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SÃO PAULO – A discussão sobre uma possível bolha imobiliária em muitos países ganha forças, principalmente quando levamos em conta a opinião da imprensa internacional. E, neste cenário, o jornal Financial Times destaca os temores de que ela ocorra no Brasil, em um artigo chamado “Brazil housing bubble fears as economy teeters”.
Em matéria da última sexta-feira, o FT destacou os preços do setor imobiliário no Brasil, que registram forte alta mesmo em áreas periféricas, como na favela Nova Palestina, em São Paulo, um dos exemplos utilizados pela reportagem. Em apenas dois anos, o aluguel de uma das entrevistadas pelo jornal, moradora da Nova Palestina, favela na periferia de São Paulo, saltou de R$ 300 para R$ 500.
E lembra a visão de muitos economistas, incluindo o premiado com o Nobel de Economia de 2013, Robert Shiller, professor da Universidade de Yale, que vem alertando sobre uma bolha na maior economia da América Latina, onde os preços de casas triplicaram desde 2008.
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“As coisas não mudaram assim tão de repente para o Brasil que justificasse um aumento tão brusco dos preços”, avaliou Shiller que já destacou que, em sua viagem ao País no ano passado, sentiu-se como se estivesse nos EUA de 2005.
O Financial Times destaca ainda números de preços imobiliários computados através do índice Fipe-Zap. Os preços em São Paulo subiram 197% e os do Rio de Janeiro tiveram alta de 243% desde janeiro de 2008 o que, segundo um dos fundadores do índice, Eduardo Zylberstajn, significa uma elevação mais rápida do que durante a bolha imobiliária norte-americana.
Por outro lado, poucos preveem que o mercado brasileiro vá sofrer uma forte queda dos preços imobiliários como nos EUA – onde os preços reais das casas subiram muito antes de cair em mais de 40% em todo o país. “No entanto, qualquer declínio no mercado imobiliário coloca em perigo a economia já frágil do País, que é excessivamente dependente do consumo e já teria entrado em recessão técnica”, destaca o FT, citando analistas.
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O economista-chefe da Capital Economics, Neil Shearing, destaca que o mercado de imóveis pode estar sobrevalorizado em até 50%. Contudo, avalia também que os cálculos no Brasil são “mais arte do que uma ciência”. O índice Fipe-Zap tem apenas seis anos e cobriu inicialmente São Paulo e Rio de Janeiro, o que torna quase impossível estimar o valor justo de uma propriedade.
Shearing admite que há muitas razões pelas quais os preços dos imóveis subiram: um grande crescimento no Brasil ao longo das últimas décadas, que impulsionou os salários, as taxas de juros relativamente mais baixas e a maior concorrência do setor bancário vem impulsionando os custos dos empréstimos.
O Financial Times avalia ainda os dados de financiamento imobiliário, que subiu de 6,8% em 2012 para 8,2% no final do ano passado. Enquanto as taxas de juros devem aumentar nos próximos meses, os bancos estatais estão pressionados para manter os empréstimos a taxas baixas e assim estimular a economia.
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O assessor da Embraesp, consultoria de imóveis, Mauro Peixoto de Oliveira, afirmou que o risco de uma bolha imobiliária generalizada no País é baixo, dado o sistema bancário conservador. Contudo, e principalmente no mercado comercial, há “bolhas localizadas”.
Em 2010, quando a economia está se expandindo em 7,5% ao ano, a escassez de espaço de escritórios em cidades como São Paulo levou empresas de construção a planejar uma enxurrada de novos edifícios comerciais. Mas a construção esbarrou na burocracia labiríntica do Brasil e escassez de trabalhadores qualificados, em um momento em que a economia brasileira está em baixa. E os temores vêm aumentando.