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Evento bastante esperado pelos investidores, a Eletrobras (ELET3;ELET6) realizou na última quarta-feira (1) seu primeiro Investor Day após a privatização, de forma a alinhar as expectativas do mercado e trazer os próximos passos.
Os cerca de treze meses após a privatização da companhia foram frustrantes para parte dos investidores, conforme destaca a Eleven Financial, dada a lenta velocidade em que o processo de turnaround (virada) tem acontecido, além do ruído político de contestação do processo de capitalização que atrapalharam a performance da ação nos últimos meses.
Nesse contexto, analistas de diversas casas saíram do evento reforçando uma visão positiva para o papel, apesar do pós-privatização relativamente decepcionante.
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“Como os executivos da Eletrobras bem explicaram, ajustar a rota de uma empresa que se enquadra como a maior empresa de energia da América Latina e segunda maior empresa de energia renovável do mundo leva tempo”, destaca Bruno Vidal, analista da Eleven.
O analista ressaltou os principais pontos do evento, destacados abaixo:
Comercialização de energia
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Pelos próximos anos o portfólio de geração da Eletrobras ficará cada vez mais descontratado, chegando a 54% em 2027. Isso significa que a maior parte da energia gerada pela empresa ficará suscetível aos preços de energia do mercado spot (à vista), que hoje estão no mínimo regulatório de R$ 69/MWh (megawatt/hora).
Esse preço atual é explicado por um conjunto de fatores, incluindo hidrologia favorável, expansão da oferta de energia renovável intermitente, e avanço da geração distribuída.
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A maior parte dos investidores perpetua uma curva de preços de energia de longo prazo em níveis baixos, assumindo como premissa a permanência dessas condições atuais, o que piora a percepção de risco e valor da Eletrobras pelo mercado. Para reduzir essa sensibilidade, a companhia obteve a autorização da Aneel para atuar como agente comercializador de energia elétrica na CCEE.
“Essa autorização é importantíssima, pois agora possuem uma estrutura de comercialização centralizada, onde vão acessar uma base cada vez maior de clientes com a abertura do mercado livre prevista pelos próximos anos aos consumidores de menor porte, e vão poder avaliar os riscos de crédito desses consumidores de forma mais assertiva”, cita Vidal.
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Além disso, a receita de comercialização será incluída dentro da Holding, onde possuem R$15 bilhões em créditos fiscais que vão passar a utilizar.
Eficiência operacional
Os executivos vêm tomando uma série de iniciativas para aumentar a eficiência operacional da companhia como um todo.
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Para as despesas operacionais, traçaram um benchmark com base em outros concorrentes do setor, onde enxergam um espaço para reduzir 42% dessas despesas atuais e planejam executar essa redução até o final de 2026. Parte desse avanço ocorre com o segundo PDV (programa de demissão voluntária), que teve ampla adesão.
Além disso, houve redução expressiva do custo médio de pessoal. Outro avanço operacional mencionado é a venda de participações em empresas não estratégicas e simplificação de participações em SPEs (Sociedades de Propósito Específico) através de suas aquisições, passando a inclui-las dentro de suas subsidiárias. Além disso, também estão fazendo a otimização de capex (despesas de capital) através de renegociação com fornecedores.
Empréstimos compulsórios
A redução do saldo provisionado atual de R$ 24,3 bilhões de empréstimos compulsórios pode gerar muito valor pelos próximos anos, destacaram os executivos no evento.
A Eleven cita que são mais de 3500 ações judiciais que somam esse valor e, para tanto, a empresa contratou dois escritórios de advocacia para auxiliar nas negociações e redução dessas provisões. Antes, quando a empresa era estatal, esse processo de negociação era muito complicado e burocrático, pois abria espaço para contestação. Desde o 3T22, já reduziram R$1,5 bilhão dessas provisões, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Alocação de capital
A Eletrobras é uma enorme geradora de caixa, e com todos esses ganhos de eficiência previstos, aumentará ainda mais a importância de alocação de capital para o case, ressalta a Eleven.
O banco lembra que, no primeiro leilão de transmissão do ano, realizado em junho, a companhia mostrou sua responsabilidade nesse sentido, respeitando seus níveis de retorno mínimos exigidos, e acabou ganhando um dos lotes com uma TIR(Taxa Interna de Retorno) real implícita em torno de 12% nas nossas contas.
