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As incertezas sobre o controle da inflação, resultando em aperto monetário mais longo, somadas à retração do mercado após o escândalo da Americanas (AMER3) indicam uma deterioração na saúde financeira das grandes empresas mais ao longo de 2023, na visão do banco de investimentos BR Partners (BRBI11).
“As empresas ‘queimaram gordura’ obtida em 2020/21 neste ciclo de aumento de juros realizado no ano passado. E a continuidade do aperto [monetário] em 2023 vai começar a ‘machucar’ mais os balanços”, indica Vinicius Carmona, diretor de relações com os investidores do banco.
Carmona lembra que o custo da dívida para as companhias chega a níveis proibitivos, em torno de 20% ao ano, no atual momento. Na outra ponta, os investidores fecham o bolso à espera de sinalizações mais claras da política fiscal do novo governo – em que as estocadas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nada ajudam a estimular novos investimentos.
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“O empresário trava grandes aportes neste cenário de incerteza. Eles vão ‘empurrando com a barriga’ o que podem. Obviamente, que o que for urgente ele vai fazer, mas o apetite é bem menor”, ressalta o executivo.
Se o bolso para investir está restrito, as reestruturações de empresas devem ganhar espaço neste ano, na esteira do Caso Americanas. Muitas empresas começam a buscar assessoria para melhorar seu perfil de dívida e alongar os prazos de pagamento. Prova disso é que nesta semana a Marisa (AMAR3) contratou o próprio BR Partners para reequilibrar seu endividamento, estimado em torno de R$ 600 milhões.
Essa readequação também pode estimular um mercado de fusões e aquisições (M&A, em inglês), uma vez que a ponta compradora está com maior poder de barganha tanto para movimentos de consolidação como para absorver ativos de empresas que vão precisar se desfazer deles para melhorar sua alavancagem.
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“Muitas empresas enfrentam um dilema, ou terão que se desalavancar saindo de ativos non-core, se fundir a outras do mesmo segmento ou serem vendidas por completo”, analisa Vinicius Carmona.
A necessidade de reestruturação de dívidas, emissões pontuais e M&As estratégicos devem ser as alavancas do BR Partners em 2023. Em um contexto que sinaliza uma quantidade menor de operações no ano, o banco buscará obter margens mais competitivas para assegurar um desempenho financeiro sólido.
“Nosso pipeline está melhor que o do ano passado, mas muita coisa está travada. A nossa visão é que o mercado volta a andar no começo do segundo trimestre, passado o susto da Americanas, especialmente para emissão de dívida. Para equity [IPOs, mercado em que o BR Partners não atua] deve demorar um pouco mais”, indica Carmona.
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Resiliência em 2022
Fugir desses maremotos tem sido a especialidade do BR Partners desde o início do ciclo de aperto monetário no Brasil, na avaliação de Vinicius Carmona. De uma taxa Selic de 2% ao ano no começo de 2021, o mercado viu o índice chegar aos atuais 13,75% ao ano, com uma perspectiva de que isso perdure ao longo do ano.
O cenário, em tese, afetaria diretamente o modelo de negócios do banco, que é baseado na emissão de dívidas de empresas, reestruturação financeira e assessoramento de M&As.
Porém, em um ano sem ofertas públicas iniciais de ações (IPO, em inglês), o mercado de emissões atingiu o recorde de R$ 457 bilhões em 2022, com crescimento de 6,6% sobre o ano anterior, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Somente em debêntures, foram R$ 271 bilhões – resultado também recorde.
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Sob este cenário, o BR Partners conseguiu abocanhar R$ 5,7 bilhões na estruturação de emissões e garantiu mais um ano lucrativo. Em 2022, o banco registrou lucro líquido 6% maior do que o observado no ano anterior, para R$ 147,1 milhões. A receita avançou 13% no mesmo comparativo, chegando a R$ 413,5 milhões.
O retorno sobre patrimônio (ROE) do BR Partners ficou em 19%, com margem líquida de 36% e Índice de Basileia de 24% – este indicador mede a saúde financeira de um banco, em que acima de 11% é considerado positivo.
Para analistas da XP e do Itaú BBA, o resultado mostrou a “resiliência da operação”. “Apesar do trimestre difícil para seu segmento, a empresa conseguiu manter o ritmo. No geral, uma entrega decente para dias difíceis”, resumiu o BBA, que tem recomendação neutra para o papel; a XP recomenda compra. As duas instituições indicam um valor-justo de R$ 17 por unit.
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No trimestre encerrado em dezembro, o BR Partners registrou lucro líquido de R$ 33,8 milhões, montante 9% superior ao reportado no mesmo intervalo de 2021. A receita total foi de R$ 97,7 milhões no quarto trimestre de 2022, crescimento de 13% frente ao quarto trimestre de 2021.
Efeito Americanas
O escândalo contábil de R$ 20 bilhões na Americanas, que se traduziu na quarta maior recuperação judicial do país, ainda seguirá ecoando no mercado pelos próximos meses, reforça Carmona. Isso significa a exigência de margens maiores por parte dos investidores, deixando ainda mais caras as operações financeiras para empresários que já estão “apertados” pela Selic.
Carmona evitar dar opinião sobre o caso, mas o BR Partners, por meio do CEO Ricardo Lacerda, tem uma opinião mais vocal sobre o caso: uma “fraude colossal feita por uma quadrilha dentro da varejista”, conforme Lacerda disse ao jornal Folha de S. Paulo. O banco afirma não ter exposição de crédito à varejista.
“Foi um cisne negro que abala a confiança dos investidores. Resultado disso será uma maior seletividade e um consequente aumento de spread”, completa Carmona.
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