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(Bloomberg) — Os agentes humanitários começaram a desconfiar dos migrantes que ficaram presos na Costa Rica quando muitos disseram que se chamavam Muhammad Ali, nome do ex-campeão de boxe. Depois, os tradutores enviados para ajudar as autoridades locais começaram a detectar algo errado nos sotaques deles.
Milhares de migrantes que afirmavam ser da África Ocidental que tem o francês como língua não eram o que pareciam; na verdade, vinham do Haiti, no Caribe. Sem poder sair da Costa Rica depois que a Nicarágua fechou suas fronteiras, os Muhammad Alis geraram a maior crise migratória do país da América Central desde os anos 1980.
“O francês que eles falavam não era o francês da África Ocidental. Eles falavam creole”, disse o presidente da Costa Rica, Luis Guillermo Solís, no centro internacional para acadêmicos Wilson Center, em Washington, em 22 de agosto. “Nós percebemos, então, que a maioria deles vinha do Haiti”.
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A crise econômica no Brasil e o fim das obras para a Olimpíada estão gerando uma consequência inesperada. Muitos dos 50.000 imigrantes haitianos que estavam no Brasil estão se dirigindo aos EUA em busca de emprego, disse Solís. O ministro de Relações Exteriores da Costa Rica, Manuel González, disse que muitos dos 2.000 migrantes que chegaram à Costa Rica diziam ter raízes africanas, em busca de condições mais favoráveis, acreditando que isso evitaria a deportação.
Os haitianos se instalaram no Brasil quando receberam residência especial após o terremoto de 2010, que devastou o país caribenho e matou cerca de 300.000 pessoas. Seis anos depois, muitos agora estão piorando a crise migratória na Costa Rica, que tem dificuldades para lidar com a maior chegada de pessoas desde as guerras civis que assolaram os países vizinhos durante a Guerra Fria.
Estável e relativamente abastada em uma região pobre e violenta, a Costa Rica tem enfrentado repetidas crise de imigração. Entre outubro de 2015 e março passado, cerca de 8.000 cubanos que rumavam para os EUA ficaram na Costa Rica depois que a Nicarágua fechou sua fronteira. Posteriormente, eles foram levados de avião para El Salvador e seguiram caminho para os EUA via México.
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O ministro das Comunicações da Costa Rica, Mauricio Herrera, disse que os haitianos buscam tratamento semelhante ao dado aos cubanos. Uma decisão da Corte Suprema da Costa Rica impede o país de deportar cubanos e Solís disse que tem sido difícil devolver os haitianos ao seu país de origem porque muitos não possuem documentos de identidade e porque o Haiti resiste em aceitá-los de volta.
Nos últimos dois anos, a Costa Rica também recebeu milhares de migrantes de El Salvador, Guatemala e Honduras que fugiam da violência e da pobreza em seus países.
“Eles estão fugindo de situações muito difíceis”, disse a vice-ministra de Governo, Carmen Muñoz, a uma comissão do Congresso neste mês. “Eles já não têm emprego e milhares estão migrando do Brasil para os EUA em busca de um futuro melhor”.