Gestora descredencia teste de estresse, e diz que pontos negativos se sobressaem

Justin Bisseker, analista da asset management inglesa Schroders, não vê resultados como confiáveis e critica metodologia

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Justin Bisseker, analista da asset management inglesa Schroders, que administra cerca de US$ 255 bilhões em ativos, fez uma crítica veemente aos resultados do teste de estresse dos bancos europeus divulgados nesta sexta-feira (23).

Na visão do analista, os critérios de avaliação do CEBS (Comitê de Supervisores Bancários Europeu) foram pouco rigorosos, principalmente quanto à exposição dos bancos frente aos títulos de dívida soberana.

Segundo Bisseker, o teste de estresse foi um exercício de auto-avaliação para os bancos, com exceção da Espanha, onde o banco central foi a fundo com os testes para prospectar o cenário mais próximo da realidade.

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Mais críticas do que benefícios
Como positivo, o analista da Schroders destaca a iniciativa da União Europeia de ao menos realizar e publicar ao mercado os testes. Outro fator importante foi à adaptação de cada cenário à realidade macroeconômica do país, para não haver discrepâncias na avaliação dos bancos, assim como a importância de revelar a necessidade de capitalização do setor financeiro europeu, caso os números fossem confiáveis.

Contudo, ressalta Bisseker, os pontos negativos se sobressaem em larga escala frente aos pontos positivos. O primeiro foi o tempo em que o teste de estresse foi rodado. Nos EUA, em 2009, o Tesouro norte-americano demorou dois meses para finalizar os testes, enquanto o CEBS levou cerca de duas semanas.

Em segundo lugar, o analista critica a metodologia para avaliar as perdas com títulos de dívida soberana. De acordo com o comunicado do CEBS, foram avaliados os riscos de mercado e crédito de cada instituição, incluindo a exposição aos títulos soberanos europeus.

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Método falho
De acordo com o analista, o método é falho por abrir brechas com relação à contabilidade das perdas com os títulos, pois não incluem títulos que os bancos carregarão até o vencimento, apenas que estão no livro de oferta. Ou seja, o risco de calote dos países europeus, principal preocupação do mercado este ano, não foi considerado na simulação.

Além disso, algumas dívidas estruturadas fundamentais dos bancos, como CDO (Collateralized debt obligations) e CLO (Collateralized Loan Obligation) – lastrado a títulos de renda fixa e hipotecários, respectivamente – não foram consideradas, explica Bisseker. Entretanto, a exposição das instituições a esse tipo de dívida deve ser elevada.

Para finalizar, Bisseker acredita que um capital ratio ‘Tier 1’ de 6% é muito generoso para avaliar a saúde financeira de um banco. O ideal, segundo o analista, seria a utilização de um ‘Core Tier 1’, que é muito mais credenciado entre os reguladores financeiros.