SÃO PAULO – O noticiário sobre a Eletrobras (ELET3;ELET6) tem sido movimentado nos últimos dias, com os desdobramentos sobre o plano de desestatização e as expectativas sobre a substituição do presidente da companhia. No início da semana, a estatal de energia adiou novamente a divulgação de seus resultados para o quarto trimestre de 2020, agora para a próxima sexta-feira (19), após o fechamento do mercado. O balanço estava previsto para a segunda-feira passada (15).
A Eletrobras havia decidido antecipar os resultados do exercício de 2020, em razão da data de saída do presidente Wilson Ferreira Júnior da companhia a partir de 16 de março de 2021. “Entretanto, dada a complexidade dos trabalhos de auditoria da Eletrobras que envolve a consolidação de diversas controladas, participação em coligadas e em sociedades de propósito específico, e especialmente devido às demandas adicionais de auditoria, surgidas no decorrer dos trabalhos, faz-se necessário novo adiamento”, aponta a empresa.
Cabe destacar que, durante esta semana, também houve a mudança, ainda que temporária, no comando da companhia. Desde terça-feira, Elvira Cavalcanti Presta, diretora financeira e de Relações com Investidores da companhia, ocupa a presidência da estatal de forma interina, após a saída do então CEO, Wilson Ferreira Junior, que foi para a BR Distribuidora (BRDT3).O conselho de administração da companhia designou Elvira para acumular os cargos até que seja concluído o processo de sucessão, um novo presidente seja eleito e haja posse efetiva no cargo.
Sobre o tema, Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia, afirmou na terça-feira que Jair Bolsonaro, presidente da República, tem participado de conversas para a definição de um novo presidente para a estatal.
“O presidente Bolsonaro está analisando alguns nomes e eu tenho conversado com ele, estou assessorando ele nesse sentido. E nós acreditamos que poderemos em breve anunciar o novo presidente da empresa”, disse Albuquerque, em entrevista à Band News.
O ministro acrescentou que a nova direção da Eletrobras deverá ser de “continuidade” e elogiou os executivos da empresa pelo que qualificou como uma gestão “excelente” da estatal. Questionado durante a entrevista, ele disse que não há uma preferência entre a escolha de um militar ou civil para o cargo.
Após o anúncio da saída de Ferreira, em 25 de janeiro, a Eletrobras disse que seu conselho aprovou a contratação de uma consultoria externa especializada em recrutamento de executivos “a fim de assessorar o colegiado no processo de seleção e eleição do novo presidente”.
De acordo com informações do Valor Econômico, a comissão interna de nomeação do novo CEO tem trabalhado com a consultoria de recrutamento Korn Ferry e já chegou a uma lista de cerca de seis nomes – metade nomes de mercado e metade de dentro da companhia. Afastando as especulações iniciais do mercado, o presidente do conselho, Ruy Schneider, não compõe essa lista, afirmaram duas fontes ao jornal.
Em meio a esse cenário de indefinições, uma boa notícia para as ações: o Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (CPPI) decidiu incluir a companhia no Programa Nacional de Desestatização (PND), com o início dos estudos técnicos. Assim, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) poderá começar as avaliações para aumento de capital, que diluirá a parte do governo, conforme autorizado pela Medida Provisória 1.031, de 23 de fevereiro.
A MP tem 120 dias para ser votada e aprovada pelo legislativo. O BNDES deve começar os estudos para o pagamento da concessão que têm previsão de conclusão até julho de 2021, o Tribunal de Contas da União (TCU) deve revisar os cálculos até novembro, enquanto o anúncio do aumento de capital deve ocorrer até dezembro.
O governo estima que a capitalização da Eletrobras vai gerar uma valorização de R$ 30 bilhões. A participação da União e do BNDES, hoje em 61%, será reduzida a 45%, e o valor de mercado da empresa deve aumentar de R$ 50 bilhões (em fevereiro de 2021) para R$ 140 bilhões após a capitalização.
