Entrevista: Mercado não vê potencial da folha dos servidores, diz Nossa Caixa

Presidente da instituição atribuiu queda nas ações "às conclusões enviesadas de alguns analistas de mercado e jornalistas"

Equipe InfoMoney

Publicidade

SÃO PAULO – A queda próxima de 30% das ações do Banco Nossa Caixa em 2007 é, em parte, atribuída às conclusões precipitadas de alguns analistas de mercado e jornalistas em relação à aquisição da folha de pagamentos dos servidores do Estado de São Paulo.

Esta é a visão do presidente da instituição, Milton Luiz de Melo Santos. Em entrevista à InfoMoney, Santos explica que o mercado ainda não avaliou o potencial dos 1,1 milhão de servidores, que juntos recebem R$ 2,380 bilhões todos os meses.

O executivo não descarta a possibilidade de novos contratos com o governo paulista, nega que o banco tenha a estratégia de crescimento ligada a fusões ou aquisições de outras instituições e diz que pretende focar ainda mais nas operações de crédito. Confira a seguir os principais pontos da entrevista:

Continua depois da publicidade

InfoMoney – Alguns analistas reduziram significativamente o preço-alvo das ações da Nossa Caixa depois da notícia do contrato de exclusividade de prestação de serviços relacionados à folha de pagamento dos servidores públicos estaduais. Qual a percepção do banco frente às diversas avaliações negativas por parte de analistas de mercado?

Milton Luiz de Melo Santos – O Banco Nossa Caixa tem 28,75% de suas ações ordinárias em circulação. Quando da oferta pública inicial que resultou na abertura de capital do Banco, as ações foram vendidas ao preço de R$ 31,00.

Com a evolução dos negócios e os bons resultados apresentados pelo Banco Nossa Caixa, no exercício de 2005 e nos primeiros trimestres de 2006, o preço das ações chegou a R$ 52,00 e, posteriormente, se manteve na faixa de valores entre R$ 47,00 e R$ 50,00.

No início de 2007, o preço das ações se manteve estável até meados de fevereiro, quando o Banco divulgou o resultado do exercício de 2006.

A partir daí verificou-se o início de uma tendência de queda, causada em parte pelo lucro líquido abaixo do que era esperado pelos analistas de mercado e, posteriormente, pela crise que afetou grande parte das bolsas de valores do mundo e, principalmente, das ações de empresas de mercados emergentes. Nessa ocasião, o preço das ações do Banco Nossa Caixa atingiu valores entre R$ 36,90 e 40,65, fatores normais na rotina de uma companhia aberta.

Continua depois da publicidade

A queda verificada, após a divulgação do Fato Relevante sobre a formalização do contrato firmado entre o Banco Nossa Caixa e a Fazenda do Estado de São Paulo, pode ser atribuída, em parte, às conclusões enviesadas de alguns analistas de mercado e jornalistas que consideraram somente o impacto da despesa pelo pagamento pela prestação de serviços relacionados à folha de pagamento dos servidores públicos estaduais e, deixaram de mensurar o potencial de geração de receitas desta base de 1,1 milhão de clientes.

“Deixaram de mensurar o potencial de geração de receitas desta base de 1,1 milhão de clientes”

O Banco Nossa Caixa não tem controle sobre esse tipo de repercussão, cabe ao banco dar transparência de suas operações e esclarecer o mercado sobre fatos que possam impactar suas operações futuras, isso o banco fez e continuará fazendo.

IM – Qual a motivação do banco na operação, uma vez que essa deverá se traduzir em impactos negativos significativos sobre seus resultados futuros, como mostraram diversos analistas?

Santos – Houve uma alteração importante nas regras referentes à prestação de serviços sobre as folhas de pagamento, em decorrência do disposto nas Resoluções nºs 3.402 e 3.424/2006 do Conselho Monetário Nacional que instituíram a conta salário e determinaram a data de 2 de abril de 2007 para a vigência desse instrumento, com exceção prevista para o caso de empregados do setor público, quando amparado por contrato firmado nos termos da Lei 8.666/1993.

Como proprietário da folha de pagamento, o Estado decidiu oferecer prioritariamente a venda da exclusividade da prestação de serviços ao Banco Nossa Caixa, em conformidade com a Lei 8666/1993. Por conhecer o potencial desses clientes, o banco se interessou pela compra e avaliou as condições sob os aspectos jurídicos, econômicos e financeiros.

