Fuga de investidor externo acentua perdas nas ações com menor liquidez

Especialista acredita que movimento é injustificável, mas também inevitável; Totvs, BR Malls e Dasa foram penalizadas

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – A fuga dos investidores estrangeiros da Bovespa tem pressionado algumas ações, que tem registrado fortes recuos a despeito da ausência de fatores negativos que as pressionem. Assim como vimos com algumas ações no fechamento do último trimestre, a sessão desta terça-feira (4) mostrou quedas expressivas de papéis de empresas como Totvs (TOTS3, -6,40%, R$ 29,39), BR Malls (BRML3, -4,25%, R$ 17,80) e Dasa (DASA3, -4,15%, R$ 15,00), ao passo que o Ibovespa recuou apenas 0,21%

Apesar da ausência de fundamentos, essa desvalorização se deve à liquidação de posição de investidores institucionais e/ou clientes de grandes bancos de investimentos estrangeiros. No caso da Totvs, juntos quatro bancos estrangeiros venderam 362 mil ações a mais do que compraram, enquanto o Itaú BBA teve saldo negativo de 36.300 ações. BR Malls também explicitou esse movimento, tendo entre seus principais vendedores o Credit Suisse e o Goldman Sachs, que juntos venderam 1.483.000 ações a mais do que compraram. A mesma situação foi vista pela Dasa.

Com a falta de justificativas sólidas para essas quedas, esses investidores ancoram-se apenas no medo de um contágio da economia brasileira e perspectivas de maiores ganhos em investimentos mais seguros. “É muita aversão ao risco”, afirma Eduardo Machado, analista da Amaril Franklin.

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Ação menos líquida, cotação menos sólida
De certa forma, essa situação não se restringe às empresas mencionadas anteriormente, elas apenas foram as “escolhidas” do dia para apresentarem esse tipo de forte fuga. De forma geral, essa tendência tem se apresentado por toda a bolsa nacional já há algum tempo. “Na véspera, a JSL (JSLG3) já havia apresentado uma tendência assim, com queda de 9,09%“, lembra Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Corretora.

A baixa liquidez desse tipo de empresa é fator fundamental para que essas oscilações agressivas ocorram. Na tentativa de negociar a ação, ao seu atual preço, vários vendedores não encontrem respectivos compradores para tal, optando por reduzir o preço para encontrar a ponta disposta para isso. 

Dessa forma, empresas mais líquidas deverão sofrer menos com isso, embora registrem essa mesma tendência de queda mais diluída. “Empresas como Petrobras (PETR3, PETR4) e Vale (VALE3, VALE5) é só abaixar o preço um pouquinho que já tem comprador”, explica Cavalheiro. 

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E quando a pressão vendedora excede – em muito – a compradora, o caminho não é diferente. Machado lembra do ocorrido em agosto com a Marfrig (MRFG3), para exemplificar a situação, quando a saída de fundos alavancados na ação derrubou o preço em quase 50% em um único mês. “A empresa possuía poucos acionistas com grandes participações”, afirma.

Fugindo dos emergentes
Essa situação, porém, não é exclusividade brasileira: as bolsas em 2011 tem apresentado desempenho ruim de maneira geral. “Os números mostram que os investidores estrangeiros têm saído de bolsas”. Todavia, emergentes têm sido mais afetados por essa tendência do que os países desenvolvidos – enquanto o Ibovespa acumula recuo anual de 26,87% até o último fechamento, a queda do Dow Jones, um dos principais índices norte-americanos, é de apenas 6,64%.

Até os principais índices europeus, epicentro da crise, registram recuos inferiores ao brasileiro. O francês CAC 40 caiu 25,08% e o alemão DAX 30 recuou 24,55%. Já o londrino FTSE 100, fora da Zona do Euro, apresenta queda anual de apenas 16,20%. “Os dados dos fundos têm mostrado uma fuga especialmente dos emergentes”, lembra Cavalheiro.

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Embora exista essa tendência, é válido lembrar que essa crise até o momento, tem sido “exportada” ao mercado acionário brasileiro. “O investidor tem se pautado por conta do cenário internacional, temem que isso afete o mercado interno. E as medidas governamentais têm mostrado algum tipo de preocupação interna em relação a isso”, destaca Machado. 

Na avaliação do analista, essa situação tem gerado situações injustificáveis em alguns setores. “Os bancos têm sido penalizados por conta da situação europeia como os bancos europeus, mas eles não são expostos aos títulos de dívida problemáticos”, enfatiza Machado.

Mas para onde? 
Se até agora o movimento é de saída da bolsa, o dinheiro antes lá investido vai parar em algum lugar, e atualmente esse lugar tem sido a renda fixa, sobretudo, os Treasuries norte-americanos. “Os investidores estrangeiros têm levado o dinheiro para fora do País, para investimentos mais seguros”, destaca Cavalheiro. “Eles tendem a ter estratégias mais bruscas. O negocio dele é ajustar a carteira para o cenário que ele está projetando”, lembra.

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Machado lembra que outras opções também são visadas pelos estrangeiros, como commodities e moedas tidas como seguras, como o dólar e os francos suíços, um movimento diferente ao do investidor nacional. “Vemos nos últimos tempos uma busca por renda fixa, sobretudo o Tesouro Direto”, lembra o analista.

“Estamos em um movimento de muita indefinição, as coisas gravitam em torno da Europa agora, podemos ver o Ibovespa operar em patamares ainda menores, se a situação não for resolvida logo”, finaliza Cavalheiro. Assim, é bom o brasileiro se acostumar a ver a bolsa patinar durante esse período.

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