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A “proposta não solicitada” de Elon Musk para comprar 100% do Twitter (TWTR34) e fechar o capital da empresa mexeu com os mercados nesta quinta-feira (14), tanto pela agressividade das palavras e da tentativa de “takeover” quanto pelas consequências que o negócio pode ter.
Analistas consultados pelo InfoMoney dizem que ainda há muitas questões em aberto, mas já começam a traçar alguns cenários: mesmo sendo a pessoa mais rica do mundo, de onde Musk tiraria cerca de US$ 40 bilhões para comprar o restante do Twitter? Como funcionaria a liberdade de expressão e a regulação na rede social?
Veja abaixo as principais questões sobre o negócio:
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- De onde Musk vai tirar o dinheiro?
- A proposta é boa? Ela pode ser recusada?
- Foi uma oferta hostil ou agressiva?
- Quais são as alternativas para o Twitter?
- Como ficaria a regulação sobre a empresa?
- Como ficaria a liberdade de expressão?
1. De onde Musk vai tirar o dinheiro?
A proposta de Elon Musk avaliou o Twitter em mais de US$ 43 bilhões (cerca de R$ 200 bilhões na cotação atual). Como já tem 9,2% de participação na empresa, faltariam cerca de US$ 40 bilhões pelo restante.
O fundador da Tesla e da SpaceX é atualmente o homem mais rico do mundo e tem uma fortuna estimada em US$ 219 bilhões, segundo a Forbes. Mas grande parte desse valor está atrelado à sua participação na Tesla e na SpaceX (que não é uma empresa listada e, portanto, não tem liquidez.
Na proposta protocolada na SEC (Securities and Exchange Commission, a CVM americana) e na carta enviada ao presidente do Twitter, Bret Taylor, Musk afirmou que estava oferecendo “a compra de 100% do Twitter por US$ 54,20 por ação em dinheiro”.
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“Ele teria de vender uma fatia considerável da Tesla pra comprar o Twitter”, pondera Roberto Attuch, fundador da OHM Research. “Mesmo para uma pessoa do tamanho dele é muito difícil conseguir esse dinheiro”.
Além disso, caso venha a vender suas ações da montadora de carros elétricos, os papéis poderiam sofrer forte desvalorização.
Dan Ives, diretor administrativo e analista sênior de ações da Wedbush, afirmou à Forbes que o motivo da queda nas ações da Tesla hoje é claro: “Wall Street está preocupado com a distração de Musk e ele colocando ações da Tesla como apoio financeiro para levantar dinheiro para a proposta ao Twitter”.
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A Forbes estima que Musk tenha menos de US$ 2 bilhões em caixa atualmente, após ter vendido mais de US$ 16 bilhões em ações da Tesla no final do ano passado e pagar US$ 2,6 bilhões para adquirir sua participação no Twitter no início de 2022.
Uma análise do jornal “Financial Times” também pondera que “uma questão intrigante é onde Musk vai encontrar o dinheiro”. O artigo diz que ele já gastou US$ 2,6 bilhões comprando seus 9% da empresa direto no mercado, mas para chegar a 100% o cenário é diferente. “A probabilidade de Musk em breve possuir zero por cento do Twitter é tão alta quanto ele eventualmente possuir todo o negócio”.
2. A proposta é boa? Ela pode ser recusada?
Musk afirmou que a proposta representa “um prêmio de 54% sobre o dia anterior ao meu investimento no Twitter e um prêmio de 38% sobre o dia anterior ao anúncio público do meu investimento”, mas analistas ponderam que a empresa pode estar subavaliada.
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O valor de US$ 54,20 por ação da empresa está abaixo do pico atingido em 26 de fevereiro de 2021 (US$ 77). Os papéis chegaram a subir 12% nas negociações de pré-mercado hoje, após a divulgação da proposta, mas passaram a operar perto da estabilidade na NYSE (New York Stock Exchange) a partir das 11h30.
Além disso, o príncipe saudita Alwaleed Bin Talal Alsaud, o segundo maior acionista da rede social, já disse que vai rejeitar a oferta. “Não acredito que a oferta proposta pelo Elon Musk (US$ 54,20) chegue perto do valor intrínseco do Twitter dadas suas perspectivas de crescimento”.
3. Foi uma oferta hostil ou agressiva?
O fundador da Tesla e da SpaceX afirmou na carta enviada ao presidente do Twitter, Bret Taylor, que a proposta era sua “melhor e última oferta”. “Se não for aceita, precisarei reconsiderar minha posição como acionista.”
