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SÃO PAULO – Após meses de intensa especulação e polêmica, o governo norte-americano assumiu as agências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac no dia 8 de setembro de 2008, exatamente uma semana antes do que viria a ser o dia do caos generalizado para os mercados dentro da atual crise.
Ao assumir as agências, as autoridades passavam uma clara mensagem: iriam evitar que os problemas de alguma instituição financeira ameaçassem o sistema como um todo. A notícia recaiu como um alívio sobre os mercados, que abriram aquela segunda-feira (8/9/2008) como ânimo extra. Os principais índices acionários de Wall Street subiram mais de 2%.
Para o quarto maior banco de investimentos dos EUA, o recado estava dado. Apesar dos reconhecidos problemas, o Lehman Brothers não ficaria na mão. “O que mais me recordo é de ir trabalhar naquela segunda-feira em que o governo resgatou a Fannie Mae durante o final de semana e ver o mercado subir e as ações do Lehman começarem a se recuperar e, de uma hora para outra, irem de US$ 20 a US$ 3 no restante da semana”.
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Os relatos que acompanham a retrospectiva da última semana do banco são de Barbara Byrne, vice-chairman do Lehman na época, extraídos de entrevista à Fortune TV.
Entre expectativas e protocolo
A queda das ações relatada por Barbara começou na terça-feira (9/9/2008) seguinte. Os rumores indicavam que o Korea Development Bank, até então em negociações para adquirir parte do Lehman, havia recuado.
“Entramos naquela última semana acreditando que haveria alguma transação, algo iria ocorrer. Seja com o Bank of America, que líamos a respeito, com o Barclays ou com outro consórcio”. Além da garantia do governo por trás, havia esperança de que o banco fosse adquirido. Não faltavam interessados.
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Enquanto a quarta-feira (10/9/2008) trazia uma prévia de resultados desapontadora, com perdas de US$ 3,9 bilhões da instituição apenas no terceiro trimestre daquele ano, seus funcionários conviviam entre expectativas e o habitual protocolo.
Chamas em volta
“Tentávamos fazer diversas coisas para organizar o Lehman, fizemos uma infinidade de coisas diferentes, mas ao mesmo tempo tínhamos de cumprir a rotina regular de trabalho, enquanto o mundo estava em chamas à nossa volta”, revelou Barbara.
Estas “diversas coisas” faziam parte de um complexo plano de reestruturação anunciado na quinta-feira (11/9/2008), que incluía o leilão de metade de sua divisão de gestão de ativos. O banco buscava mais tempo. Mal sabia que estava diante de seu penúltimo dia útil.
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A outra história
“Depois daquela semana, nós sabíamos que alguma coisa grande iria acontecer com o Lehman Brothers. Mas nunca me passou pela cabeça que iríamos entrar com pedido de falência no final daquela semana”.
Este trecho da entrevista de Barbara Byrne à Fortune antecipa os fatos. Da quinta-feira ao domingo, o mercado traçava diversos planos para o futuro do banco, todos passando por alguma fusão ou pela mão firme do governo norte-americano. Mas apesar das semelhanças com Bear Stears e Fannie Mae, a história do Lehman seria diferente.
“Foi uma semana muito difícil. O mais difícil acredito que foi o domingo, quando soubemos que o banco havia entrado em processo de falência. O pessoal começou a empacotar as coisas, (…), cheguei a perguntar se viriam trabalhar na segunda-feira. Houve uma mudança imensa e abrupta, entre existir e não existir”.
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15/9
Na segunda-feira (15/9/2008), o Lehman deixou de existir. A notícia caiu como uma bomba nos mercados, provavelmente no dia de maior pânico que esta crise deixou. Além da queda de um gigante do setor financeiro, as manchetes traziam a compra da Merrill Lynch pelo Bank of America, os bancos centrais anunciando mais uma injeção de liquidez e a seguradora AIG declarando que necessitava de capital.
Dá para recordar do título de um relatório da consultoria First Trust Advisors: “não há espaço suficiente na primeira página dos jornais do país para todas as notícias de hoje”. Era 15 de setembro de 2008, agora data histórica.
O estouro do balão
“Provavelmente meus filhos escreverão sobre o que aconteceu com o Lehman. Permitindo a quebra de uma instituição de importância crucial para o sistema, foi criado um risco sistêmico maciço. Muitos argumentam que havia muito risco em todo o sistema, e havia mesmo. Mas você estoura o balão ou deixa o balão esvaziar aos poucos?”, pergunta a vice-chairman.
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“O pessoal amava o Lehman, eu amava o Lehman. Por semanas depois da quebra, me fez sentir como se algo tivesse morrido, algo que havia ajudado a construir, durante 28 anos, minha carreira toda. A imprensa tratava o Lehman como algo terrível… Eu tentei separar o lado profissional de estar no Lehman, do que estava acontecendo com meus amigos”.
Os últimos dias de vida do quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos revelam contornos trágicos. Como uma prévia do que viria depois.