“Haverá mais dois leilões de transmissão até 2024, com R$ 35 bilhões de capex previsto, sendo uma enorme oportunidade para a Eletrobras alocar seu capital”, cita a Eleven.
Além disso, possuem uma série de investimentos a serem feitos em geração, incluindo renovação de suas usinas hidrelétricas, projetos de energia renovável não convencional, e produção de hidrogênio verde. Também estão avaliando a venda de suas termelétricas para atender o compromisso de zerar a emissão de carbono da empresa como um todo.
Questões regulatórias
Algumas questões regulatórias também geraram ruído nos últimos meses e contribuíram para a performance negativa da ação.
Em primeiro lugar, as ADIs (ação direta de inconstitucionalidade) questionando o processo de capitalização da empresa e o limite de 10% de voto, em que a Eleven enxerga um risco baixo de alteração, e alguns rumores indicam que esse assunto está sendo pacificado com a entrega de três assentos no conselho para o governo.
Já o segundo ponto é o pedido de reperfilamento do componente financeiro da RBSE que está sendo tratado pela Aneel e deve ser concluído nos próximos meses, não deve ser negativo como o esperado anteriormente pelo mercado e consideram possível a manutenção do método de amortização até o final do pagamento.
A empresa também espera conclusão do orçamento de Angra III agora em julho, depois terão a aprovação da tarifa que deve respeitar a modelagem do BNDES. No radar, está ainda a dívida da Amazonas Energia, em que a Eletrobras possui um crédito a receber de R$ 7,7 bilhões; a Aneel está discutindo a transferência de controle dessa distribuidora como parte do processo de reestruturação, devem apresentar o plano esse mês.
O que sinaliza sobre ações?
O Itaú BBA, após o evento, destacou ter ficado impressionado com a qualidade da equipe contratada, que apresentou uma estratégia coesa que acredita que irá criar valor. Os analistas do banco reiteraram recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente á compra), com preço-alvo de R$ R$ 61,60 para os papéis ELET3, ou um potencial de alta de 59% em relação ao fechamento da véspera.
O Bank of America, em relatório chamado “Mapeando a estrada brilhante à frente”, reiterou recomendação de compra para as ações ELET3 com um preço-alvo menor, de R$ 50, ou potencial de alta de 30%. Os analistas avaliam que gostaram da maioria dos detalhes apresentados, como: 1) liquidações de empréstimos compulsórios mais rápidas do que o esperado, 2) eficiências fiscais, 3) capex de transmissão acretivo e não competitivo.
“Notavelmente, o potencial de corte de custos não atendeu às nossas expectativas em magnitude (42% contra 50% esperados) e ritmo (4 anos contra 3 anos), mas achamos que estávamos no limite superior das expectativas. No geral, estimamos um impacto nulo em nosso caso-base. Vemos o valuation como atrativo e esperamos que a execução do plano de recuperação gere uma reclassificação dos ativos”, diz o BofA.
O Credit Suisse, por sua vez, reforçou recomendação outperform para os ativos ELET6, com preço-alvo de R$ 54 (upside de 26%).
“Saímos do Investor Day com uma visão positiva da empresa, conforme divulgado pelo
plano estratégico e com realizações que refletem os esforços de recuperação implementados pela nova
gestão. De qualquer forma, continuaremos monitorando a real aderência do desempenho ao
plano e os desdobramentos de outros temas relevantes para a ação (RBSE, Angra 3, Amazonas
Energia e ações judiciais do governo”, aponta.
Para o Morgan Stanley, a empresa traçou o que acredita ser um roteiro claro de criação de valor, dividindo as complexidades e a grande escala da corporação em iniciativas gerenciáveis e em diferentes frentes.
“Após uma sequência de adições à equipe de gestão, a Eletrobras é atualmente capaz de gerenciar diferentes projetos importantes em paralelo, incluindo melhoria operacional, crescimento, gestão de passivos, discussões regulatórias, entre outros”, avalia.
A Eleven reiterou recomendação de compra para ELET6 com preço-alvo de R$ 79 (upside de 84%), mas ressaltando trabalhar na atualização do modelo.