Continua depois da publicidade

A operação foi submetida ao Conselho de Administração, que analisou as condições propostas e delegou à Diretoria Executiva a decisão sobre a formalização do contrato, desde que o valor a ser celebrado não ultrapassasse o limite de 10% do valor obtido pela metodologia interna adotada pelas instituições em mais de uma centena de transações semelhantes a essa.

“Esses clientes representam grande oportunidade para o Banco Nossa Caixa alavancar suas receitas”

Ressalte-se que a decisão do Conselho contou com o voto favorável do conselheiro representante dos acionistas minoritários. Igualmente importante é o fato de que os conselheiros ligados às entidades que fazem parte do contrato se abstiveram de votar.

Esses clientes representam grande oportunidade para o Banco Nossa Caixa alavancar suas receitas. São 1,1 milhão de servidores estaduais que, juntos, recebem R$ 2,380 bilhões mensalmente, quantia relativa a seus salários.

Continua depois da publicidade

IM – Qual seria o impacto caso o contrato ficasse em mãos de uma instituição concorrente?

Santos – Caso o Banco Nossa Caixa declinasse da proposta recebida, o Estado poderia optar pela realização de um processo público de licitação aberto (leilão) para a alienação da exclusividade na prestação dos serviços relacionados à folha de pagamento.

Se a exclusividade dos serviços sobre a folha de pagamento dos servidores estaduais ficasse com outra instituição, o Banco Nossa Caixa teria uma grande perda competitiva frente ao mercado, pois perderia cerca de 20% de sua base de clientes pessoas físicas, que oferece ao Banco Nossa Caixa alto potencial de alavancagem de receitas.

Para se ter uma idéia, a carteira de crédito consignado destinada a esse público, representava, em dezembro de 2006, antes da migração da totalidade da prestação de serviços sobre a folha de pagamento dos servidores estaduais, cerca de 50% do total das operações de crédito a pessoas físicas.

“Se a exclusividade dos serviços ficasse com outra instituição, o Banco teria uma grande perda competitiva”

Além disso, o Banco Nossa Caixa efetuou, nos últimos anos, investimentos consideráveis em sua rede de agências e em pessoal para recepcionar, com eficiência, estes clientes.

Continua depois da publicidade

A perda da exclusividade na prestação de tais serviços representaria para o Banco Nossa Caixa a necessidade de uma revisão geral em sua estrutura operacional e em seu modelo de negócio, ou seja, redução de agências e de pessoal e, com certeza o Banco perderia grande fonte de obtenção de resultados.

IM – Quais as expectativas da Nossa Caixa em relação à operação? Ou, alternativamente, quais as projeções do banco para os resultados decorrentes da operação?

Santos – As expectativas são as melhores possíveis, já que o potencial destes clientes é alto e o contrato aumentou a probabilidade de torná-los fiéis ao banco. Não queremos somente fazer os pagamentos dos proventos deste público. Já estão em curso ações com o objetivo de sedimentar essa fidelidade.

O foco dos negócios do Banco Nossa Caixa está centrado no atendimento às pessoas físicas, área em que temos expertise, atendimento eficiente e um amplo leque de produtos e serviços bancários a oferecer.

IM – Qual será a estratégia adotada pela Nossa Caixa para extrair valor da operação?

Santos – Nos últimos anos, o Banco Nossa Caixa trabalhou com o objetivo de oferecer serviços à totalidade dos servidores públicos estaduais.

O banco não teria investido nesse negócio se não acreditasse no potencial que oferece para seu crescimento e fortalecimento no mercado. O crédito mensal de salários e proventos dos servidores estaduais soma R$ 2,38 bilhões. Em cinco anos, prazo do contrato que acabamos de firmar, serão R$ 13 bilhões.

Como meta, para compensar o impacto pago pela folha, o banco, está concentrando todos seus esforços para aumentar as operações de crédito a todos os clientes.

“Caso haja novas oportunidades, realizaremos novos contratos”

Esse empenho também inclui a expansão das carteiras de crédito imobiliário e rural e a ampliação dos créditos direcionados a pessoas jurídicas. Paralelamente ao incremento das operações de crédito, adotamos diretrizes para reduzir despesas.

IM – Existe a possibilidade de novos contratos nessa linha com outras esferas de governo, prefeituras no estado de São Paulo?

