de inflação diferenciais e termos de troca – corrobora a avaliação de que o real tem mais espaço para subir. A previsão do modelo ficou em um dólar a R$ 4,82 no fim de abril.
(com informações da Reuters e do Estadão Conteúdo)