O Credit Suisse apontou que a decisão de avançar com o processo de privatização é positiva para a empresa. Além disso, os primeiros passos também parecem abrir bons motivos para a discussão no Congresso.
De qualquer forma, a avaliação é de que ainda é preciso forte apoio político para que a proposta seja aprovada: “o governo já enfrentou dificuldades com a privatização e, consequentemente, acreditamos ser importante ter uma visão mais clara da opinião do Congresso sobre esta nova Medida Provisória”.
Leia mais: Quais são os obstáculos para a privatização da Eletrobras?
Também deve-se destacar que é preciso ter conhecimento sobre os termos finais do pagamento da taxa de concessão e os poderes da “golden share” (classe especial de ações que permite ao governo poder de veto em decisões estratégicas mesmo não sendo mais o controlador) para que os acionistas minoritários tenham mais visibilidade sobre o potencial de ganhos com os papéis.
Em avaliação anterior do Goldman Sachs, o cenário de análise pós-capitalização (desestatização) sugere um valor hipotético no intervalo entre R$ 58,30 e R$ 91,30 reais por ação para ELET3 (ações ordinárias) e entre R$ 63,80 e R$ 100,20 por ação para ELET6. Contudo, destaca o banco americano, “há potenciais desafios para a aprovação da proposta, especialmente uma vez que a companhia ainda não tem um novo CEO indicado”. O Itaú BBA avalia que o papel ELET3 pode valer R$ 64 se a estatal for privatizada, uma alta de quase 94% frente o último fechamento.
Ao falarem sobre o processo de sucessão, os analistas do Credit apontam que Elvira Presta como presidente temporária da companhia é um desdobramento positivo. Além disso, destacaram os analistas, se o seu nome for confirmado para o período de aumento de capital, esse também seria um bom resultado: “isso dado seu conhecimento sobre a tese de investimento e abordagem pró-mercado, podendo contribuir com os passos iniciais na discussão do aumento de capital”, diz o relatório.
Mesmo com as recentes boas notícias, dado o cenário de incerteza, os analistas ainda têm cautela com os papéis. A recomendação para os ativos ELET6 é neutra, com preço-alvo de R$ 32 (valor 4,85% menor frente o fechamento da véspera), enquanto que, para os papéis ELET3, a recomendação é underperform, com preço-alvo de R$ 28,30 (valor 14% abaixo em relação ao fechamento da véspera). As ações registram alta na tarde desta quarta-feira após um início de sessão volátil, com os papéis ELET3 subindo 1,61%, a R$ 33,55, enquanto ELET6 avançava 1,78%, a R$ 34,23, às 15h23 (horário de Brasília).
Otimismo
Enquanto o Credit Suisse está cauteloso, Kaique Vasconcellos, sócio da Helius Capital e que cobre as ações do setor de energia elétrica há mais de 12 anos, destaca ver chances maiores de a privatização andar no cenário atual.
“Em 2017, houve uma primeira tentativa no governo Temer e depois teve um projeto de lei que ficou parado na Câmara por algum tempo. Hoje, há um alinhamento mais claro de interesses entre políticos, sociedade e investidores e, com esse alinhamento, há mais possibilidade de sucesso da privatização”, afirmou.
Vasconcellos acrescentou que as falas recentes dos presidentes do Congresso dando sinalização favorável ao processo de capitalização da Eletrobras também corroboram com a sua visão. “A gente sabe também que os políticos mudam de ideia todo dia, mas foi um sinal muito positivo, tanto o [Arthur] Lira [presidente da Câmara] quanto o [Rodrigo] Pacheco [presidente do Senado] demonstrarem que há, sim, algum apoio para essa privatização acontecer. Agora a questão é monitorar se os alinhamentos continuam no mesmo caminho.”
(Com informações da Reuters e Estadão Conteúdo)
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