Santos – Esse tipo de operação é comum na atuação do Banco Nossa Caixa, que contabiliza em seu portfólio outros 131 contratos de prestação de serviços relacionados às folhas de pagamento de prefeituras do Estado de São Paulo, formalizados, desde fevereiro de 2005, em condições semelhantes a esta que acabamos de formalizar com o Estado e sob o amparo da lei 8.666/1993.

Caso haja novas oportunidades, a realizaremos novos contratos.

IM – O guidance da Nossa Caixa indica um ROE (Return on Equity) entre 17% e 18% ao ano. Como o banco planeja atingir esse nível de rentabilidade?

Santos – O Banco Nossa Caixa está finalizando a revisão orçamentária e tem por meta atingir um ROE em torno de 17%. Sabemos tratar-se de um grande desafio, mas estamos certos de que temos um grande potencial a ser explorado.

Não estamos nos referindo somente aos servidores públicos estaduais, mas também aos nossos outros 4,3 milhões de clientes. A todos eles, ofereceremos o maior número de produtos e serviços e trabalharemos com maior agressividade no segmento de pessoas jurídicas, em especial, junto à pequenas e médias empresas.

IM – Em 2006 o lucro líquido do banco recuou expressivamente frente a 2005, sendo que parte desse recuo se deu em função da redução da taxa básica de juro. Dado que as taxas de juros devem continuar caindo neste ano, ainda que em ritmo menos acelerado, qual a estratégia da Nossa Caixa para compensar a possível perda na margem de intermediação financeira?

Santos – Faz parte de nossa estratégia alterar a composição dos ativos, e, portanto migrar parte das aplicações em TVM para operações de crédito, área em que há espaço para crescer muito.

O índice de Basiléia da Nossa Caixa era de 23,4% em dezembro de 2006, índice que referenda a possibilidade de expansão dessas operações. Simultaneamente, trabalharemos com afinco a meta que visa aumentar a utilização dos produtos e serviços do banco por nossos clientes.

Qual o posicionamento da Nossa Caixa diante das aquisições e fusões que vêm ocorrendo no setor bancário brasileiro, em que os grandes bancos vêm consolidando cada vez mais sua posição de liderança no mercado?

“A ocorrência dessas fusões nos impõe desafios ainda maiores para ampliarmos nossa competitividade no mercado”

Santos – As últimas aquisições e fusões estão diretamente relacionadas à estabilidade da economia brasileira e à alta liquidez do mercado internacional. Os grandes bancos são conhecedores do alto potencial de negócios que este mercado pode proporcionar.

A ocorrência dessas fusões nos impõe desafios ainda maiores para ampliarmos nossa competitividade no mercado. Competitividade é sempre saudável para todos os players e resulta em melhor atendimento aos clientes de um modo geral.

IM – A Nossa Caixa planeja expandir sua carteira e participação no mercado através da aquisição de bancos menores, a exemplo do que tem sido feito pelos bancos líderes de mercado?

Santos – Não. O Banco Nossa Caixa é a sexta maior rede de atendimento, algo que nos permite continuar expandindo nossas operações sem que, para isso, seja necessário adquirir outros bancos.

IM – A Nossa Caixa ainda é um banco majoritariamente estatal e, por vezes, essa condição preocupa alguns investidores. Qual a preocupação (ou política) do banco no que se refere à transparência, governança corporativa e gestão voltada para a geração de valor para o acionista?

Santos – O Banco Nossa Caixa adota e prima pelas melhores práticas de Governança Corporativa desde a abertura de seu capital e da adesão ao Novo Mercado da Bovespa, ocorrida em outubro de 2005.

Cabe ainda salientar que a administração deste banco é composta por profissionais experientes e independentes que conduzem suas atividades com transparência; respeito e proteção ao direito dos acionistas minoritários; busca permanente de maximização dos resultados e, conseqüentemente, do melhor retorno dos investimentos feitos pelos acionistas.

IM -De tempos em tempos, há rumores no mercado de que o free float do banco será aumentado, de maneira que o Estado de São Paulo deixará de ser o acionista majoritário do banco. Esses rumores têm algum fundamento?

Santos – A Lei Estadual 10.853/2001 autoriza o Governo do Estado de São Paulo a alienar até 49% das ações do capital social do Banco Nossa Caixa. Qualquer mudança no que diz respeito a isso exige apreciação e aprovação por parte da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

(Colaboraram Juliana Farias e Camila Schoti)

XP

Invista até R$ 80 mil no novo CDB 150% do CDI da XP; condição inédita.

Abra a sua conta gratuita na XP para aproveitar