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James Cramer, apresentador do programa Mad Money na CNBC e âncora do Squawk on the Street, afirmou na rede de televisão americana que o Conselho de Administração do Twitter “não tem outra opção” a não ser rejeitar a proposta, devido à sua agressividade.
“Melhor e última oferta’ significa que não há negociação, e Bret Taylor representa os acionistas. Ele não não pode fazer isso. Ele não pode simplesmente dizer. ‘OK, nós aceitamos [a proposta]’. Isso não é justo com os acionistas”, afirmou Cramer.
“Eu não ouvi ninguém defender que os acionistas precisam ser protegidos do Elon. Ele não pode furtar a companhia, mesmo que ache que tem uma ideia melhor”, disse o apresentador. “Ele não está comprando uma casa”.
4. Quais são as alternativas para o Twitter?
Para José Augusto Albino, sócio-fundador da Catarina Capital, o Conselho de Administração do Twitter têm agora duas opções: ou a empresa busca outro comprador, com uma oferta melhor, ou simplesmente não aceita a investida de Musk.
Em ambos os casos haverá consequências, como “fazer uma série de reestruturações com o objetivo de trazer no longo prazo um valor maior que US$ 54 por ação [o valor da proposta de Musk]”, diz Albino.
“A partir de agora não tem como: ou a empresa se vende para o Musk ou um terceiro, ou então vai precisar apresentar para o mercado um plano arrojado, muito diferente do que está fazendo”, afirma o sócio-fundador da Catarina Capital.
“Será difícil qualquer outra proposta surgir, e o conselho do Twitter será forçado a aceitar essa oferta e/ou executar um processo ativo para vender o Twitter”, escreveu a um cliente Daniel Ives, analista da Wedbush Securities, segundo a agência de notícias Reuters.
Após a divulgação da proposta, no entanto, Justin Sun, fundador de uma empresa de criptoativos chamada Tron, disse também no Twitter que oferecia US$ 60 por ação para comprar a rede social. Sun disse que a empresa “está longe de liberar todo o seu potencial”, mas não disse de onde sairia o dinheiro.
5. Como ficaria a regulação sobre a empresa?
Howard Fischer, sócio do escritório de advocacia Moses & Singer e ex-advogado sênior de julgamento da SEC, afirmou à Reuters que os “desentendimentos anteriores” de Musk “com os reguladores podem não representar um obstáculo” para a compra do Twitter.
Mas Dan Lane, analista da Freetrade, disse ao jornal britânico “The Guardian” que a SEC pode não aceitar a tentativa de compra. “Espalhar as sementes da defesa da ‘liberdade de expressão’ é uma coisa. Mas não vamos esquecer, a visão de Elon de simplesmente expressar sua opinião foi vista como imprudente pelos reguladores no passado”.
Lane também pondera que o próprio uso da plataforma por Musk pode afetar a companhia em si, devido ao escrutínio da SEC. “Isso não é algo que a empresa vai querer pairando sobre ela.”
Roberto Attuch, da OHM Research, acredita que o problema maior do Twitter seria com a regulação de conteúdo, não de mercado. “Com a regulação de mercado ele vai ter menos problema, mas a regulação do ponto de vista de mídia ele vai continuar tendo”, afirma Attuch. “Se fechar o capital a regulação que diminui é só financeira. Mas a regulação que importa, neste caso, não é tanto ela. É a do setor de mídia”.
John C. Coffee Jr., professor da Columbia Law School, disse que à Forbes que Musk “planeja mudar fundamentalmente sua estratégia de negócios” da rede social e que, por isso, “ficaria ansioso com a aquisição se fosse um acionista da Tesla”.
“Musk já possui duas empresas que o consomem e o Twitter seria mais do que um investimento para ele; seria um brinquedo que tomaria muito do seu tempo”, pondera o professor.
6. Como ficaria a liberdade de expressão?
Musk afirmou na carta ao presidente do Twitter que empresa precisa fechar capital porque “não pode prosperar nem servir” à liberdade de expressão em sua forma atual. “O Twitter precisa ser transformado como uma empresa privada”.
“Investi no Twitter porque acredito em seu potencial de ser a plataforma para a liberdade de expressão em todo o mundo e acredito que a liberdade de expressão é um imperativo social para uma democracia em funcionamento”, afirmou o bilionário. Ele termina o documento dizendo que “o Twitter tem um potencial extraordinário” e vai “desbloqueá-lo”.
O artigo do “Financial Times” diz que “Musk é um empresário notável”, mas destaca que “sua hostilidade à moderação vigorosa pode resultar em um uso ainda maior do site por grupos marginais”. “Isso pode ser ruim para o debate civilizado – e o modelo de negócios instável do Twitter”.
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