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SÃO PAULO – O sistema financeiro europeu revelou-se em melhor forma do que muitos esperavam: de 91 instituições, apenas sete foram reprovadas nos testes de estresse conduzidos pela Comissão Europeia. Mas, no mercado, a sensação maior ante o resultado não é de otimismo, mas sim de ceticismo.
No começo da tarde desta sexta-feira (23), o CEBS (Comitê de Supervisores Bancários Europeu) revelou o desempenho obtido nos testes de estresse, com sete instituições reprovadas: o Hypo Real State na Alemanha, o ATEBank da Grécia e outros cinco bancos de pequeno porte espanhóis. Juntas, tais instituições mostraram um déficit de capital de € 3,5 bilhões.
Entretanto, logo foi divulgado o resultado, falhas já começaram a ser apontadas por diversos analistas, para quem a metodologia dos testes teria sido pouco rigorosa e eficiente para apontar a real saúde do sistema financeiro europeu. Para muitos, os testes de estresse podem justamente não ter sido nada estressantes.
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“Maior credibilidade teria sido alcançada se os testes tivessem apontado um maior número de reprovações ou uma necessidade de captação de capital maior”, disse Jon Peace, analista da Nomura International, à rede de notícias Bloomberg.
A falha
As condições de estresse às quais as instituições financeiras foram submetidas levaram em conta complicações em diversos aspectos, desde reduções em até quadro degraus nos ratings dos produtos de dívida securitizada e uma desvalorização de 20% nos papéis das companhias europeias em 2010 e 2011; até cenários macroeconômicos adversos, como forte queda no PIB (Produto Interno Bruto) na região por dois anos.
Para muitos, no entanto, os testes apresentam uma falha estrutural importante: eles levam em conta apenas as perdas que as instituições teriam com títulos soberanos em negociação, que constam em seus livros de ofertas, desconsiderando desta forma títulos que seriam mantidos em tesouraria até seus vencimentos.
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Analistas são categóricos ao apontarem tal falha, uma vez que, no caso de muitas instituições, a maioria dos títulos de dívida que possuem está justamente em tesouraria. Excluí-los dos testes, portanto, mina totalmente a credibilidade do resultado e mascara uma situação financeira positiva que talvez não seja totalmente verdadeira.
Uma instituição financeira que possua uma significativa fatia de títulos em notas de dívida da Grécia, por exemplo, pode ter passado nos testes sem grandes problemas; mas em um eventual cenário de default grego, ela certamente sofreria com enormes perdas. “Os tão aguardados testes não foram nada estressantes” resume Gary Jenkins, analista da Evolution Securities, em afirmação destacada pela Bloomberg.
Reação oficial
Reagindo às críticas, autoridades oficiais europeias reafirmaram sua crença na validade do resultado obtido com os testes de estresse, sem, no entanto, ater-se aos detalhes apontados pelos analistas. A ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, por exemplo, veio a público dizer que os testes foram “rigorosos e abrangentes”, e rebateu argumentos dos analistas dizendo que o baixo número de reprovações atesta a saúde dos bancos europeus, e não uma falta de credibilidade da proposta.