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O mercado esperava por uma estagnação, mas o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro não veio exatamente no “zero a zero” como o consenso projetava: a economia teve uma leve contração, de 0,1%, no terceiro trimestre de 2021, comparando com o trimestre anterior.
No entanto, o problema é que o desempenho do PIB entre abril e junho deste ano também foi negativo em 0,1%. Sendo assim, teoricamente, entramos em recessão técnica.
Seguindo a terminologia econômica, isso significa que o país entrou em uma recessão técnica, uma vez que houve queda do PIB em dois períodos seguidos.
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“Por outro lado, se compararmos com o mesmo período do ano passado, houve um crescimento de 4% – algo totalmente esperado, dado o auge da crise pandêmica em 2020”, explica Rachel Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, em relatório divulgado após a publicação do dado.
Essa sutil diferença de desempenho entre os trimestres, porém, foi o suficiente para dividir a opinião dos analistas.
Uma parte acha que um décimo percentual não é suficiente para dizer que o resultado foi pior que o esperado. Já outros, tomam um dado como um sinal de piora na economia e nas perspectivas, tanto para o final do ano quanto em 2022.
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Serviços não compensou
A equipe da Rico acreditava que a performance positiva do setor de serviços compensaria a queda já esperada da produção industrial e agropecuária, fazendo com que o PIB viesse estável, mas não negativo.
Porém, por conta da quebra de safras agrícolas, como milho, cana de açúcar, algodão e café, além da atividade pecuária, o agro despencou 8% no período.
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Ainda de acordo com a análise de Rachel Sá, o consumo de serviços, que por muito tempo foi trocado por consumo de bens, diante das restrições de mobilidade, voltou a crescer de fato. Porém, do lado da demanda, o consumo das famílias poderia ter crescido ainda mais.
“O resultado já sinalizou os impactos da inflação alta no poder de compra das famílias, pois a expansão do consumo poderia ter sido maior”, escreveu a economista, acrescentando que, com base nos novos dados, o PIB anual avançar mais próximo a 4,5% em 2021, abaixo dos 5% de alta previstos anteriormente.
“E não devemos esperar crescimento (ao menos elevado) em 2022. Com juros em alta para controlar a inflação, incerteza política e desafios ainda grandes no cenário internacional (especialmente com escassez de produtos e altos preços), a nossa economia deve seguir próxima da estabilidade no próximo ano”, afirmou Rachel.
Relatório assinado por Rodolfo Margato, economista da XP, também ressalta que o PIB “frágil” do Brasil no terceiro trimestre refletiu o aumento da inflação, além de restrições de oferta na indústria e um tombo da produção agrícola.
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A XP projetava estabilidade em comparação ao segundo trimestre de 2021 e uma alta de 4,2% na comparação anual. Margato também nota que a recuperação do consumo também teria sido mais intensa, não fosse o aumento da inflação no período.
“Por ora, vemos a atividade doméstica crescendo moderadamente no quarto trimestre deste ano (0,3% ante o terceiro trimestre de 2021; 1,3% ante o quarto trimestre de 2020)”, escreve Margato.
A XP prevê PIB em alta de 4,5% ao final de 2021 e de 0,8% para 2022, mas com viés de baixa.
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No relatório da CM Capital, os analistas afirmam que o resultado foi pior que o esperado pelo mercado, pois ainda que próximo das previsões, o PIB veio negativo. Para eles, o setor agropecuário decepcionou bastante e o resultado da indústria foi nulo.
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Portanto, a composição da oferta teve uma piora considerável, ainda que o setor de serviços tenha apresentado uma aceleração sob a ótica da demanda.
“Esse resultado traz uma perspectiva muito ruim para o crescimento da atividade econômica para o final de 2021 e, principalmente, para 2022. Levando em consideração o horizonte relevante da política monetária e a evolução no quadro inflacionário, que hoje está em 10,67%, esperamos um efeito negativo não apenas na atividade doméstica em 2021, mas, também, para 2022, que pode, inclusive, apresentar queda no PIB”, diz o relatório.
Investimentos com o novo PIB
Do ponto de visto do investidor pessoa física, a economista Rachel Sá acredita que a queda de 0,1% do PIB no terceiro trimestre não deve ter grandes impactos na estratégia de investimentos, nem nos mercados brasileiros.
“Não porque os movimentos da economia medidos pelo PIB não tenham impacto nas ações de empresas listadas na bolsa ou no mercado de renda fixa e outros ativos financeiros, mas principalmente porque a divulgação do resultado é muito mais um olhar no retrovisor”, afirma.
Mesmo sendo um quadro de recessão técnica, o resultado não foi exatamente surpreendente e, quando é assim, os números costumam trazer um recorte dos últimos meses, confirmando expectativas sobre o estado da economia.
“Assim, o cenário indicado para os investimentos nesse momento segue o mesmo: bastante cautela por conta de incertezas no palco político-fiscal doméstico e internacionais (variante Ômicron, alta de juros esperada nos Estados Unidos), atenção aos juros em elevação e diversificação entre classes de ativos e geografias”, diz Rachel.
Para ela, investimentos como títulos de renda fixa indexada à inflação, fundos imobiliários e ações de empresas com fundamentos sólidos seguem boas pedidas, assim como veículos para investimentos internacionais, como BDRs (ações de empresas estrangeiras listadas na B3) e ETFs (fundos negociados na bolsa, que replicam índices).
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