Gol (GOLL4) investe US$ 100 milhões da Abra em otimização da frota; confira mais destaques da tele de resultados

Analistas repercutem balanço e apontam que reestruturação da dívida e bons resultados operacionais colocam a companhia no caminho da estabilidade

Mitchel Diniz

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A injeção de capital acordada com a holding Abra, atual acionista controlador da Gol ([ativo=GOL]), colocou aproximadamente US$ 140 milhões no caixa da companhia durante o primeiro trimestre. A reestruturação da dívida da aérea foi um dos temas da teleconferência de resultados do primeiro trimestre (1T23) da companhia, divulgados hoje pela manhã.

O CEO Celso Ferrer explicou que, do total, US$ 40 milhões foram usados para cobrir os custos de emissão e US$ 100 milhões destinados a investimentos essenciais na frota da Gol.

“Peças de aeronaves, motores e tudo o que a gente precisa investir para garantir a nossa capacidade de operação para o ano e crescer no segundo semestre”, disse o CEO. “Com tudo o que o setor passou, precisamos religar todas as cadeias de crédito com os nossos fornecedores – tanto para trazer mais aviões para a operação, como para mantê-la mais fluida”.

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Segundo Mario Liao, diretor financeiro da Gol, os investimentos essenciais mantém o planejamento da frota dentro do guidance da companhia e os recursos também financiam parte do capex da companhia.

“Se a Gol entregar o Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] esperado, sobre mais recursos de geração de caixa livre”, explica Liao. “Foram recursos aplicados em investimentos que vão gerar retorno maior do que se tivesse aplicado em uma conta de investimento”.

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No acordo com a Abra, anunciado em fevereiro, a Gol reestruturou sua dívida cancelando uma parte dos títulos da companhia que venceriam entre 2024 e 2026 e emitindo US$ 1,4 bilhão de senior notes com vencimento em 2028.

Desoneração de combustível adicionou R$ 130 milhões às receitas do trimestre

A isenção de tributos federais sobre os combustíveis gerou um impacto positivo de receita da ordem de R$ 130 milhões para a Gol no primeiro trimestre de 2023. Ferrer explica que, por enquanto, o guidance não contempla a Medida Provisória aprovada ontem na Câmara dos Deputados, que pode prorrogar a desoneração até o final do ano.

No entanto, caso receba o aval do Senado, a Gol acredita que as projeções devem ser revistas para cima, levando em conta um adicional de R$ 500 milhões nas receitas da companhia só como efeito da isenção dos tributos.

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Programa Voa Brasil não pode canibalizar demanda, afirma CEO

Os executivos da Gol foram questionados por analistas e jornalistas a respeito do programa Voa Brasil, em desenvolvimento pelo governo federal, que prevê comercialização de passagens aéreas por até R$ 200. O CEO da Gol explicou que a empresa faz parte de um grupo de trabalho multidisciplinar para tratar do assunto e disse que a companhia é a favor da iniciativa, contanto que não haja “canibalização” da demanda atual.

“O importante do programa é que ele utilize momentos de baixa sazonalidade e dê acesso a clientes que não estão voando”, disse Ferrer, destacando que a Gol atualmente já oferece passagens por menos de R$ 200.

Segundo o executivo, é importante que o conceito de liberdade tarifária seja mantido e que haja alinhamento sobre os voos que serão alocados nessa tarifa especial, além de garantir que a oferta seja para CPFs que ainda não estão no sistema da companhia.

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“Vamos fazer checagem de CPF para ter certeza que não é um cliente que já está no nosso sistema, tentar ver se eles usam os programas do governo federal para fazer a triagem desses passageiros. O objetivo tanto nosso quanto do governo federal é incrementar, não canibalizar”, conclui Ferrer.

A ideia é ter o formato do programa definido até o final deste semestre e lançá-lo durante a baixa temporada, na segunda metade do ano.

Repercussão dos resultados

A aérea teve lucro líquido de R$ 619,5 milhões no primeiro trimestre, queda de 76,2% em relação aos R$ 2,6 bilhões de lucro registrados no mesmo período do ano passado. O número superou o consenso Refinitiv, que projetava uma cifra positiva de R$ 58,11 milhões.

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O Ebitda recorrente foi de R$ 1,24 bilhão no 1T23, avanço anual de 113,9% e considerado recorde, assim como geração de caixa operacional positiva devido ao maior volume operacional no trimestre, que possibilitou a redução acelerada da dívida, segundo a companhia.

Na avaliação do Bradesco BBI, a gestão disciplinada de capacidades e uma competição racional do setor sustentaram as tarifas da Gol em níveis recordes.

“Na nossa visão, a companhia vai aproveitar a racionalidade do mercado para recuperar sua rentabilidade em um ambiente de combustíveis com preço ainda elevados e reforçar seu balanço”, dizem os analistas do BBI.

Eles também observam que a companhia teve um alívio de caixa significativo no período, com liquidez total de R$ 4,4 bilhões. A dívida de curto prazo da companhia caiu de R$ 4,2 bilhões, no quarto trimestre, para R$ 1,3 bilhão.

Ainda assim, o BBI manteve classificação neutra para GOLL4, com preço-alvo de R$ 11, por acreditar que as margens da companhia permanecem pressionadas pelos preços dos combustíveis, volatilidade do câmbio e a inflação no Brasil.

“”Depois de três anos difíceis de perdas relacionadas à pandemia, o acordo sobre a dívida da Gol com a Abra e seu forte resultado operacional parece ter colocado a companhia em caminho mais estável”, escreveram os analistas do Citi.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados